Catarina Fernandes nasceu em Vila Nova de Gaia a 11 de Maio de 1992.

Com o tempo iniciou-se na escrita de poesia, e ganhou prémios em concursos literários interescolares.
Concluiu o curso de Direito na Universidade Católica Portuguesa – Escola de Direito do Porto em 2015.
Em 2017 concluiu o mestrado de Direito Público, Internacional e Europeu na mesma instituição.
Trabalhou na Livraria Bertrand no Porto e na Livraria Lello. 



Letícia Brito: Bom dia Catarina, é um gosto enorme poder conhecê-la melhor e apresentá-la aos seguidores deste espaço, para começar, coloco-lhe esta questão: Como é que a escrita entrou na sua vida?

Catarina Fernandes: A escrita entrou na minha vida na escola primária. Era uma criança com uma imaginação muito fértil e, devido ao meu interesse na coleção “Arrepios” de R. L. Stine comecei a escrever pequenos contos de terror ainda no meu 4º ano de escolaridade.

Letícia Brito: O que é que a escrita mudou em si, enquanto pessoa?

Catarina Fernandes: Gosto de pensar que a escrita não me mudou em nada porque já era uma parte intrínseca relativamente à minha própria existência. Assim, a escrita não é uma característica externa mas sim algo que me define e sem a qual eu não poderia nunca ser este Eu.

Letícia Brito: E enquanto escritora, o que mudou?

Catarina Fernandes: Enquanto escritora posso dizer que a escrita fez com que eu pudesse ter contacto com mundos que, de outra forma, não existiriam nunca nesta pequena esfera alada no meio da escuridão a que tão prontamente chamam “Terra”.

Letícia Brito: O seu primeiro livro “Nuit Blanche” é um romance fantástico com cariz LGBT, pode falar-nos um pouco sobre ele?

Catarina Fernandes: O livro passa-se nas Terras de Gawk onde existe a política parental de dois filhos de sexo oposto por casal. Se tal não suceder os pais das crianças são expulsos da terra e amaldiçoados pelo deus sol. A Nuit Blanche é um ritual único que põe em causa a existência e a vida de várias pessoas, nomeadamente de Sam e Annabelle. Assim, o livro transcende aparências e luta contra preconceito da sociedade. A Nuit Blanche é sem dúvida uma noite que mudará para sempre a vida de Sam e Annabelle e que fará com que tenham de lutar contra tudo e todos para ficarem juntos.

Letícia Brito: Como surgiu a ideia para escrever sobre um tema ainda tão pouco abordado na literatura?

Catarina Fernandes: A ideia não me surgiu, primeiro ponto. Foi uma estória que teve nascimento na minha alma em hora e data incerta. Foi quase como uma avalanche de palavras que começaram a jorrar da minha mente e que eu não tive outra solução senão passar a escrito tudo aquilo que se ia passando por detrás dos meus olhos. No backstage do meu rosto. Quanto à temática não podia nunca ser de outra forma. Tinha de ser assim. Não foi propositado. Foi apenas porque elas eram como eram e eu tive que dar voz à estória delas como se fosse a minha.

Letícia Brito: Que dificuldades encontrou no processo de escrita?

Catarina Fernandes: Sinceramente foi um livro que me deu imenso gosto escrever pelo que não encontrei quase nenhumas dificuldades em escreve-lo. Somente relativamente a Silver é que tive de pensar um pouco quanto ao destino que ele teria.

Letícia Brito: A sua história é inteiramente ficcional, mas tem traços em comum com a realidade. Há alguma conotação pessoal na mesma?

Catarina Fernandes: Sim. Como todos os escritores. Possui uma conotação pessoal principalmente porque foi uma história que nasceu de mim e aquilo que nasce de nós raramente se aparta de quem somos.

Letícia Brito: Catarina, falemos um pouco da escrita a nível emocional, o que sente quando escreve?

Catarina Fernandes: Sinto-me em comunhão com as letras do Universo inteiro. Uma alegria aliada à paixão de dar forma àquilo que existe apenas em sonhos.

Letícia Brito: O que é mais prazeroso na escrita?

Catarina Fernandes: A maneira como as palavras se agrupam de maneira a formar frases melancolicamente belas e levemente imperfeitas. O modo como a prosa vai dando lugar à poesia sem nunca se anular por completo.

Letícia Brito: Tem algum ritual de escrita?

Catarina Fernandes: Sim. Costumo escrever com a minha cadela Molly junto a mim. Sempre foi assim desde pequena. Tudo começou com o Kincas, o meu cão. Aconchegava-se em mim o tempo todo que eu estivesse a escrever.

Letícia Brito: Como definiria esta arte na sua vida?

Catarina Fernandes: A supremacia da boa existência.

Letícia Brito: Tem hábitos de leitura? Considera importante ler para escrever bem?

Catarina Fernandes: Sim. Leio, quase sempre, três livros ao mesmo tempo. Considero que ler é mais importante para sonhar bem do que para escrever bem. Qualquer pessoa pode escrever bem, sem erros e ter um poder sintético absolutamente genial porém, apenas aqueles que sonham bem são capazes de escrever as coisas que fazem sonhar os outros.

Letícia Brito: Se só pudesse ler um único livro para o resto da sua, qual seria o privilegiado?

Catarina Fernandes: Sputnik, meu amor de Haruki Murakami.

Letícia Brito: Além da escrita, que outras paixões, nutre que o completam enquanto pessoa?

Catarina Fernandes: A minha paixão pelos animais, viajar, séries de televisão, pela música (fã incondicional de Bruce Springsteen) e pelo cinema.

Letícia Brito: Que outros trabalhos, já realizou, no âmbito da escrita?

Catarina Fernandes: Escrita do Guião da curta  “Tenho em mim todos os Sonhos do Mundo” com o qual concorri à Academia RTP. Escrevo poesia com elevada regularidade porém, não se encontra publicada.

Letícia Brito: A escrita é para si, uma necessidade ou um passatempo?

Catarina Fernandes: Sem dúvida, uma necessidade.

Letícia Brito: Como vive o contato com o público?

Catarina Fernandes: Gosto de pessoas e, tendo trabalhado na Lello, no Porto, estou habituada a todo o tipo de pessoas e situações.

Letícia Brito: Como encara o processo de edição em Portugal?

Catarina Fernandes: Difícil. As grandes editoras são, muitas das vezes, horizontes fechados aos novos escritores.

Letícia Brito: Quais as suas perspetivas para o futuro?

Catarina Fernandes: Ser feliz.

Letícia Brito: Este é o seu primeiro romance, acabadinho de “sair do forno”, já pensa no próximo?

Catarina Fernandes: Possuo imensos contos escritos. Talvez edite uma coletânea dos mesmos.

Letícia Brito: Enquanto escritora, quais os objetivos que mantém?

Catarina Fernandes: Ser sempre inovadora naquilo que escrevo.

Letícia Brito: Se tivesse de escrever noutro género literário, qual o desafio ao qual se proporia?

Catarina Fernandes: Escrever algo que não tivesse um pouco de prosa poética. Esse seria um desafio enorme para mim.

Letícia Brito: E para finalizar, que mensagem gostaria de passar aos seus leitores e seguidores deste espaço?

Catarina Fernandes: Gostaria de dizer que o mundo está demasiado estereotipado e que as pessoas, não raras vezes, impedem-se a si próprias de encontrar o amor porque pensam que tudo tem de ser normativo. O amor não escolhe género. Isso é o menos importante. O que realmente importa é aquilo que o coração sente não a aparência de quem o faz sentir-se assim.

Letícia Brito: Agradeço a sua disponibilidade, fazendo votos de muitos sucessos para a sua carreira e vida pessoal.

Catarina Fernandes: Agradeço imenso esta oportunidade e fico deveras feliz pelo interesse demonstrado no meu livro “Nuit Blanche”.


A “Nuit Blanche” aproxima-se. Uma maldição negra pairará novamente sobre as Terras de Gawk.
Uma noite em que tudo pode acontecer…
Os habitantes da vila iniciam os preparativos em homenagem aos deuses desconhecendo os eventos terríveis que irão ser desencadeados ao longo dessa noite. Segredos antigos, amizades desfeitas e amores impossíveis que irão colocar em risco a vida de todos.
É o primeiro ano que Annabelle e Sam participarão neste ritual que irá mudar as suas vidas para sempre.
Conseguirá este amor sobreviver à maldição?  
Um romance mágico repleto de mundos desconhecidos, mitologias paralelas e universos que, quem sabe, poderão de facto existir por aí.
Um romance que transcende estereótipos numa sociedade em que tudo é azul ou rosa.