PRÉ-VENDA
VOX chega às livrarias portuguesas já em Fevereiro e promete conquistar os leitores. 
Esta obra de Christina Dalcher é publicada em Portugal sob a chancela da Topseller. 
Embora se encontre classificado como um livro do género policial, estamos perante uma distopia moderna, cuja narrativa se situa num futuro não muito distante, nos Estados Unidos da América, numa nova era onde a opressão às mulheres é uma realidade, contrariando todos os nossos ideais atuais. 

Através da protagonista, Dra. Jean McClellan, os EUA são apresentados ao leitor, com um governo de extrema-direita, que se auto-intitulam de "Puros" e que retiraram a voz às mulheres. 

Nesta nova realidade, as mulheres estão limitadas a 100 palavras por dia, sendo que se ultrapassarem o limite imposto pelo governo, o contador de palavras que usam no pulso, tortura-as através de choques elétricos, cujas descargas aumentam drasticamente. Para além destas novas leis, as mulheres não estão autorizadas a exercer qualquer trabalho fora do lar, e os estudos que recebem são exclusivamente dedicados a ensinar como se devem dedicar aos homens e às famílias.

É neste clima de medo, revolta e desesperança, que a protagonista vive e nos relata os acontecimentos, quer aqueles que abrangem todo o país, quer os que lhe estão intimamente ligados.

No entanto, quando a Dra. Jean é recrutada para trabalhar num projeto do governo, para o qual, é uma das poucas pessoas com capacidade para tal, ela encontra Lin e Lorenzo, pessoas que lhe são próximas, e reafirma a sua oportunidade de recuperar a sua própria voz e a voz de todos os que foram silenciados. 

Durante toda a leitura, vivi num misto confuso de sensações, não somente pelo que a autora retratou, mas também pela possibilidade de que isto possa a longo prazo tornar-se uma realidade. Os pontos que cruzam a ficção e a realidade são muitos, e embora, acreditemos que uma situação extrema como esta que a autora retrata, seja improvável, o certo é que não sabemos nada do futuro.

Numa época em que se fala tanto do movimento #MeToo. Numa época em que as mulheres continuam a sofrer violências de todo o tipo. Será que esta distopia estará assim tão distante da realidade? Claro que todas estas teorias são hipotéticas, mas... SERÁ?

A narrativa é construída de um modo muito dinâmico, o que facilita a leitura. Os capítulos são curtos e este é um ponto a favor, e que sempre gosto de realçar. Pessoalmente, creio que este estilo narrativo confira muito mais simplicidade à história e faça com que nos agarremos à leitura e a devoremos.

O facto de a história ser narrada pela Dra. Jean McClellan faz com que sintamos extrema empatia com esta protagonista. Os seus receios, os seus anseios, são próximos de todos nós, e dão fidedignidade à leitura.

É um livro que recomendo e que superou todas as expetativas. Através de uma narrativa coesa e escorreita, com uma linguagem rica, temos aqui um novo fenómeno da literatura.