Carlos, sê bem-vindo a este espaço. É um gosto poder conhecer-te melhor e apresentar-te aos seguidores deste espaço, para começar: Como é que te iniciaste na escrita?
A escrita para mim sempre foi um gosto antigo, começou pela leitura dos livros que tinha em casa, as obras que a minha mãe trazia para casa e incentivava essa minha iniciativa, já que ela própria é professora. Agora a escrita surgiu mais na altura do meu sétimo ano, e sei disso porque, na altura, tínhamos intervalos curtíssimos e o edifício do meu colégio tinha vários andares, sendo que, em perspetiva, não daria para aproveitar em pleno esse período de tempo, só daria mesmo para descer e subir escadas. Mas como também não daria para estar na sala durante essa pausa, em vez de descer, preferia pegar num caderno e sentar-me próximo da sala e escrever histórias que me lembrava de antemão. Como não era muito original com as personagens, punha pessoas reais da minha turma e adaptava-os para os eventos da minha história. De certa forma, o meu gosto pela escrita surgiu de uma forma inerente, sendo que o espaço de tempo até esta obra [Definições] serviu para me melhorar enquanto profissional até que me sentisse preparado para avançar.

Qual o sentimento que te domina quando escreves?
É um bocado paradoxal enquanto escritor, mas muitas vezes não consigo definir o sentimento que me surge nas alturas em que escrevo. Umas vezes sinto-me numa espécie de transe, outras vezes numa solidão virtual, ou seja, como se fosse só eu e o meu computador ou caderno, num sentimento solitário de desabafo, independentemente do espaço ou do número de pessoas presentes no espaço onde escrevo, o que acontece quando escrevo na loja do meu pai ou num café. Mas o sentimento que sobressai mais frequentemente na minha escrita, é um bocado complicado de explicar mas vou tentar, é um sentimento de ânsia ou sufoco, um bocado como se estivesse a afogar-me numa zona profunda e escura, que é a zona onde posso conhecer elementos que nunca pensaria de outra forma. E, quando termino o processo, ou o ato da escrita começa a ser mais forçado, sinto o meu corpo a elevar-se para a superfície, indicando o final desse processo sentimental. Acredito que seja complicado de entender, mas é assim que me sinto a escrever.

O que é que a escrita mudou em ti, enquanto pessoa?
Definitivamente deu-me um maior sentido à vida. Criou em mim uma ambição tão enorme que muitas vezes acho que o que as minhas criações serão maiores do que eu, e que terei de sacrificar a minha vida, sendo um escriba das personagens que sei que não são verdadeiros, mas dentro de mim acabam por ser cada vez mais reais. Esse sentimento cresceu tanto em mim que a melhor expressão para definir esta minha paixão é uma das frases mais conhecidas de Charles Bukowski: “Encontra algo que ames e deixa isso matar-te”.

E enquanto escritor, o que tens aprendido?
Que fiz bem aguardar um espaço de tempo de mais uma década até libertar uma primeira obra. Digo isto porque, apesar da minha crescente paixão pela escrita, reconhecia que não tinha profundidade ou conhecimento suficiente para tornar cada conteúdo meu em algo rico, produtivo ou desafiante para o público que ainda terei de conquistar. Senti que ainda teria de criar a minha voz, um timbre único que não só seja autêntica e sincera, como também resulte como uma referência para qualquer seguidor do meu trabalho, porque, para mim, nada é mais interessante uma pessoa ver uma conjunção de palavras, palavras essas que são de todos e ditas por todos, e conseguir entender essas mesmas como algo que eu escrevi na minha obra, quase como se fosse uma marca registada da minha escrita. E é isso que tenho aprendido, e que ainda continuarei a aprender.

Como definirias a escrita na tua vida: um passatempo, uma necessidade ou um acaso?
Certamente uma necessidade. Se conseguir viver unicamente da escrita, tanto na música, cinema, televisão ou teatro, serei uma pessoa completa.

Licenciaste-te em Comunicação e neste momento estás a tirar o mestrado em Desenvolvimento de Projeto de Cinema. Esta formação tem algum impacto na tua escrita?
Neste momento irei alterar o meu mestrado para pós-graduação e estou a dias de receber o certificado de finalização desses mesmos estudos. A escolha da minha licenciatura surgiu mais por ser um curso amplo que abre portas a várias áreas que aprecio, já a pós-graduação surgiu mais no facto de querer algo mais direto no que desejo, procurando consagrar-me num meio à qual não teria contactos que me providenciassem essa experiência, ao contrário do resto, que tive sempre amigos ou familiares ligados ao jornalismo e entretenimento. Mas sim, esses cursos surgiram como um meio para atingir um fim, fim esse o meu gosto pela criação.

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Publicaste o teu primeiro livro em janeiro, Definições. Podes falar-nos um pouco sobre esta obra?
Uma coisa engraçada sobre a minha obra é que, por mais eventos que eu fale dela, sinto sempre que haverá algo que ficou por contar. É uma coisa que não consigo evitar. Definições trata-se de uma obra poética focada em definir cada tema conhecido de forma universal, temas que vai de mãe a banana, por exemplo, e definir cada uma delas com a lógica e filosófica, como um dicionário, balanceando com o sentimento e o existencialismo proveniente de um poema. A partir deste pensamento, o leitor não só irão ver cada tema numa perspetiva diferente, bem como incentiva o fator inerente do ser humano que consiste no processo de ler o que escrevi, buscar dentro de si as suas próprias definições e analisar os versos que escrevi, concordando comigo ou não. Ou seja, não surge como um ato de manipulação, mas sim como um incentivo ao autoconhecimento. A partir daí, a obra pode resultar em muitos aspetos simbólicos, como uma introdução a mim enquanto escritor, ao que sou e ao que poderei ser, as minhas ideologias, o meu estilo de escrita, vários elementos que fazem da minha obra tão rica que ainda hoje me surpreendo com o resultado final.

Como nasceu a ideia para este livro?
Tal como mencionei, esta obra de poesia surgiu como mero acaso. Numa altura em que me sentia bloqueado criativamente com algumas das histórias que agora entendo que exigem uma maior complexidade e profundidade. Nisto, fui incentivado a participar num prémio literário de um autor que, para mim, é um dos melhores autores portugueses da atualidade, o José Luís Peixoto. O concurso consistia em criar apenas vinte poemas com um determinado tema. Eu escrevi os tais vinte poemas, mas os temas eram tão divergentes entre si que o único fator que os poderia interligar era, de facto, cada poema ser uma definição de cada tema. Acabei por não vencer, também soube umas semanas antes e não tive tanto tempo para aprofundar os poemas devidamente. Mas uma coisa aconteceu, que foi a naturalidade criativa com que esta temática me surgiu. E nisto surgiu uma questão que alterou a minha vontade de querer iniciar com uma ficção, que foi “Como deveria iniciar um mundo de histórias divergentes a um público sem eles primeiro saberem que eu sou?”, a partir daí peguei nesses vinte poemas, reescrevi-as, escrevi outras cento e oitenta e formulei o trabalho final que agora as pessoas podem ler.

Qual tem sido a reação dos leitores face a este trabalho?
Tem sido ótima. Aliás, tem sido a melhor vertente desta jornada. Todas as pessoas que compraram, mesmo pessoas que são rígidas e exigentes com a leitura, elogiaram a minha obra como diferente, original e com boas e novas ideias. Até em apresentações, mesmo aquele público que acaba por não comprar o livro, acabam por elogiar a minha ideia e as coisas que ofereço ao vender a minha obra. Toda esta ideia positiva é o que me tem dado mais vontade de continuar.

Se só pudesses ler apenas um único livro para o resto da tua vida, qual seria o privilegiado?
Esse tipo de perguntas são extremamente complicadas para mim, porque não gosto de sustentar a minha vida a uma obra, porque, no final de tudo, trata-se de uma ideologia do autor em questão, e uma ideologia não é a de todos, as verdades são de cada um, e isso não traria diversidade para ninguém, o que não seria frutuoso para mim. Se essa hipótese fosse real, provavelmente viveria sem nenhum livro, e seria eu a criar as minhas próprias histórias para eu ler para o resto da minha vida, sacrificando o conhecimento para lá dos mundos em que vivo.

Se tivesses de escrever num género literário diferente, a qual desafio te proporias?
Como um autor que procura abranger histórias aos mais variados géneros, a minha carreira será focada na sua própria diversidade. Tenho um mundo de histórias, um mundo de personagens, cada um deles pronto para contarem a sua história. Talvez as que exigirão mais esforço da minha parte serão as áreas de fantasia ou de ficção científica, porque exigem um mundo credível e abrangente. Mas histórias não me faltam, o que falta é abordá-las e lançá-las aos leitores, para experienciarem o mundo dentro de mim.

O que é que os leitores podem esperar de ti para o futuro?
Podem esperar pelo menos uma história a cada ano. O do próximo ano será um romance e tenho pretensões de lançar na segunda metade do ano, talvez setembro. Podem esperar histórias infantis, de terror, policiais, histórias de fazer pensar em nós e na sociedade em geral. Podem esperar curtas e longas-metragens cinematográficas, séries e programas, podem esperar colaborações musicais, caso a oportunidade surja, podem esperar peças de teatro originais. Podem esperar uma carreira com mil e uma histórias por contar, pois é assim que pretendo sair da minha vida.

Descreve-te numa palavra:
Considero-me uma pessoa criativa, ambiciosa, mas ao mesmo tempo ansiosa por cada trabalho meu. Considero-me um orador de todas as vozes que se inserem em cada história que irei contar. E acima de tudo considero-me uma pessoa abrangente, com vontade de experimentar tudo, querendo não só fazer tudo o que é focado nas letras, mas experienciar todas as artes, como música, direção, ator, voz-off de animação, todo um aglomerado de trabalhos para preencher a minha vida com mais conteúdo.