Todos temos o nosso amigo das ausências.
E o que é pior do que um inimigo declarado do que aquele que se diz amigo, mas
só nos brinda com a sua ausência? Como é suposto construirmos algo sólido sobre
ausências? Como se resgata o afeto das ausências?
É amigo o raio que o parta!
Têm sempre uma desculpa na ponta
da língua. Justificam as ausências com a distância, o trabalho, os filhos e o
funeral do gato. Não respondem às mensagens, mas estão sempre online no
Facebook e publicam ativamente no Instagram. Quebram promessas antigas. Faltam aos
encontros marcados. «Hoje trabalhei até tarde, não consegui estar presente».
Usam as desculpas como um míope usa
óculos de grau para conseguir ver melhor. São dependentes de argumentos parvos
para se escaparem às nossas intervenções.
Será que nós não merecemos um pouquinho
do esforço dessas pessoas? Cinco minutos do seu tempo? Um café rápido a seguir
ao almoço?
Será que requerer a sua presença
em momentos importantes, faz de nós egoístas? Será que somos assim tão desinteressantes
e pouco importantes para que a consciência não lhes pese? E a saudade não lhes
bata à porta?
O amigo das ausências raramente
te procura, te telefona ou envia mensagem. Mas repara quando te afastas. Ofende-se
quando não lhe respondes. Repreende-te quando não o procuras. Porque o amigo
das ausências vive para ignorar, mas não aceita que lhe façam o mesmo.
Não queremos que façam tudo por
nós. Que se esfolem. Que inventem desculpas para saírem mais cedo do trabalho. Não
queremos que estejam sempre à nossa espera ou com a mão pronta para atender o
telefone. Não lhe exigimos mais do que podem dar. Apenas o essencial para que
mereçam o título de amigos na nossa vida. Não é egoísta da nossa parte, embora,
com os seus discursos idiotas e a falsa moralidade, nos digam que somos
dependentes, que precisamos entender o quão são ocupados e os esforços que (não)
fazem para estarem por perto.
Não os queremos o tempo todo. Às vezes,
só precisamos de cinco minutos. De uma esplanada e um café, e dois dedos de
conversa. Desabafar. Contar-lhes a nossa vida. Que vão para o raio que os
parta, esses pulhas. Ainda se questionam por que razão as crianças mantêm
amigos imaginários? Porque esses jamais os desiludem.
Letícia Brito
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