O gosto pela poesia aprendi-o na escola. Comecei a escrever poesia quando frequentava a Escola Secundária de Cascais (13-14 anos) motivada por uma professora de Português, após a leitura de muitos poetas. Mais tarde, na Escola Secundária de S. João do Estoril, tive um professor que me lia e me encorajou a prosseguir, bem como colegas e amigos. Nessa altura, começo a trabalhar no meu primeiro livro “Por uma hora não vale a pena”.
São inúmeros os sentimentos que nascem no âmago do escritor. Quais aqueles com que mais te identificas?
A expressão poética tornou-se uma forma de pensar as ausências, a morte, o amor, as utopias, o abandono, o quotidiano, e até um certo romantismo da minha geração. Escrevo sobre realidades diversas, as que todos veem e nada dizem, as escondidas, as que me surpreendem e se atravessam no meu caminho, é uma forma de me aproximar do mundo, de poder tocá-lo, porque o sinto sempre distante, escrevo para poder fazer parte. Na minha escrita, aparece frequentemente o espaço idílico da minha infância no Minho sob a forma de uma saudade insaciável e aparecem Suis tensos, a seca, o frio interior, o nomadismo, a agitação dos dias, o delírio das renascenças, a cerração, bem como uma dor, respiração do mundo.
O que é que a escrita mudou em ti, enquanto pessoa?
A escrita aproximou-me mais do mundo dos outros, despertou em mim muita curiosidade e mantém-me muito atenta a tudo o que se passa na comunidade onde vivo, no país e no mundo.
E enquanto escritora, o que tens aprendido?
Tenho aprendido a refletir sobre o processo da escrita, bem como sobre emoções e sentimentos. Por um lado, a escrita leva a um olhar para dentro, por outro, convida a observar o exterior, a organização da sociedade, este tempo de grandes desafios, de vivências demasiado heterogéneas e/ou de sobrevivência.
Como definirias a escrita na tua vida: um passatempo, uma necessidade ou um acaso?
O ato de escrever faz parte da minha forma de me relacionar com o mundo, o meu e o dos outros. Tornou-se uma forma de sobrevivência, num mundo que pede constantemente a racionalização, o autocontrolo, o politicamente correto, a poesia aparece como uma forma de perscrutar o que sinto, o que trago de dignidade, honra e humanidade. Escrever poesia é uma luta política pela dignidade humana.
Em abril transato publicaste “Sombras Rock pelos Montes”. Podes falar-nos um pouco sobre esta obra?
Defendo que não deveriam ser os poetas a falar da sua obra, mas falta crítica literária, interesse pelos autores menos conhecidos. Posso dizer que o me inspira é a viagem inacabada em torno do frenesi civilizacional, a viagem, o caminho. Inspiram-me: a minha infância mitificada no Norte, as colinas galegas, a gaita-de-foles que oiço interiormente, as lezírias, os campos dos Ribatejo, a planície sulista ora florida ora sedenta, os rios, Minho, Coura, Tejo, Nilo, ria de Vigo, o Mosela, o Douro, o Alva, o Tibre, entre outros. Acrescento que sou poesia marítima que vive entre o Atlântico e o Mediterrâneo, sou partidas e chegadas, encontros e desencontros num sempre sem fim. E sou silêncio! Sou silêncio escrito em versos que gritam contra o silêncio!
Por isso, digo a Europa patrulhada, os refugiados, o amor que sabe a sal, as ausências, a morte, as metáforas, a partida das andorinhas, os sonhos, os mitos, D. Sebastião “quer ele venha ou não”, D. Dinis, as rosas eternas!
Esta trata-se de uma obra de cariz poético, o que te motiva a escrever neste género literário?
Gosto da prosa poética e da narrativa, embora escreva sobretudo poesia em verso, não controlo muito a forma, interessam-me acima de tudo as palavras, o que podem significar ou não, o que me fazem sentir. Esta necessidade de escrever que surge por volta dos meus 13/14 anos aparece como uma forma de me organizar perante todo um excesso de emoções voláteis. Acaba por ser uma forma de as fixar como uma memória de mim, de um trajeto sempre a oscilar entre as raízes e a deambulação, a inconstante descoberta do mundo, repleto de sinais enigmáticos, por vezes, confusos, tantas vezes contraditórios ou ilusórios, excessivo de miragens.
Como têm reagido os leitores face ao teu trabalho?
Os leitores tem reagido com entusiasmo a esta obra e houve leituras que me emocionaram porque foram tornadas públicas, como as dos professores Ângelo Rodrigues, Celeste Almeida, Luís Ochoa e Paula Ferreira.
Se só pudesses ler apenas um único livro para o resto da tua vida, qual seria o privilegiado?
Seria a obra Memorial do Convento, de José Saramago.
Se tivesses de escrever num género diferente, a qual desafio te proporias?
Também sou autora de contos. Talvez o género dramático, sou uma apaixonada pelo teatro.
O que é que os leitores podem esperar de ti para o futuro?
Em breve, terei um novo livro de poesia, depois gostaria de publicar uma obra de contos.
Descreve-te numa palavra:
Determinação.
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