Endrigo, sê bem-vindo a este espaço. É um gosto poder conhecer-te melhor e apresentar-te aos seguidores deste espaço, para começar: Como é que te iniciaste na escrita?
Durante minha adolescência, minha irmã e eu líamos muito, principalmente livros de fantasia. Tentamos começar a escrever um romance diversas vezes, mas nunca avançamos muito. Desde então, sempre tive o desejo de colocar uma história no papel. Com o passar dos anos, comecei a escrever pequenos contos, até que me senti apto a escrever um romance.

São inúmeros os sentimentos que nascem no âmago do escritor. Quais aqueles com que mais te identificas?
Para mim, o sentimento que explica a experiência da escrita é realização. Sempre tive a ideia de que o escritor escreve sempre para si mesmo. Portanto, colocado o ponto final em uma história, já me sinto realizado, com meu objetivo cumprido.

O que é que a escrita mudou em ti, enquanto pessoa?
Aprendi a ser mais resiliente. A escrita é uma atividade que demanda muito tempo e esforço, e sua execução deve seguir um planeamento longo e bem estruturado.

E enquanto escritor, o que tens aprendido?
A principal lição que tive até agora é a de que, por mais que se tenha um bom enredo, transmiti-lo de uma forma clara e lógica não é uma tarefa simples. São as constantes edições e revisões que tornam um livro digno de ser lido. Outra importante lição, que complementa a anterior, é a que diz que um livro nunca estará perfeito. Por mais que se revise, edite e corrija, sempre persistirá um erro. Chega um momento em que a revisão deve terminar, e a impressão deve começar.

Como definirias a escrita na tua vida: um passatempo, uma necessidade ou um acaso?
Dentre as opções, escolheria a escrita como necessidade. É uma válvula de escape para expressar nossas emoções, desejos e pontos de vista. Não à toa, também o é a leitura.

Apesar de teres nascido no Brasil, já viveste na Irlanda e, atualmente, resides em Portugal. As diferentes culturas com as quais privaste tiveram alguma influência no teu trabalho de escritor?
Sim. O contacto com culturas diferentes nos permite colocar em perspetiva nossa própria visão de mundo. Observar como são diferentes os problemas enfrentados pelas pessoas, e também como são distintas as soluções criadas em diferentes contextos, permite analisar de forma mais clara a nossa própria vida.

Licenciaste-te em Direito. Esta área tem algum impacto na tua escrita?
Com certeza, principalmente as diferenças entre o discurso teórico e o quotidiano judicial, que abordo em certas passagens do “Vale”, e também pretendo trazer em projetos futuros. O antagonismo observado no âmbito de um processo judicial, a disputa muitas vezes mais falaciosa do que fundamentada, também foram fatores que contribuíram para a construção do livro. Num viés mais prático, leitura e escrita são atividades diárias do profissional do Direito, o que contribui para o desenvolvimento da escrita criativa.

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Em agosto do ano transato, publicaste a tua primeira obra “O Vale da Montanha Branca”. Podes falar-nos um pouco sobre este livro?
Trata-se de uma história que se passa numa cidade deslocada no tempo e no espaço, onde toda e qualquer questão é objeto de disputa, divisão e conflito. Nela, procuro abordar o dualismo cada vez mais presente em nossa sociedade, e as possíveis consequências dessa polaridade, na qual o indivíduo procura sempre afirmar-se como parte de um grupo, para ser aceito e se sentir relevante.

O que te inspirou a escrevê-lo?
Minha principal inspiração para o livro foi minha cidade natal, Porto Alegre. Muito antes de o mundo se ver tão dividido em todos os aspetos da vida, e de qualquer assunto ser objeto de extrema politização, Porto Alegre já vivia isso no seu quotidiano, da política ao futebol.

Como têm reagido os leitores face a este projeto?
A resposta tem sido bastante positiva. Em razão da atualidade do tema e pela forma de sua abordagem, acredito eu, as pessoas têm se identificado com a obra.

Se só pudesses ler apenas um único livro para o resto da tua vida, qual seria o privilegiado?
Alguma das coletâneas de contos de Edgar Allan Poe.

Se tivesses de escrever num género diferente, a qual desafio te proporias?
Gostaria de, em algum momento, aventurar-me no género policial.

Tens algum projeto na manga que possas desvendar?
Tenho sim. Atualmente, estou trabalhando em um livro de contos, já em fase final de revisão, e também em mais um romance. Mesmo considerando a situação que vivemos atualmente, espero que seja possível realizar o lançamento de mais estes dois livros ainda este ano.

O que é que os leitores podem esperar de ti para o futuro?
Muito esforço e dedicação. Tento sempre ser o mais original possível, e abordar questões que vivemos no nosso quotidiano, que possam de alguma forma ajudar as pessoas a verem o mundo de uma forma menos maniqueísta e mais crítica.

Descreve-te numa palavra: 
Inquieto.