O Tempo Nos Teus Olhos é o terceiro título do autor José Rodrigues, publicado sob a chancela da Coolbooks.
Esta obra conta ainda com o trabalho fotográfico de Sara Augusto, que vai introduzindo os respectivos capítulos da narrativa, através das suas captações.
Confesso que é a primeira vez que leio algo deste autor. As opiniões positivas que acompanham os seus outros trabalhos levaram a que me aventurasse a lê-lo agora que lança o seu terceiro romance. Não me arrependo. Diria até que o autor superou as minhas expectativas.
Através de uma escrita escorreita, rica em descrições e em emoções, José Rodrigues leva os leitores através de uma viagem pela solidão nos idosos. Este é um tema sobre o qual já escrevi diversas crónicas. Esta luta dos mais velhos, contra a solidão que lhes é, de certo modo, imposta, toca-me profundamente, e não lhe sou indiferente.
O autor apresenta-nos Manuel, um septuagenário que se vê obrigado a lutar contra a memória da esposa falecida e que conta apenas com o seu gato Nicolau para espantar a solidão e lhe acalentar um pouco os dias, e o coração.
As filhas, Helena e Luísa, à semelhança do que acontece em muitas famílias portuguesas – e do mundo – têm vidas ocupadas, dominadas pelo trabalho. A herança está na ordem de todas as reuniões familiares e a constante pressão das filhas, faz com que Manuel se revolte.
Manuel ainda tem consciência, poder e capacidade de decisão, e é com espírito optimista e perseverante que vai contra os ideais das filhas e agarra-se novamente à vida, disposto a fazer mais por si.
Com o apoio apenas do filho mais velho, Eduardo, e da neta Joana, este senhor dá a volta ao fim que lhe decretaram e recomeça.
Este romance faz o leitor refletir sobre temas proeminentes na sociedade, o envelhecimento, a solidão, as desavenças familiares e as heranças. Mas também, nos mostra que é sempre possível começar de novo, encontrar luz em lugares inóspitos e ter uma segunda oportunidade.
Esta narrativa é recheada de sentimentos que nos são comuns a todos, revi-me muitas vezes na neta Joana, pela ligação profunda e comovente com os avós. É isto que procuramos nos livros que lemos, conseguirmos rever-nos nas histórias, e sem dúvida, que José Rodrigues dá ao leitor essa possibilidade, com a mestria da sua escrita.
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