Fernando Jorge, sê bem-vindo a este espaço. É um gosto poder conhecer-te melhor e apresentar-te aos seguidores deste espaço, para começar: Como é que te iniciaste na escrita?Muito obrigado. O gosto é inteiramente meu e, espero, também dos seguidores deste espaço. Desde sempre que gostei imenso de ler. Gosto de me envolver nas palavras, nas páginas e nas histórias, mais ou menos reais, mais ou menos verdadeiras, que elas encerram. Há cerca de três anos, no decorrer do ano de 2017, surgiu-me um esboço de ideia para uma história, para um romance. Comecei a desenvolvê-la, a estruturá-la, a personificar personagens totalmente ficcionais, a realizar vivências completamente inventadas e, por fim, dei a conhecer aquilo que já tinha escrito a algumas pessoas mais próximas. O resto veio do incentivo, da força e da motivação que essas mesmas pessoas me deram. O pináculo desta realização aconteceu com a edição do meu primeiro livro. Um romance com um tema muito concreto e que pretendeu, acima de tudo, ser uma homenagem e um grito de alerta para o não esquecimento dum dos eventos mais trágicos e mortíferos que o nosso país conhecera neste século. Este romance pode dizer-se, foi o que me iniciou neste magnífico, trabalhoso, exigente, contudo, extremamente gratificante (pelo menos a nível pessoal), universo da escrita, exclusivamente, de romances. 

São inúmeros os sentimentos que nascem no âmago do escritor. Quais aqueles com que mais te identificas?
Um dos sentimentos que em mim, frequentemente brota é o da realização. Com o desenrolar da narrativa, muitas vezes ínvio e inesperado, sem prejuízo de, não poucas vezes, voltar atrás e alterar substancialmente o rumo que a historia estava a tomar, vou-me sentindo cada vez melhor e mais realizado. Cada página é uma conquista e cada conquista uma realização. 
Por vezes embota em mim o oposto, isto é, o sentimento de frustração ou desilusão. Ou porque a direção da narrativa não me parece ser a mais correta, ou porque um personagem, sem o merecer, é castigado quando, em contraponto, outro é inundado por constantes e ininterruptos bafejos de sorte, enfim, tudo isto faz parte do processo criativo e de desenvolvimento duma historia, dum romance. Posto isto, para mim, enquanto escritor, são estes os sentimentos mais recorrentes no decurso da escrita duma nova obra.  

O que é que a escrita mudou em ti, enquanto pessoa?
Sinceramente, não muito. Continuo a ser o mesmo enquanto pessoa e, no que concerne aos principais valores que me regem e que me foram incutidos desde pequeno e ao longo da vida, o facto de me iniciar nas lides literárias, esses, permaneceram inalteráveis. 
Contudo, desde o início desta minha nova atividade (a escrita), tornei-me uma pessoa muito mais atenta aos pormenores que me rodeiam, às situações que se desenrolam à minha volta, já que, nunca se sabe quando é que alguma dessas ocorrências comuns do dia a dia, pode vir a figurar numa das minhas histórias, num dos meus romances. 

E enquanto escritor, o que tens aprendido?
Sobretudo, tenho aprendido que escrever está a mais de dois universos de distância de ser algo simples. Porém, como já referi, é algo que me deixa muito feliz e extremamente realizado, principalmente quando ultrapasso um bloqueio ou consigo fazer com que uma determinada cena saia do marasmo em que eu a deixei mergulhar. 

Como definirias a escrita na tua vida: um passatempo, uma necessidade ou um acaso?
Ora bem, de uma forma muito simples diria que começou por ser um acaso, (uma vez que a tragédia que ocorreu e que me levou a escrever o meu primeiro romance, foi isso mesmo, um acaso), depois passou a ser uma necessidade (senti que tinha, de alguma maneira, de homenagear todos quantos sofreram e continuam a sofrer e imortalizar tudo quanto acontecera num determinado dia e num local específico), e, agora, sinto que escrever se tornou uma necessidade, já que percebi que existe um infinito manancial de temas, mais ou menos atuais, que merecem ficar perenes em palavras, em textos, em livros.

Foi a tua paixão pelos livros que te levou a seguir o caminho literário. Como nasceu essa paixão?
Pode dizer-se que sim. Como já disse sempre gostei muito de ler, sempre me considerei um ávido leitor e, claro, uma coisa acabou por levar à outra. A paixão de criar novas historia, novas vidas, surgiu, justamente, das vidas e das histórias que, ao longo dos anos, fui lendo e acompanhando nos livros que sorvia. 

Começaste a tua aventura em 2018, com a publicação de “17.06.2017 - O dia em que o Diabo visitou Pedrógão”, que se revelou um tremendo sucesso. O que te levou a escolher este tema para a tua primeira obra?
Principalmente, o que me levou a escolher este tema, foi o facto de não querer deixar que algo tão terrível, tão dantesco, alguma vez se esquecesse ou, se tal fosse possível, jamais se repetisse. Infelizmente, sei-o, isso não depende da escrita dum livro! 
Pretendi também homenagear todos quantos, duma forma ou doutra, viveram ou sofreram, vivem ou sofrem, com tudo quanto aquele dia lhes trouxe e, sobretudo, com tudo quanto aquele dia lhes roubou. Imortalizar tudo isto em livro foi o que me levou a escolher este tema para início de carreira.

Como surgiu a ideia para a história que desenvolveste? As personagens são ficcionadas ou inspiradas em pessoas reais?
Todas as personagens são completamente ficcionadas, bem como, as suas realidades e vivências. A única situação que, infelizmente é real, é o dia e o local por elas escolhido para passarem um extraordinário e harmonioso dia em família. 
Dia: 17 de junho de 2017. Local: Praia Fluvial das Rocas, Castanheira de Pêra.  


Em fevereiro publicaste uma nova obra, “Ninguém vê o que tem…”. Podes falar-nos um pouco sobre este novo trabalho?
Sim! Apartando-me um pouco da história trágica do primeiro, embrenhei-me noutra diametralmente diferente, ainda assim, não muito mais alegre. Sem pretender desvendar demasiado da história ou histórias nesta obra descritas, digo apenas que o título encerra em si mesmo muito do que se pode encontrar lá dentro. Normalmente, quando não se valoriza, quando não se agradece constantemente aquilo que se tem, quando isso se perde ou deixamos de ter, o que vem depois, muitas vezes, é muito pior e bastante mais penoso do que o que se tinha antes e nunca se viu. Acho que todos nós devemos refletir e valorar muito bem tudo aquilo que temos. Sejam os braços, as pernas, a visão ou a pessoa que escolhemos para ter a nosso lado para toda a vida.  

Sabemos que se trata de um primeiro volume de uma série de dois volumes. O que poderá o leitor esperar para o livro seguinte?
O segundo volume, além de ser uma fiel continuação do primeiro, irá abordar, paralelamente à história mestra que percorre toda a obra, outro tema, ligeiramente diferente daquele que pode ser lido no primeiro. Sem me alongar em demasia, digo somente que esse tema está relacionado com um flagelo atual. A violência doméstica. No caso, no masculino, ou seja, quando a vítima é o homem, o habitual agressor. 

Qual tem sido a reação dos leitores face ao teu trabalho?
Felizmente tem sido bastante positiva. Recebo muitas mensagens de leitores (e não, não são só leitores da família), que me dizem que, além de ser uma história muito forte, muito pesada (isto, claro, referindo-se ao “17-06-2017 O dia em que o Diabo visitou Pedrógão”), encontraram nela muito amor e compaixão, muitos gestos altruístas e inteiramente abnegados, extrema amizade e dádiva, tudo sentimentos e gestos que deveriam fazer parte do dia-a-dia de todos e de cada um de nós. Fico sempre muito feliz de cada vez que um leitor me faz chegar a sua opinião. Um enorme Bem-haja a todos. 

Se só pudesses ler apenas um único livro para o resto da tua vida, qual seria o privilegiado?
Só um?! Não é fácil. Talvez… talvez o “Ensaio sobre a cegueira” do Nobel José Saramago. Ao fim e ao cabo, muitas vezes, demasiadas vezes até, com visão de falcão, parece que andamos todos cegos! 

Se tivesses de escrever num género diferente, a qual desafio te proporias?
Não é fácil responder a isso. Sinceramente, não me vejo a escrever outro género que não seja o romance. Prefiro escrever apenas um género “bem”, do que dois ou três mais ou menos. Por isso, e respondendo à pergunta, não me vejo a escrever outro que não seja o romance.

O que é que os leitores podem esperar de ti para o futuro?
Mais livros, mais histórias, mais temas atuais, uns, outros, nem tanto, mais personagens, mais vivências, mais amores e desamores, mais traições e engodos, mais felicidade e angústia, mais alegria e profunda tristeza, em suma, mais vidas que poderiam muito bem ser a vida de qualquer um de nós.  

Descreve-te numa palavra:
Solidário!