De repente, voltamos o rosto na direção oposta, na certeza de termos escutado aquela voz, que por mais anos que passem, sempre será familiar.
Somos acometidos por uma espécie de loucura, que nos desassossega.
Sentimos aquele cheiro tão característico, que em tempos também se entranhou na nossa pele, também se fundiu em nós.
Mas já somos crescidos. Já não gostamos do que gostávamos antes. Já não ouvimos aquelas músicas. Já nem pensamos sobre o que passou. E ainda assim, o nosso coração sente-se uma eterna criança, quando confrontado com quem o marca.
Há amores que não duram para sempre. Que estão condenados desde o início. Há amores que prolongamos, apenas porque temos medo do que virá depois. Há amores que nos transformam e que nos fazem questionar, se depois do fim, valerá a pena nos apaixonarmos outra vez?
O certo é que acontece. O coração fecha as feridas, faz as malas e vai embora. Parte para muito longe da vida de quem não quis ficar na nossa vida. Revigoramo-nos. Recomeçamos. E de repente, lá está a voz.
A gargalhada profunda do outro lado da rua, a fazer-nos voltar o rosto, procurando aquele de que provém. Não é sobre o amor. Mas todos, ainda que de um modo inconsciente, quando ficamos frente a frente com o passado, sentimos necessidade de mostrarmos que estamos bem.
Vês, vês, que eu segui sem ti. Não é sequer sobre imaturidade, é apenas uma pulguita que fica, que faz ninho na nossa alma. Que nos faz sentir que o outro tem de ver que estamos melhor, que superamos, que encontramos outro amor.
Há amores que não duram para sempre, mas ainda assim, ficam em nós para sempre. Deixam de ser amores, tornam-se outra coisa qualquer, que fica em nós para sempre. Como um lembrete daquilo que um dia fomos e desejávamos ser. Como um lembrete de que somos capazes de seguir em frente, recuperar e amar mais uma vez.
São amores preciosos, esses que nos fazem sofrer. Esses da adolescência. São eles que nos preparam para a vida adulta. São eles que nos mostram que há vida para além do amor. São eles que nos ensinam a perder e a ganhar de novo.
Louvados sejam todos que nos partem o coração, dando-nos a oportunidade de encontrarmos aquele que nos estava destinado.
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