Eu costumava beber só para vê-lo à minha frente, quando a visão se turvava entre lágrimas, soluços e doses exageradas de álcool.
Eu costumava drogar-me até perder a consciência só por saber que era no meu estado inconsciente que a vida valia a pena, porque eu tinha-o de novo, sem nunca o ter tido sequer.
Eu costumava cortar os pulsos e bater com os tornozelos nos pés da cama até ficarem negros, eu costumava enrolar a corda no pescoço e permitia-me sufocar por alguns minutos, porque a única forma de sentir-me viva por dentro, sem ele, era matando o que restava de mim, por fora.
Não foram em vão as noites em que me arranhei e mordi a língua para sentir o que quer que fosse, que não fosse a saudade dele a torturar-me.
Aprendi com a minha dor e com os vícios que fui criando, a desintoxicar-me do amor que tinha por ele; o amor falhado.
Se uns dizem que o amor mais bonito é o próprio, eu digo que o mais bonito de todos é o meu amor por ele. O mesmo que me dá o mundo e me faz querer libertar-me das suas garras. O mesmo que me atrai, seduz e mata-me no final. O mesmo que me colocava no topo só para me enterrar depois. O mesmo que me percorria as veias e me envenenava a cada trago dos seus beijos.
Houve um tempo em que ele me deixou tão partida que eu precisei catar cada pedaço do meu peito do chão, precisei reconstruir tudo sozinha, para depois colocar-lhe o meu coração de novo nas mãos, como se dissesse «anda lá, parte-me de novo», porque era isso que eu queria, na verdade.
É esse amor que pode colorir a vida, afinal.
O amor que te mata. 
Hei-de sempre acreditar nisso.
O amor que te masturba a alma.
E te mata, nos breves segundos em que o orgasmo da vida acontece.
E tal como dois corpos se unem pelo prazer, quanto mais te mata, mais desejas morrer. 

O amor que te faz sentir morta, de tão viva que te deixa.

Letícia Brito