Rosa, sê bem-vinda a este espaço. É um gosto poder conhecer-te melhor e apresentar-te aos seguidores deste espaço, para começar: Como é que te iniciaste na escrita?
Muito obrigada, foi uma surpresa agradável conhecer este espaço acolhedor e agradeço a oportunidade de poder publicar esta entrevista. Desde sempre estive em contacto com livros e cedo ganhei o gosto pela leitura… o amor aos livros que foi crescendo… Ainda antes de saber ler, todo aquele mundo mágico explícito nos livros, as imagens bonitas que ilustravam as histórias que eram lidas pelos meus irmãos mais velhos e pela minha mãe, fascinavam-me. Comecei a escrever na adolescência, pequenos poemas, e nas cartas que escrevia para familiares, assim como nas redacções (actualmente denominadas composições) para a escola, fazia uma descrição pormenorizada, usando figuras de estilo e a rima. No entanto, só mais tarde com o surgimento das redes sociais comecei a divulgar alguma coisa do que escrevia.

Qual o sentimento que te domina quando escreves?
Escrever é confrontar-se com um mundo de emoções. Criar personagens e dar-lhes vida… assim como a todo o espaço onde elas se movimentam é entrar numa outra realidade… É trilhar os mesmos caminhos que as personagens, sentir alegria, tristeza… e por vezes também chorar, consoante o desenrolar dos acontecimentos. A escrita abre novos horizontes…e tem o dom de libertar, de suavizar o que acontece de menos bom…ajuda a repor o equilíbrio. No entanto, nada se consegue sem dedicação.

O que é que a escrita mudou em ti, enquanto pessoa?
Sinto que estou mais forte perante as adversidades… mais atenta ao que me rodeia. Aprendi a relativizar coisas e atitudes… a não dar tanta importância ao que realmente não tem… e sim, a valorizar as amizades, o que acrescenta algo de bom à vida. Há uma presença, uma sensação de completude muito agradável… sempre presente, mas difícil de explicar por palavras…

E enquanto escritora, o que tens aprendido?
Eu diria enquanto autora e não escritora, pois o caminho ainda é longo… Contudo, à medida que escrevemos e com o tempo vamos aperfeiçoando o nosso trabalho… e adquirindo mais prática. A pesquisa… a busca de coisas novas faz com que o acto de escrever seja um aprendizado constante e muito gratificante. Por outro lado, participar em antologias, publicar livros, conhecer pessoas do meio literário, algumas de países diferentes, é uma experiência enriquecedora que não tem preço.

Como definirias a escrita na tua vida: um passatempo, uma necessidade ou um acaso?
Uma necessidade, sem dúvida!

Nasceste na Madeira e resides em Porto Santo. Estes lugares têm algum impacto na tua escrita? 
Naturalmente, a maior parte do que escrevo tem a ver com as ilhas. Madeira, onde nasci e vivi até aos dezoito anos e Porto Santo onde resido. Duas ilhas muito próximas, contudo, muito diferentes na sua orografia. Cada uma com a sua beleza e particularidades… eu costumo dizer que uma completa a outra. A Madeira é uma ilha montanhosa com bastante verde… rica em água e terrenos férteis, possui belíssimas paisagens… e é considerada a pérola do Atlântico. Tem clima ameno, que é comum às duas ilhas, faz com que haja turismo durante todo o ano. A ilha do Porto Santo, embora mais pequena e com menos verde, é dotada de uma praia maravilhosa… que é o nosso ex-líbris. São nove quilómetros de praia… com areia suave e dourada. Todos os anos, especialmente na época balnear vêm milhares de pessoas de todos os cantos do mundo… imensos casais jovens com crianças, para usufruírem das águas límpidas e mornas, da paz e do sossego da ilha. São também muitos os que vêm em busca de cura para os seus males, pois as areias da praia são medicinais… e por ser uma ilha pequena tudo é relativamente perto. Eu vivo no Porto Santo, aqui passei a maior parte da minha vida, casei, criei os meus filhos… e tenho preciosas lembranças. Porém, de vez em quando, preciso de visitar a minha ilha de origem, e não abdico desta condição… de estar dividida entre as duas ilhas, ambas de grande importância para mim.

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Publicaste o teu primeiro livro em 2016, Mar Em Mim, que já se encontra na 2ª edição. Podes falar-nos um pouco sobre essa experiência?
Foi uma óptima experiência. «Mar Em Mim» é um livro de poesia que fala da beleza das ilhas, tendo como tema principal o mar. O imponente mar… por vezes adverso, que separa e causa isolamento, mas também o mar calmo e pacífico, como um amigo que nos proporciona alimento e bem-estar… caminho aberto ao exterior… Embora nos dias de hoje a dependência do mar seja menor, devido ao desenvolvimento técnico e económico, o mar ainda é um elo de ligação fundamental para quem vive nas ilhas e está sempre presente nas nossas vidas. Mas o tema das desigualdades e injustiças sociais são já abordados neste primeiro livro… porque é uma situação alarmante, dorida e que desde sempre me preocupa… 

Entretanto seguiu-se, Prisioneiros do Progresso, em 2017. O que te inspirou a escrever uma obra de temas tão fortes?
«Prisioneiros do Progresso», é um conjunto de textos poéticos que foram surgindo como um desabafo, um grito de revolta por todas as formas de injustiça e aniquilação praticadas contra o ser humano… pela indiferença e abandono com que as grandes potências económicas a nível mundial encaram a situação do mundo actual. A pobreza extrema em que uma grande parte da humanidade ainda vive, principalmente nos países subdesenvolvidos. A fome que todos os dias faz milhares de vítimas… e a grande maioria são crianças. A violência dos terríveis atentados, dos incêndios, das guerras inúteis… que tudo destroem e provocam muita dor e sofrimento. Mas também a forma insensível como temos vindo a tratar o Planeta, em nome do progresso… provocando-lhe danos irreversíveis, desequilíbrio. O Planeta é a nossa casa e ao destruí-lo o homem caminha a largos passos para o abismo da destruição… para a anulação de si próprio. E cito uma frase de François Mauriac, onde ele diz: «De nada serve ao homem conquistar a Lua se acaba por perder a Terra.» Outro tema abordado em Prisioneiros do Progresso, é o problema da demasiada valorização das tecnologias… que apesar de serem úteis, estão a criar dependência nos nossos jovens, impedindo-os de estudar, de pensar e agir… contribuindo largamente para o isolamento e desumanização…para uma sociedade especificamente materialista e tecnológica… pobre em sentimentos, em bons valores… que são e sempre foram imprescindíveis à vida, a uma sociedade saudável e equilibrada.

És imparável no mundo da escrita e agora estás a trabalhar num novo livro que será lançado em breve. Estás disposta a desvendar o título aos leitores curiosos?
«O VÔO DA GARÇA» é o título do meu novo livro.

E podes falar-nos um pouco sobre essa nova obra?
É um livro de contos, (vinte ao todo) que abordam factos do quotidiano. Todos foram escritos com base em algo que aconteceu de verdade, casos que presenciei ainda na adolescência, outros mais recentes. Todos têm algo de real, mas também de ficção. Alguns passam-se nas ilhas, outros fora delas… em quase todos há sempre alguém com ligação às ilhas.

Como achas que será a reação dos teus leitores face a este novo trabalho?
É o meu primeiro livro em prosa e acredito que vai ser bem aceite. A maioria dos leitores preferem a prosa à poesia e penso que será um factor que contribuirá para a divulgação do livro.

Já participaste em antologias poéticas e encontros de poetas. Como correram essas experiências?
Correram muito bem! E apesar de nem sempre poder participar por motivos profissionais, digo que é pena não se realizarem com mais frequência, porque é sempre gratificante participar em algo que tenha a ver com a escrita, com a cultura, além do convívio… aprende-se muito na troca de ideias… no contacto com culturas diferentes da nossa. Geralmente nas tertúlias de poesia ou contos, lêem-se também os poetas e escritores consagrados, relembrando e dando a conhecer as suas obras, despertando o interesse pela leitura, a quem está presente. 

Se só pudesses ler apenas um único livro para o resto da tua vida, qual seria o privilegiado?
Seria muito difícil para mim escolher um único livro. No entanto, confrontada com uma situação limite, escolheria um clássico, o mais completo possível… talvez um romance, cuja leitura seria apaixonante e ao mesmo tempo exemplar…

Se tivesses de escrever num género diferente do teu registo atual, a qual desafio te proporias?
Talvez a crónica, apesar de eu sentir que a minha escrita será sempre entre a poesia e o conto, com alguns poemas e histórias para crianças que também gosto de escrever.

O que é que os leitores podem esperar de ti para o futuro?
Pretendo continuar a escrever e a participar em algumas antologias e revistas. Porém, a seguir ao «VÔO DA GARÇA» gostava de publicar o livro para crianças que era para já ter sido publicado... No entanto e sem fazer planos a longo prazo, porque a vida está sempre a surpreender-nos e quase nunca acontece como idealizamos… deixo que as coisas aconteçam, cada uma a seu tempo…

Descreve-te numa palavra:
Perseverante.