A maioria
das pessoas não compreendeu ainda o que é o casamento. Por ingenuidade, por
falta de atenção ou mesmo irresponsabilidade.
Não compreendem. Confundem o
casamento com um papel e duas alianças, quando o casamento não é material, nem
se assina. É uma coisa de almas.
É quando
duas pessoas se amam tanto ao ponto de permitirem que as suas almas se fundam
uma na outra, se entranhem. Debaixo da carne, da pele e dos ossos. Dentro do
peito. Além do infinito. Isso é o casamento.
Grande parte
das pessoas casa somente uma vez. Casam no dia em que marcaram no notário. Casam
porque é verão e porque o bom tempo já chegou, garantindo que as roupas pimponas
poderão ser usadas sem restrições. Casam porque gostam de festas. Casam porque
têm dinheiro. E porque lá conseguiram arranjar uma quinta com piscina
disponível e a bom preço.
Partem uma
semana de férias para Palma de Maiorca e quando regressam já estão divorciados
emocionalmente. Isto, porque se esquecem de casar nos dias seguintes. Porque se
esquecem daquilo que o casamento representa. Mais do que a boda, as prendas e o
fogo de artificio. O casamento precisa de alimento assim como o amor.
Não basta
casar no dia x, é preciso casar em todos os outros. Sobretudo, nos dias menos
bons. Esquecem-se de casar no dia em que chegam tarde do trabalho. Esquecem-se
de casar no dia em que a conta da água foi maior. Esquecem-se de casar no mês
em que o dinheiro foi escasso. Esquecem-se de casar quando o carro avaria e
quando os filhos adoecem.
Esquecem-se
do outro. Do juramento de fidelidade, amor e entrega que fizeram no início de tudo.
O outro chora e nós resmungamos. Nós choramos e o outro não nos compreende.
Não se pode
casar só uma vez, é preciso ter noção de que o casamento requer esforço mútuo,
entrega total e paixão desmedida. Se irão existir dias maus? Pois, claro que
sim. Mas esses dias maus não podem ser motivo para que os pares se afastem, se
retraiam, e evitem qualquer contacto. Às vezes, as pessoas vivem o casamento
num constante processo de divórcio. Não o formalizam. Nem sequer se apercebem. Somente
quando já é tarde, quando não há solução, quando tudo o que havia para dar, já
foi dado e dado e dado.
Acredito no
amor e no casamento. No casamento da alma. Quando expurgarmos qualquer
sentimento menos agradável em prol do amor e do outro. Quando afastamos a dor e
a raiva. Quando exterminamos a frustração e a impotência. Quando há entrega e
partilha.
O amor não é
uma obrigação, não é um contrato nem carece de nada exterior para subsistir,
além de nós mesmos. Da nossa dedicação. Da nossa união. Da nossa força.
O casamento
não pode ser visto como uma forma de manter o amor, porque o casamento é o
próprio amor. Há pessoas que vivem até ao último suspiro, unidas e apaixonadas,
fiéis ao outro e a si mesmas, sem que nunca tenham formalizado o que quer que
seja. E, no entanto, há pessoas que vivem na mesma casa toda uma vida, e separadas
até ao último suspiro. Emocionalmente divorciadas. Infelizes.
O casamento
só faz sentido se as pessoas se dispuserem a casar até ao fim. Diariamente. Sem
medos. Com a certeza de que haverá dias maus, mas que esses dias maus, não poderão
anular o que há do lado de dentro. Jamais.
Não é um
contrato que define o casamento ou o amor. É a alma. A união das almas. As almas
que se fundem uma na outra.
Letícia Brito
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