Andamos todos à procura do mesmo. Queremos o nosso lugar ao sol. Queremos desfrutar dos prazeres da vida. Queremos ser felizes. Negá-lo é quase como negar a nossa existência.

Não importa a nossa altura, as roupas que vestimos, os nossos estudos ou a nossa profissão. Não importam os rótulos que nos impõem ou o estatuto que adquirimos.

Apesar de sermos todos diferentes, todos temos fome do mesmo. Fome de felicidade.

Às vezes, no entanto, na pressa de chegarmos mais longe, batemos de frente uns com os outros. Atropelamo-nos. Esbarramo-nos.

Ficamos fulos da vida com quem atravessa o nosso caminho e torna a nossa felicidade, num lugar distante, que nem sabemos se conseguiremos alcançar. Esperneamos. Choramos. Estávamos lá primeiro. Os outros não têm o direito de nos atropelarem. De nos roubarem.

E eu? – perguntamos. – O que é feito de mim e da minha luta?

Queremos reivindicar os nossos direitos. Culpamos o outro. Mas se todos queremos o mesmo? E lutamos pelo mesmo? Até que ponto, podemos culpar o outro pelas nossas quedas?

O outro também está a correr pela sua felicidade. Não o podemos julgar. Quantas pessoas já demoraram a chegar ao seu destino, porque as atropelamos, mesmo sem sabermos? Tantas…

Culpar o outro é o álibi perfeito. Permite que nos ilibemos da nossa própria culpa. É tão mais simples fazer do outro, o bode expiatório, do que aceitar que as nossas quedas estão quase sempre relacionadas com as nossas escolhas.

O outro pode dizer-nos qual o caminho a seguir. Pode empurrar-nos. Esbarrar em nós. Mas somos nós que escolhemos a direção. São decisões somente nossas, e é injusto culpar os outros.

Culpabilizar quem nos rodeia por cada tropeço nosso, é a nossa condenação. Estamos tão cegos pela nossa fome de viver e sermos felizes, que não somos capazes de aceitar que o outro também corre esfomeado.

Queremos ser felizes. É legitimo. Precisamos lutar. Às vezes fazemos coisas que julgávamos impossíveis. Às vezes corremos desesperadamente por entre o fogo. Às vezes magoamos os outros na tentativa de alcançar a felicidade que acreditamos merecer.

O mais triste é que a felicidade não é o fim da meta, a felicidade é a corrida. A felicidade não é um troféu que vamos exibir no final. A felicidade está no caminho. No presente. No momento. No agora.

Não culpemos os outros por procurarem a sua felicidade, eles, assim como nós, também ainda não sabem que a felicidade não é um prémio que se ganha depois de tudo, a felicidade está nas pequenas alegrias que vamos vivendo, distraídos de mais, para entendermos que ela é uma constante da vida.

Letícia Brito