Suzete, sê bem-vinda a este espaço. É um gosto poder conhecer-te melhor e apresentar-te aos seguidores deste espaço, para começar: Como é que te iniciaste na escrita?
Obrigada pelas boas-vindas. É sempre muito agradável conhecer novos espaços, novos autores e aprender com a experiência de cada um. O gosto pela escrita andou comigo de mãos dadas desde a escola primária, onde tive a sorte de ter uma professora excecional. Ingressei muito cedo no mercado laboral. Tinha o sonho de ter uma carreira de sucesso, à custa de muito trabalho, esforço e dedicação. Acontece que o segredo para o “sucesso” não requer nada disso. Por vezes, um estômago forte para lamber botas, um corpinho de modelo e maquilhagem q.b. são os únicos requisitos necessários na escalada para o sucesso. Bem, não combina com a minha ideia de sucesso. No entanto, depois de perceber isso, esbarrei num beco sem saída. Aquilo em que me tornara exímia, profissionalmente, nunca me levaria além do salário mínimo. O vazio foi tão grande, para não falar da desilusão! Por essa altura, surgiram dois anjos na minha vida: o João e a Sofia. Eles tiveram a capacidade de me ver para lá de mais um número em busca da conclusão do ensino secundário. “Porque não aposta na escrita criativa?” – perguntaram-me.  E foi essa a minha tábua de salvação. Comecei a escrever para antologias e concursos. Aqui, só dependia de mim e da minha vontade.

Qual o sentimento que te domina quando escreves?
Felicidade! Numa palavra só, é isso mesmo: felicidade. Conseguir o parágrafo perfeito, a reviravolta de génio, a ideia brilhante… sei lá, é o paraíso! 

O que é que a escrita mudou em ti, enquanto pessoa?
Ui… Tanta coisa! Menos ignorante, para começar. Mais atenta, observadora. Menos ingénua, é certo… já não acredito em histórias da Carochinha. Acima de tudo, devolveu-me a esperança e fez-me provar o sentimento da realização.

E enquanto escritora, o que tens aprendido?
Não me considero escritora. Mas sim, enquanto autora, a aprendizagem é uma constante. Aprendi a brincar com as palavras, a não ter medo de as usar. E esforço-me por respeitá-las. Por isso, estou sempre em busca de conhecimento, seja num livro ou num simples rótulo dum frasco de pimenta. 

Como definirias a escrita na tua vida: um passatempo, uma necessidade ou um acaso?
A escrita foi um acaso necessário para dar vida à minha existência. Só vivo realmente nas horas em que escrevo. O resto do tempo… é trabalhar para pagar as contas. 

Qual o género literário que eleges para a tua escrita?
Sem talento algum para a poesia, é na prosa que me sinto em casa, sob a forma de contos. É uma escolha pensada na sociedade que temos: poucos hábitos de leitura, pouco tempo, pouco dinheiro…
Mas um dia, quando for grande, gostaria de tentar romances e trilogias. Para já, sem nome no mercado, seria um risco muito grande lançar-me com calhamaços.


Publicaste o teu primeiro livro em outubro de 2016, Almas Feridas. Podes falar-nos um pouco sobre este livro?
Almas Feridas é uma compilação de contos sobre os diversos sentimentos que nos ferem a alma. São estórias muito variadas, onde facilmente o leitor se pode identificar nos enredos envoltos em mistério, paixões, vícios, inveja, desamores… 

O que te motivou a escrevê-lo?
A ideia inicial nunca foi a publicação de um livro. No entanto, à medida que o retorno das críticas ia sendo favorável, senti necessidade de editar tudo num só livro, minimizando assim os custos para os leitores.  

Como foi a reação dos leitores face a esse projeto?
Os leitores reagiram de uma forma tão carinhosa e empenhada que nem em sonhos julguei ser possível. Tive (e tenho) uma leitora que nunca tinha comprado um livro para ler. Ainda não estava o livro pronto e já tinha feito a sua reserva, isto apenas com base nos excertos que ia publicando. Ficou fã. Tenho ainda o privilégio da sua amizade. Excedi largamente a expetativa de vendas, tive uma forte presença no lançamento – algo inédito nos dias de hoje. Como se não bastasse, os meus leitores criaram um hábito muito giro e nunca visto com qualquer outro autor: fotografar o livro onde quer que fossem ou estivessem. Tenho fotos do “Almas Feridas” na República Checa, Londres, Colónia, Madeira, Lisboa, Suíça, Flórida, Paris, Leça do Balio, Trás-os-Montes, Douro… Tenho os melhores fãs do mundo! Ignoraram a minha pequenez e fizeram-me sentir especial. 

Entretanto já publicaste outras obras em coautoria. O que te levou a enveredar por esse caminho?
Verdade, faço parte do grupo “Pentautores” que, como o nome indica, é um grupo de cinco amigos, malucos pela escrita: eu, Ana Paula Barbosa, Manuel Amaro Mendonça, Jorge Santos e Carlos Arinto. Publicámos “Antes quebrar que torcer”, cujo tema se prende com as Invasões Napoleónicas e “Além” com enredos muito diversificados, sob o mote além. E já estamos a pensar no terceiro… fiquem atentos! São experiências extremamente enriquecedoras; cinco estilos diferentes, muita diversão, mas também muita aprendizagem. Para além da experiência que vamos acumulando, é uma forma de divulgar os nossos nomes, de não cair no esquecimento, nem ceder à tentação da preguiça. Os desafios fazem-nos manter o sangue em ebulição.

Se só pudesses ler apenas um único livro para o resto da tua vida, qual seria o privilegiado?
Ah, uma pergunta com rasteira! São mais os livros que ainda não li do que os que li, por isso acho que a escolha recai sobre o livro que ainda não foi lido ou escrito. Não que não houvesse já uma lista de candidatos, mas…

Se tivesses de escrever num género diferente do teu registo atual, a qual desafio te proporias?
Não posso descartar nada até experimentar, mas a tentar algo diferente seria à volta do fantástico ou ficção científica, isto, sem abdicar da crítica mordaz, tipo Amélie Nothomb.

O que é que os leitores podem esperar de ti para o futuro?
Não se deve fazer promessas em dias de sol. Uma coisa garanto: nunca abdicarei do rigor em detrimento do lucro. Para mim, é fundamental não induzir os leitores em erro. Dou muita importância à revisão, todos nós erramos, ninguém sabe tudo. Portanto, assumir a minha ignorância e tentar minimizá-la ao máximo é o que podem esperar de mim.

Descreve-te numa palavra:
Afortunada.