Olá, Ana. É um gosto poder conhecer-te melhor e apresentar-te aos seguidores deste espaço, para começar: na tua biografia partilhas que começaste a escrever muito jovem, em diários? Como recordas esse início no mundo da escrita?
Recordo-o com alguma nostalgia. Sempre fui uma miúda muito tímida e essa timidez fez com que sofresse de bullying na escola, em vários anos, e na faculdade, o que deixou uma marca muito forte em mim tornando-me numa pessoa reservada e com alguma dificuldade em comunicar com os outros. Lembro-me que o meu primeiro diário me foi oferecido num aniversário aos nove ou dez anos e um dia, sem nada que o fizesse prever, decidi começar a escrever, queria experimentar a sensação de escrever um diário. Era naquelas folhas que guardava as alegrias e as tristezas que ia vivenciando e que desabafava as coisas porque ia passando. Os diários eram o meu refúgio.
Qual o sentimento que te domina quando escreves?
Felicidade plena e realização pessoal.
O que é que a escrita mudou em ti, enquanto pessoa?
A escrita ajudou-me a gerir melhor a timidez, a descobrir o prazer de comunicar com as pessoas e a dar mais valor ao que escrevia; porque eu escrevia essencialmente para mim e não dava grande valor ao que escrevia. Eram coisas minhas. No fundo, deu-me autoestima.
E enquanto escritora, o que tens aprendido?
Em qualquer profissão é preciso ser-se persistente, fazer muito mais e melhor e trabalhar-se muito para se conseguir atingir os objectivos. Um escritor não foge a essa regra porque o mercado é bastante forte e competitivo e aparecem cada vez mais jovens autores e não é fácil vingar. Ser escritor é um enorme desafio porque estamos constantemente a ser postos à prova, é necessário trabalhar muito, ter muita paciência, ser-se persistente, resiliente e ter a abertura e a capacidade de experimentar coisas novas, géneros literários diferentes, por exemplo, adaptando-se assim às circunstâncias.
Foi com a poesia que te iniciaste na publicação, através do título Diário de Uma Vida. Como encaras o processo de escrever poesia?
Escrever poesia é mais fácil e mais leve do que escrever prosa, por exemplo, que é um género mais exigente, com regras mais específicas, onde temos que dar mais atenção aos pormenores; a poesia é um género que mexe mais connosco, com as nossas emoções e sentimentos.
Seguiu-se o teu primeiro romance, “Um Amor Inexplicável” e, mais recentemente, “Ao Teu Lado”. Podes falar-nos um pouco destes romances?
“Um Amor Inexplicável” aborda a temática da doença oncológica num jovem. João Pedro tem 18 anos, é surfista e aficionado por música; porém, quando ele menos espera vai deparar-se com um diagnóstico de leucemia. Nas entrelinhas da sua batalha vai surgir o amor por Laura, uma jovem que frequenta a mesma escola que ele e que o vai apoiar nesta fase difícil.
“Ao Teu Lado” é uma história menos dramática que fala da amizade, de valores essenciais e claro do amor. Ana e Miguel são duas crianças muito diferentes: Ana viveu sempre em Lisboa e Miguel numa aldeia alentejana isolada. Vão cruzar-se numas férias de Verão e se as diferenças os poderiam desunir, neste caso vão uni-los e fazer nascer uma amizade sem igual. Será que eles conseguirão ser amigos para sempre? Durante aquelas férias, eles vão aprender imensas coisas importantes; entretanto, Ana e Miguel crescem e a amizade intensifica-se, tendo que ultrapassar diversos obstáculos para se manter firme, transformando-se mais tarde num amor sem igual.
Como é que estas duas histórias se interligam?
Ana e Miguel de “Ao Teu Lado” surgem em “Um Amor Inexplicável”. Ana é a médica de João Pedro e Miguel, apesar de não trabalhar no meio hospitalar, gosta de fazer voluntariado com crianças e vai ajudar João Pedro a superar a doença. Para além disso, Miguel e Laura conheceram-se durante a adolescência de Miguel quando ele viajou com amigos a Itália. Vão reencontrar-se anos mais tarde.
Como encaras o processo de edição em Portugal?
Infelizmente é um processo injusto e ingrato. Os jovens autores ainda são pouco apoiados em Portugal. O mercado livreiro dá preferência aos autores e figuras públicas que lhes dão lucros imediatos, não dão oportunidade aos jovens autores porque vendem pouco e não são conhecidos. No mercado editorial, a grande maioria das editoras da actualidade (editoras Vanity Press) são editoras para as quais os jovens autores são uma simples forma de ganharem dinheiro, e os nossos manuscritos são apenas um número. São editoras que procuram publicar muitos livros e ganhar dinheiro com isso. O preço para publicar um livro é demasiado alto, estas editoras esquecem-se que muitas vezes um jovem autor ainda não trabalha e que investe as suas economias num sonho. O trabalho executado nem sempre é satisfatório porque a revisão da obra não é rigorosa e nem sempre o livro chega ao mercado. Ser autor em Portugal é muito difícil porque não existe igualdade de direitos.
Lançaste-te numa edição de autor do título “Ao Teu Lado” na Amazon. Como está a correr essa experiência?
Está a correr razoavelmente bem. Tenho consciência que não é fácil vingar lá fora, sendo uma jovem autora desconhecida e com um livro em Português. Por isso, as coisas têm corrido a um ritmo lento.
Escrever é, sem dúvida, a tua essência, tanto que publicaste um e-book há relativamente pouco tempo, Escreviver, onde compilaste vários trabalhos que criaste ao longo dos anos. Como tem sido a reação dos leitores face a este novo trabalho?
As pessoas reagiram bem; quer os poemas, quer os contos foram bem recebidos. É um trabalho diferente que contempla três géneros literários diferentes: prosa, poesia e um pequeno guião de teatro que escrevi que é uma surpresa no final do livro. Queria muito quebrar o ciclo de publicação de romances.
A tua escrita é puramente ficcional ou está intimamente ligada a ti?
Está quase sempre intimamente ligada mim: ao que gosto, às pessoas que me rodeiam, as situações que vivenciei e passei. Gosto de ir buscar inspiração a tudo isso para escrever as minhas histórias.
Já realizaste outros trabalhos no âmbito da escrita? Quais?
Participei em algumas colectâneas. E escrevi um pequeno guião de teatro alusivo ao tema do Natal que era algo que queria muito experimentar.
Se só pudesses ler apenas um único livro para o resto da tua vida, qual seria o privilegiado?
Essa é uma escolha difícil. Escolheria o “Cal” do José Luís Peixoto, foi o primeiro livro dele que li e marcou-me profundamente. É dos meus preferidos.
Quais os temas que gostas de abordar quando escreves?
Amizade, Amor, saudade e perda.
Pensas em publicar novamente?
Sim, mas não para já. Tenho já algumas histórias finalizadas; porém, sinto que preciso de um tempo de pausa. “Ao Teu Lado” exigiu muito de mim na preparação do texto para poder chegar à Amazon.
Se tivesses de escrever noutro género literário, a qual desafio te proporias?
Infantil. Ainda não experimentei escrever para crianças e gostava muito.
O que é que os leitores podem esperar de ti para o futuro?
Sinto que ainda tenho muitas histórias para contar e muitos textos para escrever. Por isso, espero a longo prazo ter algo inédito para lhes mostrar.
Descreve-te numa palavra:
Sonhadora.
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