O
livro marcou-me pela intensidade da sua história e pela sua linguagem sem
filtros, forte e direta.
Na entrevista que se segue, a Catarina partilha algumas curiosidades sobre si e a sua vida enquanto escritora.
Como
é que a escrita entrou na tua vida?
CR:
A escrita entrou na minha vida muito cedo. Acho que, antes de saber escrever,
já escrevia. Em pequena, tinha o hábito de ficar horas e horas sozinha a
observar as pessoas, as ruas, o quotidiano e lembro-me que imaginava mil
histórias e pensava como seriam as suas vidas, os seus sonhos. Tinha nove anos
quando escrevi a primeira história. Era sobre amizade entre uma boneca japonesa
e um pessegueiro do quintal dos meus avós. Comecei a escrever histórias para os
entreter durante os serões. Depois, comecei a escrever na escola para os meus
colegas e professores. Sentia que as minhas histórias os divertia e emocionava.
Rapidamente percebi que escrever era o que me dava mais prazer. E comecei a
escrever a toda a hora e em todos os lugares.
Qual
o sentimento que te domina quando escreves?
CR:
Liberdade! Sem dúvida. A minha escrita é a minha voz. É o meu grito de
liberdade. É a escrever que me sinto real. É o meu elemento. É onde há espaço
para existir. Sem medo.
Tens
algum ritual de escrita?
CR:
Não tenho nenhum ritual específico. Como tenho uma vida profissional muito
agitada tenho pouco tempo para escrever. Escrevo sempre que encontro um bloco
livre: nas pausas de almoço, enquanto espero pelos transportes públicos, nos
transportes públicos. Escrevo muito à noite. Até altas horas da madrugada. É o
meu momento preferido: no silêncio da noite. É quando as ideias estão mais
vivas e fervilham. Gosto de sentir o papel. Mas a maioria das vezes escrevo no
computador ou no bloco de notas do telemóvel para o processo ser mais
eficiente. Há dias em que estou tão cansada e em que escrevo deitada na minha cama.
Mesmo cansada vale a pena. Escrever vale sempre a pena. Mesmo quando não
produzimos nada brilhante. Escrever é o que vale mais a pena e é o meu momento
preferido do dia. Um dia sem escrever – sabe a pouco.
A
escrita é para ti, uma necessidade ou um passatempo?
CR:
Uma necessidade, sem dúvida. É a fiel companheira de anos e anos. E foi ela que
me manteve viva em momentos mais difíceis. A escrita mostrou-me sempre o
caminho. Com a escrita sei que há sempre um caminho novo. Posso sempre
escrevê-lo. ;)
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Durante a leitura do teu primeiro romance «1001 Coisas Que Nunca Te Disse», perdura no leitor, a sensação de que há ali algum cunho pessoal. É verdade? Ou meramente ficção?
CR:
Há um grande cunho pessoal, sim. Tem muito de mim e da minha história. Comecei
a escrever o meu livro em 2013 após a rutura de um relacionamento. Foi muito
duro. Dos momentos mais difíceis da minha vida. Na altura, eram apenas cartas
que escrevia para ele e que um dia pensava em entregar-lhe. Mas depois o livro
ganhou outra dimensão. Deixou de ser a minha história e passou a ser a história
de outras mulheres. De várias mulheres. Mulheres que conheci em várias viagens
pelo Mundo e que me inspiraram. Quis dar-lhes voz na minha história e garantir
que não eram esquecidas. Esta história poderia ser a minha história. Ou a tua
história. Somos muito mais parecidos do que julgamos e estamos todos ligados.
Partilhamos histórias diferentes na mesma narrativa.
O
que gostarias de partilhar sobre o teu primeiro romance?
CR:
Foi uma experiência maravilhosa. Tudo. Desde a conceção da ideia, as longas
noites a escrever, o primeiro contacto com a minha editora, o trabalho que
fazemos em conjunto. É emocionante lembrar-me de tudo. Escrever um romance é um
caminho árduo e solitário. Cheio de aventuras. Altos e baixos e
questionamentos. Mas digo com a certeza absoluta que vale a pena. Vale a pena
cada minuto. Sinto-me viva e muito feliz por ver o meu livro publicado e nas
mãos de outras pessoas. É maravilhoso.
Além
da escrita, que outras paixões nutres, que te completam enquanto pessoa?
CR:
Para além da escrita, tenho o meu emprego a full time que também adoro e me
realiza. Trabalho como business analyst na área de tecnologias da informação.
Também sou formadora de soft-skills. Dou formações na minha empresa e em NGOS.
Adoro desenvolver pessoas e ajudá-las a tirar o máximo partido do seu
potencial. É isto que as soft-skills fazem. São skills transversais a
todas as áreas profissionais que permite as pessoas evoluírem, trabalharem em
equipa (o que é cada vez mais importante) e brilharem também
pessoalmente. É isto que me apaixona. Dou formações em tópicos como:
presentation skills, communication, feedback, time management, conflict
solving.
Sou
completamente viciada em artes aéreas e pratico Pole Dance e, ocasionalmente,
outros aéreos como a lira e o trapézio. Adoro. Sinto-me livre e viva. A vida é
muito mais interessante de cabeça para baixo. (risos)
Também
gosto muito de teatro, música e cinema. Pratiquei teatro durante muitos anos.
Quanto à música, sempre fui uma cana rachada. (risos)
Quais
os temas que gostas de abordar quando escreves?
CR:
O meu tema preferido é o universo feminino. Sem dúvida que é o que me apaixona
mais. Comportamento humano é o que mais me atrai e estimula. Falar de emoções,
sentimentos. Falar de dor como ferramenta de crescimento. De sonhos. Da coragem
de lutar. De liberdade no seu sentido mais puro e verdadeiro. Falar de temas
mais provocatórios e que, por vezes, nos incomodam como o perdão, a
reconstrução. De propósito e escolhas.
Tens
hábitos de leitura? Consideras importante ler para escrever bem?
CR:
Considero fundamental. É uma ferramenta de trabalho e de puro prazer. A leitura
inspira, abre portas para novas ideias e questionamentos. E é isso que um
escritor precisa. Esse estímulo que a leitura dá é delicioso. Durante a edição
do livro, estive muito tempo sem ler porque receei que pudesse ficar colada a
outras ideias. Agora é o que tenho mais vontade de fazer. Já tenho uma lista de
livros que me recomendaram ou chamaram a atenção para colocar em dia.
Se
só pudesses ler apenas um único livro para o resto da tua vida, qual seria o
“privilegiado”?
CR:
Tão difícil. Só posso mesmo escolher um? Seria possivelmente “O retrato de
Dorian Grey”, um dos meus livros preferidos. Se pudesse escolher um autor seria
o Kundera, sem dúvida.
Quais
as tuas perspetivas para o teu futuro enquanto autora?
CR:
Quero continuar a escrever. Muito, a toda a hora. Em todos os lugares! Viajar e
escrever é tudo o que eu preciso.
Pensas
em publicar um segundo livro?
CR:
Sim, espero vir a publicar muitos e muitos livros. Livros diferentes e ousados.
Que provoquem uma verdadeira revolução. Já tenho ideias para os próximos e já
comecei a escrever uns rascunhos para o segundo livro.
Apenas
numa palavra, descreve-te:
CR:
Coragem.
Obrigada
à Catarina Rodrigues pela sua simpatia e disponibilidade!
Faço votos de que
venham mais livros e o sucesso merecido!
Letícia
Brito
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