Sofia Alves Cardoso é natural do distrito do Porto e nasceu
numa tórrida noite de verão em 1994. Desde tenra idade que é apaixonada pela
escrita e pelos contadores de histórias. Mesmo antes de imaginar que a escrita
seria parte importante da sua vida, inventava histórias e gostava de as passar
para o papel. O ato de escrever sempre foi muito natural e precioso.
Com a adolescência a necessidade de extravasar sentimentos
difíceis de serem contados a qualquer um(a) intensificou-se e estreou-se na
blogosfera onde deu os meus primeiros passos na escrita criativa.
No ano de 2012 estreou-se com o seu primeiro livro "Não
Confies", um thriller que lhe permitiu perceber como funciona o mundo
literário.
Atualmente, embora com ideias a fervilhar e a trabalhar
nelas, tem uma página de autora onde publica diariamente textos.
Sofia é ainda apaixonada pelas artes, pela natureza, pelo
desporto e pelo conhecimento.
Hoje, a Sofia é uma das entrevistadas no blogue, conversar com ela, conhecê-la... Foi uma verdadeira surpresa!
Bom dia Sofia, é um gosto enorme poder conhecer-te melhor e
apresentar-te aos seguidores deste espaço, para começar, coloco-te esta
questão: Como é que a escrita entrou na tua vida? O gosto é todo meu e é um
prazer ser uma das tuas entrevistadas!
Bem, costumo dizer que ambas nos encontramos em tempos
conturbados e que não sei com clareza se a escrita me encontrou ou se fui eu
que a encontrei.
A paixão da escrita surgiu sobretudo na adolescência que,
por si só, é um período muito complicado…
Incompreensões, assuntos que são difíceis de expor… E a única coisa que
estou certa é que a escrita muitas vezes impediu-me de afundar completamente.
Algumas pessoas encaram isto como se fosse um exagero, mas a verdade é que acho
que se não fosse a escrita não seria tão saudável a nível mental.
O que é que a escrita mudou em ti, enquanto pessoa? Tal como
já disse, a escrita impediu-me, sobretudo, de ter pensamentos destrutivos,
mantendo-me sempre ocupada. Não que me tenha mudado enquanto pessoa, mas
considero que se não fosse muitas vezes refugiar-me com um papel e uma caneta
não seria o que sou hoje. Talvez fosse uma pessoa com uma personalidade não tão
jovial e até um pouco mais triste. Digamos que mente ocupada não pensa no que
não deve e acho que é muito por aí que a escrita me ajudou a desviar a atenção
de coisas que são apenas um burburinho na imensidão.
E enquanto escritora, o que mudou? Acho que a escrita me fez
amadurecer um pouco mais depressa que o suposto. Não é fácil muitas vezes lidar
com o que escrevemos porque é a verdade nua e crua que não queremos dizer e
talvez por ter tido a capacidade de a colocar no papel desde muito cedo me fez
crescer um pouco mais depressa como pessoa.
Começaste por explorar a escrita através da blogosfera. Em
que é que essa experiência contribuiu para elevares a escrita a outro nível,
passando, nomeadamente, à publicação? O meu primeiro blogue nasceu em meados de
2008 e era sobre uma banda. Vá, podem julgar-me, mas eu adorava os Tokio Hotel.
(Confessem que também gostavam só para eu me sentir melhor!). E, por mero
acaso, descobri as fanfictions. Muitos blogues escreviam histórias com os seus
ídolos e eu comecei a fazer o mesmo e daí surgiu o gosto. Foi tudo ganhando
dimensão quando comecei a ter mais gosto na leitura, já por volta dos meus 13
anos, até que li um livro que me arrebatou e decidi que era bom começar a
tentar escrever alguma coisa. A partir daí foi uma espécie de bola de neve.
Quanto mais lia mais escrevia, quanto mais escrevia mais imaginação tinha e o
gosto aumentava. Paralelamente criei um blog com textos semelhantes aos que
podem encontrar hoje na minha página e aí foi o auge da minha “carreira” na
blogosfera e aí fez ainda mais sentido para mim apostar na escrita a nível criativo.
Estreaste-te no mundo da publicação em 2012, com o thriller,
Não Confies. Podes falar-nos um pouco sobre esse teu primeiro trabalho? O meu
primeiro trabalho aborda muito a importância da família, da sinceridade, da
honestidade e os afetos, não deixando de parte sentimentos como raiva, assuntos
mal resolvidos no passado, doenças do foro psicológico e a maldade. Envolvi
todos estes elementos numa história cheia de ação, de suspense, que é muito o
reflexo daquilo que eu gosto de ler e de ver. Costumo dizer que antes de
escrever para os outros escrevo para mim. Claro que também escrevo para os
outros, tenho um público alvo, como é natural, mas não escrevo só porque é moda
ou porque a maioria das pessoas leem mais um tema que outro. No entanto, hoje
não faria nada do que fiz naquele livro. Continuaria a abordar os problemas de
família, as dificuldades que é a monoparentalidade, proteger quem mais se ama,
mas daria um tremendo twist em grande parte da narrativa. Digamos que considero
que o publiquei muito cedo. Com dezoito anos não tinha nem a experiência nem o
conhecimento que hoje tenho, por isso tenho consciência que poderia ter feito
muito mais se o tivesse escrito agora.
Que dificuldades encontraste no processo de escrita?
Imensas! Muitas vezes achei que estava a escrever o que as pessoas mais
gostavam de ler, sem ter atenção se eu mesma gostava, e isso para mim é
arrancar o gosto que tenho por escrever. Muitas vezes digo que quando começar a
encarar a escrita como um emprego que a irei deixar. Para mim a escrita é um
momento de prazer, por isso se algum dia se tornar um sacrifício é porque tenho
de a deixar.
Aliás, isso já me aconteceu. A minha página, que é o meu
templo, esteve inactiva muitos meses porque tirei-os para me voltar a
reencontrar na escrita. Parece que agora voltei e em força, mas nem sempre é
fácil gerir expetativas dos seguidores e as nossas.
Também lido muito com períodos em que não tenho ideias para
nada, fruto de cansaço que advém da vida pessoal e profissional que não posso
de todo pôr de lado. Por isso acaba por me atrapalhar um pouco os planos…
O tempo também não tem intervindo a meu favor. Acho que
precisava de um dia com quarenta e oito horas para cumprir tudo o que tenho de
fazer num dia. Assim, muitas vezes não me sobra muito tempo para escrever…
Como surgiram as ideias para escrever um thriller? Lembrando
os seguidores, que és ainda muito jovem e que a maioria dos jovens autores
começam por explorar géneros literários, digamos, menos complexos e mais
romantizados. Então, o que te levou a enveredar por este género em concreto?
Digamos que a minha formação em criminologia me ajuda muito e já é uma vantagem
por si só, mas acho que sempre foi o género literário que mais apreciei. Gosto
de ação. Gosto de personagens que correm riscos, de investigações, de
personagens que muitas vezes estão no limiar entre a vida e a morte e que são
furacões da natureza. A forma que eu encontro para juntar estes elementos é no
thriller. Já tentei escrever outros géneros literários, nomeadamente romances,
mas não consigo. Eu sou uma espécie de George R. Martin feminina: acabo sempre
por matar alguém e ter alguém a investigar!
Sofia, falemos um pouco da escrita a nível emocional, o que
sentes quando escreves? A escrita é a minha terapia. Apenas isso. É quando eu
consigo ser eu mesma sem ser. Eu vivo muito através das personagens que crio,
eu gosto de viver através delas. Traz-me uma certa paz interior e um sentimento
de missão cumprida. Talvez soe estranho para muita gente, mas é o que realmente
sinto.
Como definirias esta arte na tua vida? É parte importante,
não central, mas muito importante. Por diversas vezes deixei de escrever e
foram as piores fases da minha vida. Lá está… Mente mais desocupada, mente em
pior estado, por isso é essencial para mim escrever.
O que é mais prazeroso na escrita? Adoro escrever textos simples,
mas adoro ainda mais o processo criativo de uma História. Adoro o processo pré
- escrita, de pesquisa, de arranjar nomes, de ver onde vou localizar a
história… Depois não há nada que substitua o sentimento que é ao escrever
“prólogo”. É aquele sentimento que uma nova história será escrita, que novas
personagens surgirão e que tu lhes irás dar a vida. É indescritível!
Tens algum ritual de escrita? Bem, eu não tenho grandes
rituais. O único que tenho, e sem o qual não escrevo, é ouvir música clássica.
De certa forma inspira-me mais que música comum.
Qual o momento do dia preferido para escrever? Eu escrevo à
noite, preferencialmente. Talvez porque também é o único momento do dia que
tenho para o fazer, mas porque é também quando a casa está mais sossegada e
posso concentrar-me melhor.
E para ler? Para ler é indiferente. Apenas preciso de
silêncio.
Tens hábitos de leitura? Consideras importante ler para
escrever bem? Sim, tenho. Todavia considero que tenho lido pouco em virtude da
minha vida pessoal e profissional. Não leio tanto quanto gostaria de ler, mas
antes de adormecer tenho o bom vício de ler pelo menos uma página.
Sim, considero. E acho que para quem quer investir na
escrita é ainda mais fulcral. Na minha opinião, nem toda a gente que escreve é
escritor(a). Até se pode dar uns “toques” e tal, mas a sensibilidade em colocar
as palavras num texto e o sentimento julgo que só se consegue quando se
apreciam boas narrativas, bons livros. Claro que depois existem pessoas com uma
tendência sobrenatural para escrever bem, mas quem não tem essa sorte penso que
seja a forma mais eficaz de conseguir escrever bem e conseguir expressar-se
melhor.
Se só pudesses ler um único livro para o resto da tua vida,
qual seria o privilegiado? Sem sombra de dúvida o livro “o monte dos
vendavais”, de Emily Bronte. Adoro o livro, já o li mais de uma dezena de vezes
e serei uma eterna apaixonada pela história.
Como achas que os jovens atualmente encaram a Literatura?
Não tenho propriamente uma opinião formada porque já não convivo propriamente
com essa faixa etária, mas a sensação que me dá é que se lia muito mais
antigamente. O boom tecnológico e as redes sociais vieram ocupar um pouco o
tempo das pessoas (e contra mim falo), pelo que acho que hoje se lê muito mais
nas redes sociais, blogues, entre outros, do que se lê livros. No entanto, não
considero que seja de todo uma desvantagem, já que cada vez mais estão em voga
os livros em plataforma online, podendo até ser apelativo para este público que
aprecia mais a tecnologia ao papel.
Sentes que ainda há algum preconceito por parte da
sociedade, com quem se liga às Artes e luta pelos seus sonhos? Sim. A arte
sempre esteve associada ao desemprego. Sempre soube que não iria viver da
escrita e que poderia nem sequer vingar neste meio, pelo que sempre mantive as
minhas expetativas baixas. No entanto, considero que as pessoas acham que podem
meter todos os artistas no mesmo saco, o que não pode acontecer. Aliás, isso
apenas ainda fomenta mais o desânimo, a ideia de que temos um país que não
investe de todo em jovens talentos e que não vale a pena seguir os nossos
sonhos. Ainda hoje lido com comentários do género “não sei porquê escreves. Não
vais sobreviver da escrita.”. E é verdade, não vou, ou muito provavelmente não
vou, mas se pensarmos que não vale a pena respirarmos mais porque afinal vamos
morrer é exatamente a mesma coisa! Acho que é muito à custa de comentários e
mentalidades assim que apenas vemos grandes nomes de sobrinhos e enteados de X
e y nas capas dos livros ou a fazerem exposições. Se a própria sociedade não
nos apoia, não luta, como é que iremos conseguir trilhar este caminho?
Além da escrita, que outras paixões nutres que te completam
enquanto pessoa? Sou apaixonada pela música e pelo cinema. Adorava um dia dirigir
um filme, embora tenha plena noção que tal possa não acontecer. Sou também uma
apaixonada pela natureza, pelas coisas simples da vida… Sou Também uma
apaixonada pelo desporto, mais concretamente no crossfit. Tem sido uma jornada
e pêras!
Que outros trabalhos já realizaste no âmbito da escrita? Já
auxiliei na escrita de uma curta metragem há uns largos anos, todavia o tempo
não tem sido um grande aliado, pelo que não me envolvo tanto quanto gostaria.
No entanto, em 2016, participei num desafio lançado pelo canal Fox na qual
tinha de escrever um texto que fosse inspirado na série Castle. Fiquei entre os
150 contos selecionados e foi um dos publicados em formato livro. Sou também
uma das moderadoras do grupo Escritores de Bolso que é um grupo de partilha
para todos aqueles que amam ler e escrever, têm desafios, pelo que convido
todos a aderirem!
A escrita é para ti, uma necessidade ou um passatempo? Um
pouco das duas. Uma necessidade na medida em que eu já não sei viver sem ela,
já é muito de mim para não precisar dela. E um passatempo porque não sinto
qualquer obrigatoriedade em escrever. Escrevo porque quero, porque gosto,
porque sou eu e quando deixar de ser um passatempo, como já disse acima, é hora
de deixar de escrever.
E o que achas, muito sinceramente, das pessoas que dizem,
“tens de ver a escrita apenas como um passatempo, escrever não dá dinheiro”?
Achas relevante ou totalmente desnecessários esses comentários, que surgem com
frequência, creio que, em parte, por leigos no que toca à Arte? São puramente
desnecessários. Todos nós sabemos que estamos num país onde pouco se aposta na
cultura e se dá mais valor a alguém que faz umas parvoíces nas redes sociais do
que num ignóbil professor. Portanto, não é de admirar ouvir comentários destes.
No entanto, quero acreditar que estes comentários são apenas chamadas de
atenção, desprovidos de maldade e que querem dizer-nos que devemos ter sempre
um plano B. Claro que em parte torna-se chato ouvir sempre o mesmo porque isto
de se ser artista é incerto, mas podemos sonhar. Ainda não se paga imposto.
Publicas diariamente textos na tua página de Facebook e o
público, como é notório, adere bastante, tece-te elogios e incentiva-te. Qual a
importância que tem para ti este género de publicação? A importância é maior do
que provavelmente quem comenta imagina. Eu não contava com a página tão
interativa, para ser sincera. Mas noto que é importante para os meus seguidores
partilharem comigo o que estão a sentir e acho que a interação que também tenho
com eles é muito positiva e assenta no diálogo permitindo-nos aprender todos
juntos. Por isso é que é-me difícil deixar a página porque sinto que tenho um
compromisso marcado com cada seguidor meu.
Como vives o contato com o público? Apesar de parecer muito
confiante eu morro de vergonha quando me reconhecem. Cá na minha zona já me
chegaram a reconhecer e eu apenas queria um buraquinho onde me enfiar. Mas
acontece raras vezes, por isso não me ralo muito com isso e é sempre muito bom
conhecer pessoalmente as pessoas com quem partilhamos as nossas palavras!
Como encaras o processo de edição em Portugal? Um pouco
ardiloso, diria eu. A imagem que eu tenho das editoras, pelo menos as de
renome, é que a publicação de jovens autores apenas é feita se for filho ou
filha de fulana, o que é bastante desrespeitoso já que há talentos
sobrenaturais que não têm oportunidade porque são desconhecidos e aquele só
porque tem um familiar conhecido já consegue uma publicação. Acho isso
ultrajante, desmotivador e embora compreenda o risco em investir em novos
autores não concordo de todo com esta política. Porque se não houver
oportunidades nunca iremos mostrar o que valemos e seremos sempre o país que em
vez de promover os autores nacionais acaba por promover os autores
internacionais.
Quais as são as tuas perspetivas para o futuro? Não costumo
pensar muito no meu futuro na escrita porque não gosto de me pressionar. Gosto
que a escrita vá fluindo e por isso não alimento muitas perspetivas, mas espero
que a minha página continue a crescer ao ritmo que tem crescido, que continue
com os meus seguidores que são muito importantes para mim e que consiga chegar
a mais gente.
Quem segue o teu trabalho, percebe que a escrita é uma parte
essencial em ti, e como tal, vai aguardando ansiosamente por novidades.
Ponderas voltar à publicação de um novo livro? É uma excelente questão. Não vou
mentir. Eu tenho alguma coisa na manga, ainda que num estado embrionário.
Voltar à publicação, pelo menos por editora, para já, não está nos meus planos.
O único plano que tenho é terminar a ideia que tenho e depois logo se verá.
Enquanto escritora, quais os objetivos que manténs? Ser fiel
a mim mesma e não me deixar ceder a pressões externas. Para mim seria muito
fácil chegar a um público maior se abordasse temas que muita gente aborda. Sei
que não sou assim... Tenho dificuldade em falar abertamente sobre assuntos que
vejo muitos autores a escrever, como o amor. Falta-me a tal sensibilidade que
por muito que leia e tente criar não consigo. Há quem diga que eu tenho uma
alma mais antiga, mais sombria, talvez seja verdade, mas eu adorava escrever
sobre o amor como vejo muitos autores fazerem. É um facto que não consigo, mas
que espero vir a contornar.
Se tivesses de escrever noutro género literário, qual o
desafio ao qual te proporias? O meu
maior desafio seria escrever um romance sem matar ninguém! Mas vejo-me mais
depressa a escrever um livro de dark fantasy que já tive oportunidade de
explorar e adorei.
E para finalizar, que mensagem gostaria de passar aos seus leitores
e seguidores deste espaço? Não importa quão difícil seja o caminho, quantos
receios tenham de enfrentar, quantas vezes tenham de cair se é o vosso sonho
que está em causa. Eu acredito que para além de sermos constituídos por
células, moléculas e tudo o que biologicamente nos define, somos o produto dos
nossos sonhos e o reflexo deles. Por isso, sonhar com os pés assentes na terra
é permitido e deve acontecer com frequência!
Agradeço a tua disponibilidade, fazendo votos de muitos
sucessos para a tua carreira e vida pessoal.
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