Duarte perdeu temporariamente quatro anos de
memórias. Esta é agora a sua única certeza. O que resta do acidente são dúvidas
e um puzzle de emoções, num Mundo em que ele já não se encaixa e onde as
histórias estão por explicar.
A sua missão é agora descobrir a verdade, num
cenário em que a sua maior batalha é ele próprio. Ele sabe que a noite que
permitia enterrar o passado, é a sua maior inimiga.
Uma corrida contra o tempo, rodeada de esquemas,
segredos e um passado por se lembrar.
OPINIÃO
Esta semana finalizei mais uma leitura – E QUE
LEITURA!!! –, desta vez de um escritor – e amigo – português; o Diogo Simões.
Em 2014, o Diogo deu a conhecer o seu primeiro
livro O Bater do Coração, livro muito acarinhado pelos leitores, e
seguiu-se, P.S. Ficas Comigo?, obra publicada em 2017 no Wattpad.
Em janeiro presenteou-nos com um novo título, Esquecido,
publicado sob a chancela da Cordel D’ Prata.
Já conhecia a escrita do Diogo e sabia que estava
perante um grande talento, para além de estar perante um jovem fantástico e de
uma simpatia invejável, já que o mesmo me tem acompanhado desde que cheguei à
blogosfera (em 2015). Com o Diogo travei muitas conversas sobre a escrita,
sobre o panorama literário português, trocamos ideias e ajudamo-nos mutuamente.
Diria até, que foi um presentinho que a escrita me
deu, porque, infelizmente, é comum encontrarmos autores que olham somente para
o seu umbigo, com medo de que lhes façamos concorrência, mas o Diogo é o oposto
de tudo isso. Sempre prestável, sempre a dar-me dicas, a corrigir-me, a ler-me
e sobretudo a incentivar-me. É bom, encontrar neste meio, alguém que possamos
chamar de «amigo».
Mas não é para falar do Diogo que cá estou hoje, e
sim, do seu mais novo projeto.
Comecei a leitura do Esquecido e fiquei rendida logo
nas primeiras páginas. O Diogo apresenta-nos uma narrativa bem
construída, coerente e pensada ao pormenor. Carregada de suspense da
primeira à última página! A sua linguagem é concisa e bastante
direta.
O Diogo construiu personagens reais, consistentes e
muito intensas, que nos cativam, com quem facilmente criámos
empatia, que nos emocionam em muitos momentos da leitura e nos chocam em outros
tantos.
Esquecido acompanha a história do jovem Duarte Mota
que após se ver envolvido num acidente de automóvel, perde quatro anos de
memória. A pergunta que se impõe é «E se perde quatro anos de
memória?», uma questão bastante pertinente, sendo que o autor constrói
uma narrativa bastante fidedigna e o mais próximo possível da realidade.
Ao acordar e perceber que as memórias de quatro anos
da sua vida desapareceram, Duarte entra num remoinho de emoções e sentimentos.
O mundo que julgava conhecer, está mudado. Em quem poderá Duarte confiar? É
neste ambiente de redescoberta e mistério que toda a narrativa se constrói.
Duarte vê-se envolvido numa investigação de um
esquema de drogas, com duas namoradas Filipa e Catarina, distante do pai que
violentava a mãe, e para além de ter de encarar tudo isto, tem de lidar com a
perda do melhor amigo.
Este livro trata de temas desde sempre atuais, como
a violência doméstica, as drogas, a homossexualidade e
a paixão pela arte, sim, porque o Duarte é um artista, e a noite
fatídica que lhe roubou as memórias, era também o «começo» de uma grande
carreira da qual Duarte não se consegue lembrar inteiramente.
Em suma, temos aqui um livro de um jovem
autor português ao nível dos grandes best-sellers internacionais. Um
livro intenso. Cru. Onde nada é o que parece e onde o suspense
se mantém até ao final. Quando acreditamos que desvendamos o mistério, o Diogo
mostra-nos que ele ainda está apenas a começar.
Uma intensidade que só senti quando li A Rapariga no
Comboio ou A Filha do Pântano, com a vantagem de ser nacional e ser muito
melhor!
Letícia Brito
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