Francisco, sê bem-vindo a este espaço. É um gosto poder conhecer-te melhor e apresentar-te aos nossos seguidores.
Obrigado eu, Letícia, pela oportunidade e simpatia.
Como é que te iniciaste na escrita?
Escrita “a brincar” desde que me lembro de saber escrever. Sempre gostei de inventar histórias, personagens peculiares e momentos de humor.
Escrita “mais a sério”, no sentido em que tornava público os meus devaneios literários, apenas quando criei o blogue Caca Gambuzinos.
Qual o sentimento que te domina quando escreves?
Resposta sincera? Como trabalho durante o dia e só me resta a noite para escrever, o sentimento que me domina quando escrevo é, muitas vezes, o cansaço.
Se o pretendido é uma resposta mais poética, diria a Liberdade, pois a escrita serve muitas vezes como escape ou terapia para aqueles dias mais compridos.
O que é que a escrita mudou em ti, enquanto pessoa?
Trouxe-me alguns cabelos brancos e umas boas horas de sono a menos.
Mas como referi numa pergunta anterior, embora só tenha começado a escrever “a sério” há pouco tempo, a verdade é que escrevo desde sempre pelo que, sinceramente, não tenho nenhuma frase bonita e passível de ser convertida para latim e tatuada no antebraço para partilhar sobre a mudança que a escrita trouxe à minha vida. Lamento imenso.
E enquanto escritor, o que tens aprendido?
Acho que ainda é cedo para receber esse epiteto de “escritor”. Pelo menos ao longo dos anos olho para os escritores como uma espécie de “artistas das palavras”, a quem olho com admiração. Não estou (ainda) nesse patamar.
Mas tenho aprendido que não é uma vida fácil. Para quem tenha o sonho de viver da escrita (que, felizmente, não é o meu caso) enfrenta uma utopia profissional. As pessoas cada vez leem menos e isso reflete-se na (falta de) Cultura de um Povo.
Pessoalmente, e enquanto pessoa eternamente tímida, a escrita é talvez a forma de expressão com a qual me sinto mais à vontade. Ao desenvolvê-la dou-me a conhecer com uma amplitude que, de outra forma, nunca seria possível. Falar pelos dedos é muito mais fácil.
Como definirias a escrita na tua vida: um passatempo, uma necessidade ou um acaso?
Começou como um mero passatempo, mas a verdade é que atualmente já se reveste como uma necessidade, pois escrevo quase todos os dias e, quando não o faço, parece que falta qualquer coisa.
Apesar de te teres licenciado em Ciências da Comunicação, foi no Mestrado em Economia Social e Solidária que descobriste a tua vocação, e agora és o responsável pelo projeto de Responsabilidade Social da Associação Escola 31 de Janeiro. Esta realidade tem algum impacto na tua escrita?
As nossas vivências, gostos e crenças acabam sempre por interferir na nossa escrita, nem que seja de forma inconsciente. Embora “As Crónicas dos Cinco Reinos” não tenha como intuito primário difundir valores humanitários e socialmente responsáveis, a verdade é que em algumas secções do livro essas preocupações e forma de estar acabam por ficar patentes. Gosto de acreditar que o livro tem algumas mensagens no âmbito da amizade, entreajuda e esperança.
És o autor do blogue humorístico “Caca Gambuzinos”. Fala-nos um bocadinho sobre este projeto?
Este blogue é, no fundo, um requintado viveiro de parvoíce.
Da minha parvoíce.
Falo daquilo que gosto e do que me apetece, pelo que acaba por ser um espaço muito pessoal, mas que tem sido acarinhado e bem recebido pelos que vão parar a este meu cantinho recôndito da Internet. Já tenho atualmente mais de 3500 seguidores no Facebook e uns 800 e tal no Instagram. Mais um pouco e já terei quórum para oferecer descontos na Prozis! Quando esse dia chegar a minha existência terá, finalmente, alcançado a sua plenitude.
No blogue tenho várias rubricas: no “Bau dos 90” falo de tudo aquilo que marcou a minha infância na década de 90, desde livros, videojogos, brincadeiras, programas de televisão, cinema, escola, etc; enquanto que na rubrica “Atualidade” abordo temas que marcam o quotidiano, podendo encontrar desde artigos um pouco mais sérios sobre a (eterna) Crise em Portugal ou até um simpático e irónico guia sobre como conduzir numa rotunda.
Mas a rubrica que mais gozo me dá escrever é “As Aventuras do Zé”. Lembram-se dos livros da Anita que marcaram a infância de todos nós? O Zé é uma espécie de versão adulta e deprimente desses clássicos da Literatura infantil.
Assim, podem encontrar aventuras interessantíssimas como “O Zé vai às Finanças”, “O Zé apanha o comboio em dia de greve”, “O Zé vai a uma reunião” ou o “Zé vai a um restaurante vegetariano”.
Se apreciam degustar uma boa desgraça alheia vão adorar o Zé.
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Publicaste o teu primeiro livro no mês transato, “As Crónicas dos Cinco Reinos – Os Firope”. Podes falar-nos um pouco sobre esta obra?
Este livro apresenta-nos o universo fictício dos Cinco Reinos, sendo que um desses reinos é governado por um homem que se autointitula com o Imperador. Este homem controla o seu Império através do medo, da opressão, da manipulação e da corrupção e não se preocupa minimamente com o bem-estar e felicidade dos seus súbditos. Podemos, portanto, facilmente concluir que este homem não é propriamente uma joia de moço.
Para além de tudo isto, este Imperador revela tremenda ambição e sede de poder, pelo que só irá parar quando conseguir concretizar o seu grande e derradeiro objetivo: conquistar os Cinco Reinos.
É no meio deste clima de instabilidade política que surge um grupo de jovens rebeldes, aparentemente inofensivos e sem qualquer força ou expressão para fazer frente e tão poderoso Imperador. Mas a verdade é que, ao longo do livro, este pequeno grupo vai recebendo alguns reforços de peso, vão percebendo como funciona o mundo dos Cinco Reinos e descobrem que a Magia, afinal, não é apenas uma Velha Lenda…
Eu gosto de catalogar as Crónicas como um livro de Fantasia bem-disposta, pois mistura os conceitos clássicos da Literatura Fantástica, como a magia, o sobrenatural ou a aventura, com uma pitada de Humor. Mas será que esta mistela de conceitos funciona?
Tem mesmo de ler para descobrirem.
Como nasceu a ideia para este livro?
A História já morava numa parte recôndita do meu cérebro há uns aninhos. Quando fui para a faculdade passava três horas por dia em transportes públicas (Ah! As saudades destes tempos gloriosos!), pelo que tinha muito tempo para “andar nas nuvens”.
Passar das ideias para o papel aconteceu numa belíssima noite de insónias em que, estando já cansado de me rebolar na cama, resolvi que era hora de fazer uma atividade chata e que me desse sono. Resolvi escrever. Entusiasmei-me.
O dia seguinte no trabalho foi giro.
Este é um livro que mistura humor e fantasia. O que te motivou a enveredar por estes géneros literários?
Fantasia sempre foi dos meus géneros literários favoritos, pelo que era uma escolha óbvia.
Mas muitos dos livros deste género que li eram “muito sisudos”. No fim, sentia sempre que “faltava qualquer coisa”. Essa coisa é o Humor.
Nada me tira da cabeça que uma das razões para Harry Potter ter o sucesso que teve é porque, volta e meia e como quem não quer a coisa, lá aparecia um momento que nos fazia soltar uma gargalhada. Para mim, isso é muito importante.
Neste primeiro volume das Crónicas, os personagens estão constantemente a ser perseguidos e em tensão, pelo que o Humor serve exatamente para descomprimir e para tornar mais fácil aceitar aquilo que é difícil digerir. O Humor é dos maiores bálsamos para a tristeza e para a incerteza. A importância do Humor na nossa vida é algo muito sério.
Qual tem sido a reação dos leitores face a este trabalho?
A minha avó diz que está a adorar!
Mas fora do círculo de feedback suspeito (família e amigos), tenho recebido opiniões muito simpáticas e encorajadoras.
Se só pudesses ler apenas um único livro para o resto da tua vida, qual seria o privilegiado?
Pergunta difícil. Muito difícil.
Mas como não definiste que tinha de ser um livro em prosa vou optar por outra das minhas grandes paixões: a Banda Desenhada.
E tendo de optar apenas por um, a minha escolha recai sobre o clássico “Asterix Legionário”. Para quem gosta de Humor tem de idolatrar todo e qualquer álbum assinado por René Goscinny.
Sei o livro de cor e riu-me sempre.
Se tivesses de escrever num género literário diferente, a qual desafio te proporias?
Tenho na cabeça um thriller histórico passado em Lisboa, durante os tempos da Ditadura e da PIDE. Tenho também uma aventura de ficção científica que retrata o estado do nosso planeta depois do Aquecimento Global. Veremos se haverá a possibilidade e interesse de algum deles sair deste emaranhado de ideias soltas que é a minha cabeça.
O que é que os leitores podem esperar de ti para o futuro?
Vou tentar fazer mais exercício e ter uma alimentação mais saudável.
Ah, e podem esperar a continuação das Crónicas dos Cinco Reinos, assim como a redação regular de artigos para o Caca Gambuzinos.
E no final do ano há a possibilidade de haver um livro das “Aventuras do Zé”.
Descreve-te numa palavra:
Atum.
(Disse a primeira coisa que me veio à cabeça. Penso que não correu muito bem)
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