Neste romance de Mário Zambujal, Já Não se Escrevem Cartas de Amor, o autor leva-nos numa viagem muito interessante a uma Lisboa da década de 50, através do protagonista, Duarte.

Duarte está na casa dos setenta, e durante uma noite um tanto tempestuosa, mais propriamente entre as 17:35 e as 23:45, aguarda impaciente e preocupado o regresso da sua esposa, que se atrasa de uma ida a Lisboa. A identidade desta permanece oculta até ao final, o que nos mantém agarrados até à última página, bastante expetantes.

Através de um enredo muito simples, com uma linguagem escorreita, sem floreados e sem filtros, como o autor já nos habituou, somos guiados pela voz do protagonista ao longo das páginas, que nos conta a história, através dos seus pensamentos e memórias da juventude.

Um bon vivant, namoradeiro e com uma vida leve e sem preocupações, Duarte vê-se enleado na teia da austríaca Erika, por quem se enche de amores e com quem troca correspondência após a partida da mesma para a sua terra de origem, mas esta não é a única mulher da sua vida, entre as mulheres que o marcam, vamos conhecendo Nilinha, Nora, Cacilda, Débora e outras… Porém, quem é a sua esposa? Só na última página e já de regresso ao presente é que descobrimos por fim, quem conseguiu roubar o coração deste galã para sempre.

Dividido entre as noites nas boîtes de Lisboa, entre o glamour do Casino do Estoril e as tardes no Chave D’Ouro, esta prosa, rica em descrições e pormenores da capital na década de 50 são, sem dúvida, um dos pontos marcantes da obra.

Para além, da história central, temas como a política, o período de Salazar e até a PIDE são retratados nesta narrativa, o que confere à mesma, muita intensidade e fidedignidade.

É uma espécie de noveleta, que se lê de uma assentada e nos proporciona um momento muito agradável de leitura. 

Embora, eu seja suspeita, pelo meu fascínio pela década retratada, este é uma ótima opção de leitura.

Aproveitem para acederem ao mesmo no site da editora Clube do Autor (AQUI)– a quem aplaudo pela aposta - e levem-no de férias, não se irão arrepender.

Para culminar, em duas palavras: 

PERSPICAZ E GLAMOROSO

Assim o defino.

Letícia Brito