Fabricius, sê bem-vindo a este espaço. É um gosto poder conhecer-te melhor e apresentar-te aos seguidores deste espaço, para começar: como é que te iniciaste na escrita?
Muito obrigado, Letícia, por me apresentar aos teus seguidores. Igualmente para mim é um prazer.
Eu escrevo desde sempre. Tão logo aprendi a ler e escrever, já me encontrava a inventar coisas. A poesia, que me sai pelos poros, chegou a mim naturalmente, creio que mesmo antes de eu compreender mais sobre o género. Sempre tive o cuidado de datar e guardar a maior parte de meus poemas. Nunca havia planeado publicá-los, pois escrevia para mim. Era uma coisa muito pessoal até o dia em que notei ter acumulado um número razoável de poemas. Foi quando, tomado por uma audácia imensa, apresentei meu original a algumas editoras. Para minha grande surpresa, todas elas o haviam aprovado e eu escolhi a que me fez a melhor proposta de edição. Assim foi que Heráldica nasceu.

O que é que a escrita trouxe à tua vida?
Eu diria que a escrita me trouxe uma melhor compreensão do caótico de mim mesmo, exteriorizando coisas muito profundas e reorganizando minhas ideias e sentimentos no papel, onde é mais fácil de ver.

O que te motiva a escrever?
Quase sempre dores muito profundas, sentimentos recônditos que eu necessito verter para não sucumbir. São coisas que vou acumulando conforme minha leitura da vida, observações e reflexões das quais não posso fugir. Eu sempre brinco dizendo: — “eu não nado no raso”, e justamente por ser sempre tão circunspecto e intenso, não raro, me esgoto de mim mesmo. Em momentos como esses, a poesia é um maravilhoso veículo de sobrevivência.

Não é, no entanto, apenas a escrita que é parte essencial da tua vida, a dança e o canto também o são. És um jovem extremamente ligado ao mundo das artes. Como concilias a arte com as restantes áreas da tua vida?
Responderia melhor dizendo como concilio as demais áreas da minha vida com a arte. Não é fácil! Entretanto, para mim a arte sempre virá em primeiro lugar.

És natural de São Paulo. A cidade onde nasceste tem influência na tua escrita?
De certa forma. Entretanto, eu creio que São Paulo em si nunca tenha sido assim tão determinante ou influente no que me saiu de poético até hoje. Digamos que a cidade tenha me influenciado pouquíssimo.

Tens algum ritual de escrita?
Absolutamente nenhum. Sou indisciplinado e até, às vezes, um pouco preguiçoso. Normalmente escrevo à noite, na madrugada. Sou notívago e esses são, geralmente, meus momentos de maior produção.

Escreves só quando vem a inspiração ou escrever é um rito que praticas independentemente das circunstâncias?
Só quando vem a inspiração. Jamais pude me sentar e por-me a escrever intencionalmente. É um processo totalmente incerto.

Em agosto do ano transato publicaste o teu primeiro livro, Heráldica. Podes falar-nos um pouco sobre ele?
Na verdade, ele foi publicado em julho do ano passado. Heráldica é um livro composto por oitenta poemas desditosos de amor. Seu título alude, metaforicamente, ao universo dos contos de fada, de modo que a temática situada neste contexto encontra muitos elementos, inclusive lúdicos, para se desenvolver. Apesar de não parecer, a obra tem uma essência otimista, que não desiste de sonhar e busca por força para lidar com as frustrações impostas pela vida real.

Trata-se de um livro de poesia. O que te inspira a escrever neste género literário?
Como já disse, a poesia me sai pelos poros. Nunca fora uma escolha deliberada. Ela é apenas natural para mim, inclusive poesia em prosa. Eu confesso que me sinto extremamente confortável neste género. Sinto-me livre. Quanto as inspirações, depende muito... geralmente são experiências que observo, coisas da vida que me afetam de alguma forma... Pode ser qualquer coisa.

Como tem sido a reação dos teus leitores face a este trabalho?
Muito positiva felizmente.

A poesia ainda é um género muito subestimado. Alguma vez sentiste esse preconceito na pele? 
Já senti na pele toda sorte de preconceitos. Acredito que ninguém está livre disto em algum ponto da vida. Não dou importância, todavia. Felizmente até agora, não tive nenhuma reação preconceituosa em face a minha poesia.

O que podem os teus leitores esperar para o futuro?
Além de tentar me manter minimamente resiliente, nada posso prometer a eles ainda. Apesar de já ter passado um ano, ainda me sinto vazio. Escrevo eventualmente e tenho algumas boas coisas guardadas, mas eu ainda necessito de tempo para criar seja o que for. A mim me parece ter sido ontem o lançamento de Heráldica.

Tens algum novo livro a ser preparado?
Seria extremamente precoce se eu dissesse que sim, e em verdade, não tenho.

Pensas publicar novamente?
Eventualmente sim.

Se só pudesses ler apenas um único livro para o resto da tua vida, qual seria o privilegiado? Estás me propondo um grande dilema. É quase impossível eleger apenas um! Eu não sei... talvez “Felicidade Clandestina” de Clarice Lispector.

Se tivesses de escrever noutro género literário, a qual desafio te proporias?
Letras de música, dramaturgia ou roteiros para cinema (se é que se pode chamar a este último de literatura.) Mas, nada como a poesia..

Descreve-te numa palavra:
Beleza.