Ricardo, sê bem-vindo a este espaço. É um gosto poder conhecer-te melhor e apresentar-te aos seguidores deste espaço, para começar: Como é que te iniciaste na escrita? 
Começo por agradecer o convite e a oportunidade que me estão a dar para apresentar o meu trabalho. A memória mais antiga que tenho de escrever é de com dez/onze anos. Escrevia pequenas histórias para ler para a minha turma na escola, nas aulas de Língua Portuguesa. Comecei a achar que tinha jeito porque os meus colegas pediam sempre para que fosse eu a ler, apesar de ser um trabalho que todos tinham de fazer. Ao escrever isto começo a pensar que talvez simplesmente não tivessem feito o trabalho de casa e me mandassem para o “palco” como distração (risos). Depois disso escrevi um livro com doze/treze anos, baseado num jogo de vídeo, que entreguei à minha Professora de Inglês para ler. Nunca mais o vi. Perdeu-o. Como tinha sido escrito à mão e era cópia única foi um desgosto tal que demorei imenso para voltar a escrever.

São inúmeros os sentimentos que nascem no âmago do escritor. Quais aqueles com que mais te identificas?
Excitação e frustração. A excitação surge quando estou a escrever e surge uma ideia que me parece incrível e acelero a escrevê-la para que não fuja ou fique incompleta, e quando escrevo uma ou mais páginas de seguida porque o meu cérebro está lançado e não para de querer criar. Frustração quando olho para a página em branco e não sai nada. Quero pintá-la com letras e simplesmente não há inspiração. E por vezes tenho de forçar a escrita e isso é, também em si, uma frustração.

O que é que a escrita mudou em ti, enquanto pessoa?
A escrita tornou-me melhor escritor. É a verdade. Ou assim acredito. Desde o primeiro livro que penso ter vindo a melhorar e a prática tornou-me mais atento ao detalhe e à estrutura do que escrevo e do que leio. Por isso, sim, diria isso mesmo. Que a escrita me tornou melhor escritor.

E enquanto escritor, o que tens aprendido?
Além do que referi na resposta à questão anterior, aprendi que é difícil promover o meu trabalho e que este seja promovido. Sem uma agência ou agente, somos nós, os que escrevem, que têm de fazer esse trabalho, e é difícil encontrar um interesse real para além do círculo mais próximo de amigos e familiares. As redes sociais ajudam, mas são francamente insuficientes. Tem de haver um maior acompanhamento e esforço na publicidade de quem publica os livros destes autores desconhecidos do grande público.

Como definirias a escrita na tua vida: um passatempo, uma necessidade ou um acaso?
Um passatempo necessário.

Foste músico na banda Jack & Dante e co-fundador da editora Contentor Records. Esta área tem alguma influência na tua escrita?
Os Jack & Dante já não estão no ativo, mas existem para sempre, através do trabalho que deixaram. Poderão sempre ouvir a música que criámos no Youtube e noutros sítios. É também uma honra ser um dos fundadores da Contentor Records, da qual já não faço parte integrante, mas que continuo a acompanhar e que é agora dirigida e gerida por artistas muito competentes e trabalhadores e que amam aquilo que fazem. Vou ajudando no que posso, por exemplo, fazendo publicidade, como agora. Respondendo à questão, eu diria que foi o contrário. A minha escrita teve influência na música, pois escrevi bastantes letras para os Jack & Dante e algumas para a Contentor Records. E foi uma honra e um prazer fazê-lo. A quarentena trouxe de volta o bichinho da música, e fez-me encomendar alguns instrumentos. Vamos ver se a escrita de letras também regressa.
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Em 2011 publicaste o teu primeiro livro “A Devota”. O que te inspirou a escrevê-lo?
Cresci no seio de uma família católica, frequentadora de igreja e com uma bisavó beata, que sabia todas as rezas, de traz para a frente. Foi um tema para mim fácil de abordar e do qual tinha conhecimento de fundo para trabalhar. Sempre morei perto de Sintra e queria também fazer uma homenagem à vila, tendo decidido juntar estes dois temas para contar uma história. 

Em 2014 seguiste com a publicação de “Rio Equilibrium”, uma obra do género fantástico, um género muito distinto daquele em que te iniciaste. Adaptas-te com facilidade aos diversos géneros literários ou requer muita pesquisa e esforço?
Na verdade, Rio Equilibrium foi o primeiro livro que escrevi, mas não o primeiro que publiquei. Tinha dezoito anos quando o fiz. Iniciei-me no género fantástico talvez porque na altura era o género que lia e via mais. Não foi o primeiro que publiquei porque era um livro que precisava de ser aperfeiçoado e melhorado ao longo do tempo. A adaptação a diversos géneros literários não tem sido um problema para mim, mas antes um objetivo, ou uma intenção. Não quero prender-me a um estilo e correr o risco de cansar os leitores ou, pior ainda, fartar-me ou limitar-me. Relativamente à pesquisa, é verdade que este livro requereu imensa pesquisa, talvez tantas páginas quanto o próprio livro. 

Nos anos seguintes lançaste-te no mercado digital com a publicação de dois eBooks, “Oitenta, Diário de uma Vida” e “Livro de Contos e Pensamentos”, através da Escrytos, chancela da LeYa. Como correu essa experiência?
Não posso dizer que tenha corrido bem. Não senti nem motivação nem procura por estes dois livros. Posso assumir alguma da culpa no caso de Oitenta, Diário de uma Vida porque não o promovi nem publicitei devidamente. Porém, o Livro de Contos e Pensamentos teve uma sessão de lançamento no CASA, e foi promovido, mas sem grande sucesso. Penso que o livro em formato digital não foi bem-recebido no nosso país, ou pelo menos amplamente procurado. Também não senti interesse por parte dos blogues literários ou meios de comunicação em promover este tipo de formato, e penso que para que seja mais utilizado e procurado deveria haver uma maior abertura destes intervenientes na sua promoção e divulgação. A minha perceção é que a nível interno, pois não posso falar de além fronteiras, o formato predileto continua a ser o papel.
BREVEMENTE DISPONÍVEL 


Estás agora a trabalhar na publicação de um novo livro, “O Desempregado”. Podes falar-nos um pouco sobre este novo projeto?

Sim, divulguei recentemente a capa e obtive uma excelente resposta. Este é um trabalho que escrevi em 2016 e que tenho vindo a aperfeiçoar e aprimorar desde então. Recentemente achei que estava no ponto e que não poderia ser mais melhorado e decidi que estava na altura de ser publicado. Quanto à história, posso revelar que trata de um desempregado que pouco tem a perder na vida, mas muito a ganhar, e que tem entrevistas muito estranhas e conhece pessoas que o vão levar por caminhos que achava impossíveis. Sei que não revelo muito, mas é mesmo essa a intenção. Não sou a favor de sinopses. 

Para quando prevês o seu lançamento?
Voltei a trabalhar com a Chiado Books, com quem lancei o Rio Equilibrium, e estamos a trabalhar no lançamento para este ano, 2020. A data não está definida devido aos constrangimentos provocados pela COVID-19, mas o livro já está na gráfica.

Como têm reagido os leitores face ao teu trabalho?
As críticas têm sido positivas. E mesmo as menos positivas, têm sido construtivas. A minha escrita tem provocado emoção a quem a lê, e isso para mim é o mais importante. O sítio Goodreads é bom para isso mesmo, ter uma perceção do que os leitores sentiram ao ler as suas opiniões. Convido a visitar.

Se só pudesses ler apenas um único livro para o resto da tua vida, qual seria o privilegiado?
Dom Quixote de la Mancha de Miguel de Cervantes.

Se tivesses de escrever num género diferente, a qual desafio te proporias?
Épico.

O que é que os leitores podem esperar de ti para o futuro?
Diversidade.

Descreve-te numa palavra:
Criativo.

Cri-a-ti-vo
(criar + tivo)
1. Que é capaz de criar, de inventar, de imaginar qualquer coisa de novo, de original, que manifesta criatividade
2. Que favorece a criação