Agradece o beijo de Ana Zanatti (COMPRAR AQUI) chegou numa nova edição às livrarias portuguesas pela Porto Editora.
Este é um romance soberbo e emocionalmente forte que retrata uma época onde a opressão às mulheres era uma realidade. É incrível como uma narrativa situada no século XX, à época do Estado Novo, encontre tantos pontos em comum com aquela que, infelizmente, ainda é uma realidade inegável para as mulheres da sociedade atual.
É certo que, lentamente, a sociedade vai evoluindo, a mulher ganha independência e a sua voz se vai sobressaindo em meio às ordens dos que a tentam intimidar, mas o mundo ainda não é um lugar completamente seguro para se ser mulher, ainda que ser mulher, nada mais seja do que uma razão para nos sentirmos orgulhosas.
Pela voz das personagens e por um narrador que vai intercalando cada uma destas histórias de vida, acompanhamos Luísa desde o momento em que foi gerada no ventre materno até aos seus quarenta e cinco anos.
Luísa não é uma menina comum, gosta de ser livre, de se fazer ouvir, de contrariar os ideais (sexistas) do pai, contudo, pela mãe Constança, tenta sempre ser a filha que o pai espera que ela seja. Luísa quer que a mãe seja feliz, mas no âmago do seu lar, a alegria quase que não é permitida quando a sombra do pai adentra pela porta.
A história de Luísa, da sua mãe, da avó Vitória que cedeu à paixão, da tia Maria Eugénia que rejeitou o prazer, de Íman que vive presa num corpo de homem e de outras personagens vai-se cruzando, numa época em que as mulheres não podem usar saias curtas, não podem votar, não podem ter opinião, mas têm a obrigação de serem donas de casa, esposas e mães exemplares, jovens recatadas, que frequentam a missa e são submissas ao sexo oposto, como se a sua própria vontade e os seus próprios corpos não fossem delas por direito.
Esta não é uma leitura fácil, é uma leitura emocionalmente forte, que nos arrebata, que nos faz questionar e sentir na pele as emoções de cada personagem. Num mundo marcado pelo preconceito, a visão simples e sábia de uma criança é o mote pelo qual se rege a obra.
Através de uma narrativa coesa e de uma linguagem poética, a autora transporta-nos para a vida de cada um, revelando-nos segredos, levantando véus, fazendo-nos sentir. E que bons são os livros que, acima de tudo, nos fazem sentir.
Sobre a autora
Ana Zanatti nasceu em Lisboa em 1949. Ao longo de 47 anos tem exercido a atividade de atriz no teatro, cinema e televisão e foi, em simultâneo, durante 26 anos, apresentadora da RTP. Autora e coautora de canções, programas de rádio e televisão, documentários e séries, tradutora de peças de teatro, publicou o primeiro romance em 2003. Tem contos e poemas publicados em diversas antologias e colaborou com jornais e revistas, desde o extinto semanário SETE à revista literária Os meus livros, e às revistas Biosofia, Elle e Egoísta, entre outras.
Dedica-se a causas como a Condição Feminina (em 1984 foi uma das 25 mulheres escolhidas para representar Portugal, em Bruxelas, pela Comissão da Condição Feminina da CEE), Defesa dos Direitos LGBT, Conservação da Natureza e Defesa do Ambiente, Defesa dos Direitos Humanos e dos Animais. Recebeu os Prémios Rede Ex Aequo em 2009 e 2012 e o Prémio Arco-Íris em 2011.
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