São inúmeros os sentimentos que nascem no âmago do escritor. Quais aqueles com que mais se identifica? Por muito que tente contrariar essa tendência, julgo que é na nostalgia e nalguma tristeza que nascem os sentimentos mais profundos de um escritor. É preciso algum dramatismo, mesmo na felicidade, para se conseguir alguma profundidade para se trabalhar melhor os sentimentos. Reflito muito sobre estes temas acho que faz parte da criação artística alguma melancolia e que daí nasce grande parte da inspiração.
O que é que a escrita mudou em si enquanto pessoa? A escrita ajuda-me a pensar, refletir sobre a vida, sobre as pessoas e torna-me muito mais observadora do que naturalmente sou. Aguçou ainda mais a minha curiosidade e capacidade de ouvir e ver para além do óbvio. As pequenas coisas são tesouros que aprendi a valorizar com a escrita, até porque, a imaginação é ilimitada e do pouco se pode fazer muito! Gosto de explorar e inventar quando tenho pouca informação sobre alguma coisa.
E enquanto escritora, o que tem aprendido? Que a inspiração é caprichosa e nem sempre está a nosso favor! Algumas coisas não acontecem no tempo que quero, porque a inspiração não é uma coisa que se consiga controlar. Treina-se, é verdade mas não aparece de um dia para outro, requer muito trabalho e alguma disciplina. Não quero fazer da escrita um ofício ou uma obrigação tem se acontecer naturalmente, só assim faz sentido para mim. Claro que tenho de manter a “chama” acesa e por isso é preciso alimentar a imaginação com regularidade e registar as palavras, mesmo que sejam soltas e que por vezes pareçam descontextualizadas e sem nexo.
Como definiria a escrita na sua vida: um passatempo, uma necessidade ou um acaso? Diria que foi um acaso que se tornou uma necessidade ou uma necessidade que se tornou num acaso, não sei bem. Gosto de escrever mas nunca pensei que se pudesse tornar alguma coisa séria.
Em 2018 publicou «Devemos Voltar Onde Já Fomos Felizes». Pode falar-nos um pouco sobre este livro? O livro é a compilação de vários textos que fui publicando no meu blog: https://omeuserendipity.blogspot.com/ desde 2013. São reflexões sobre a vida, acontecimentos e algumas coisas que vivi. Como tudo o que escrevo no blog, nem sempre autobiográfico, o que pretendo é que as pessoas pensem um bocadinho sobre os temas, que gostem do que leem e que se identifiquem com as palavras. Da mesma forma que organizo as ideias num texto que partilho, gostaria que os leitores fizessem o mesmo exercício mesmo discordando. O importante é chegar às pessoas de alguma maneira, não estamos sozinhos nem na vida nem no mundo, aprendemos pela partilha, pela empatia e com as experiências que vivemos é isso que pretendo com este livro.
Como correu o processo de escrita desta obra? Esta é um obra que nasceu sem saber se iria ser uma obra. Não foi pensada assim, aconteceu da escolha dos textos que ali se juntaram. O leitor pode ler o livro da forma que entender porque a ordem é aleatória e isso é uma coisa que me agrada particularmente. Dá espaço para o leitor decidir pelo título por onde começar.
Como têm reagido os leitores perante o seu trabalho? Os leitores reagem bem e são muito generosos comigo. Fico sempre surpreendida quando alguém cita algo que escrevi ou comenta. Escrevo porque é natural para mim escrever, não porque esteja à espera das reações das pessoas, por isso cada vez que alguém se manifesta fico surpreendida e feliz por ver que existe reciprocidade.
Se tivesse de escrever num género diferente, a qual desafio se proporia? Tenho-me aventurado pela ficção e pelos contos que são géneros que ainda não tinha descoberto na minha escrita. Também já andei em aventuras pela poesia por isso, acho que qualquer género pode um desafio desde que me sinta com vontade de explorá-lo.
Com o que é que os leitores podem contar para o futuro? O estilo do meu blog irá manter-se porque me sinto em casa por lá e nos artigos que escrevo no Repórter Sombra. Os leitores podem contar com novidades em relação a um novo livro, que pode sair ainda este ano… e mais outros desafios que espero concretizar em 2022.
Quer deixar uma mensagem a quem a lê? Muito obrigada a todos os meus leitores, em especial aos meus amigos que são os meus grandes impulsionadores.
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