António, sê bem-vindo a este espaço. É um gosto poder conhecer-te melhor e apresentar-te aos seguidores deste espaço, para começar: Como é que te iniciaste na escrita? Foi há muito, no Liceu Diogo Gouveia, em Beja, no jornal escolar, «TENTATIVA». Nesse tempo havia uns Jogos Florais, participei e ganhei uma das edições. Depois comecei a escrever para o Diário de Notícias, para um suplemento que havia, DN-Jovem. Descobri que a escrita me dava asas e podia viajar.

São inúmeros os sentimentos que nascem no âmago do escritor. Quais aqueles com que mais te identificas? Os que nascem e morrem. Somos educados para a vida, embora a Morte seja uma espécie de subcamada que se esconde quando não nos interessa pensar no assunto. É nesses momentos de confronto com a finitude que surge o amor, a paixão, as viagens, as causas e as utopias que alimentam a existência. Embora todos saibamos que a Vida é uma causa perdida sem data anunciada.

O que é que a escrita mudou em ti enquanto pessoa? A escrita e a música permitiram-me escutar o que de mais silencioso existe dentro de mim. Deu-me poder, com a escrita pertencemos a um exército que pode mudar a vida, influenciar, ousar para além da objetiva do senso comum e da resignação. A palavra é a mais perene das experiências do humano, aquela que resiste desde a invenção da escrita.

E enquanto escritor, o que tens aprendido? Que ser escritor não é fácil, não é um ofício, é uma missão. Ser escritor em Portugal ainda é muito difícil, tal como o é para as outras artes. O que a escrita e os livros me proporcionaram foi conhecer pessoas, o país e o mundo. Eu vou com os livros a bibliotecas, a escolas, a debates, a lugares que não constam dos roteiros comuns e isso dá-me dimensão humana, é nesses lugares que o discurso é genuíno e isso enriquece-me. Depois de se descobrir a palavra poética nunca mais somos os mesmos. 

Como definirias a escrita na tua vida: um passatempo, uma necessidade ou um acaso? A escrita é o meu pão, ganho a vida com o que escrevo. 

És autor do título «CARTAS A UM AMOR AUSENTE». De que nos fala esta obra? São quarenta cartas onde o amor está presente de muitas formas. Através da utopia do amor impossível, das cidades icónicas – Veneza, Buenos Aires, S. Paulo, Paris ou Coimbra. Este livro é, também, uma viagem com outros poetas que escreveram sobre o amor.

Publicaste recentemente «ONDE ESTÁ O MEU ABRAÇO?», uma obra do género infantil. Podes falar-nos um pouco sobre este livro? Trata-se de um livro para adultos, disfarçado de livro para crianças. Como todos os meus livros infantis, este, também, é bilingue – português e inglês. Neste tempo de tantas carências afetivas, o «abraço é a música do silêncio».

O que te inspirou a escrevê-lo? Os meus filhos. Quase sempre os meus filhos, o Rodolfo e a Susana. Quando se vai buscar os filhos à escola há uma pergunta que nos liga: onde está o meu abraço? Por outro lado, sou psicólogo, e a circunstância disse-me que vivemos um período onde o bem-estar psicológico é o alimento da resistência.

Podes partilhar connosco um pouco daquela que tem sido a tua experiência no universo literário? A minha experiência nesse universo é boa. Vivo em Coimbra que foi durante séculos a Capital Cultural da Literatura. Em Coimbra nasceu a Geração de 70, a Presença, a Seara Nova e o Neorrealismo. Coimbra tem mais de História de Literatura do que qualquer outra cidade do país. Mas isso deve-se à Universidade que dominou durante séculos.

Como têm reagido os leitores perante o teu trabalho? Não me queixo, embora não escreva para os leitores. Mas o meu compromisso é com os leitores.

Adaptas-te com facilidade aos diversos géneros literários ou preferes manter-te apenas no teu registo habitual? Eu tenho dificuldade em responder a essa pergunta. Até porque não sei qual o meu registo habitual. Sou um poeta, escrevo crónicas semanalmente, livros infantis, contos; estou a escrever uma biografia…

Se só pudesses ler apenas um único livro para o resto da tua vida, qual seria o privilegiado? Odisseia, de Homero. É um livro intemporal, é um poema de paz e de amor.

Se tivesses de escrever num género diferente, a qual desafio te proporias? O género dramático. Gosto de teatro. Aliás, como classicista revejo-me na dívida intemporal que todos devemos à Cultura Clássica, principalmente, a Ésquilo, Sófocles e Eurípides.

O que é que os leitores podem esperar de ti para o futuro? Nada. O melhor é não esperar nada. 

Descreve-te numa palavra: Rebelde.

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