José Rodrigues, Facebook


Esta semana trago uma surpresa aos leitores do blogue. José Rodrigues, autor de O rio de Esmeralda, Voltar a Ti e  O tempo nos teus olhos, todos eles publicados pela Coolbooks, chancela do Grupo Porto Editora, respondeu a algumas perguntas na rubrica, Na Ponta dos Dedos.




Olá, José. É um gosto poder conhecer-te melhor e apresentar-te aos seguidores do meu espaço e, portanto, antes de avançarmos com a entrevista, quero agradecer-te pela tua disponibilidade e parabenizar-te pelo trabalho literário que tens desenvolvido no panorama editorial português.
Agora, a pergunta cliché: como que é que te iniciaste na escrita?
- Por mais que tente encontrar uma data precisa, não consigo. Posso dizer-te que desde muito garoto (escola primária), ficava muito feliz sempre que a aulas incidiam em composições. Fazer redações era sempre um momento de grande felicidade. O tempo foi voando rapidamente e nunca perdi esse gosto. As composições foram, aos poucos, sendo transformadas em textos mais longos enquanto, ao mesmo tempo, fui aumentando o meu gosto em poesia. Já na faculdade, grande parte do meu tempo livre, era dedicado à escrita. Estranhamente, nem eu próprio consigo explicar, segui gestão e os números passaram a fazer parte fulcral do meu futuro profissional. As letras, a escrita, assumiram uma dupla função a partir dessa data. Por um lado, intervalos de um enorme gozo e realização pessoal. Por outro, uma forma de exorcizar as cadeiras que se baseavam em números. Formalmente, transformei em livro (edição de autor) um conjunto de memórias que trouxe da universidade e lancei “Boas memórias de um mau estudante” para oferecer aos amigos. O enorme prazer que daqui resultou juntou-se à vontade de fazer mais, de não parar, e os romances “O rio de Esmeralda”, “Voltar a ti” e recentemente “O tempo nos teus olhos”, estes três já com a chancela Coolbooks, surgiram naturalmente.

Qual o sentimento que te domina quando escreves?
Sem dúvida, o amor.

O que é que a escrita mudou em ti enquanto pessoa?
Enquanto pessoa, pouco. Talvez me tenha feito um pouco mais calmo e sereno.

E enquanto escritor, o que tens aprendido?
Tenho aprendido a tomar consciência de que não somos imortais. Tenho aprendido a ouvir mais, sobretudo a refletir acerca da importância que cada um de nós tem na vida dos outros. Deparo-me, com surpresa e profundo reconhecimento, com algumas opiniões de leitores que fazem questão de me dizer a importância que os meus livros tiveram na sua vida e isso deixa-me muito feliz. Tudo isto me faz pensar que a felicidade dos outros não passa apenas pelos outros, mas também por nós mesmos. E isto, é válido, para todas as áreas da sociedade. Nem sempre refletimos acerca daquilo onde podemos fazer a diferença nos outros, muitas vezes em pequenos gestos, em pequenas atitudes…

Tens algum ritual de escrita?
Nunca escrevi uma letra, durante o dia. A noite, seja a que hora for, é o meu tempo preferido. Talvez por ter a ilusão de que a noite chega sempre antes do dia, não sei bem porquê. E, desde sempre, fiz questão de chegar antes. Até nas horas, se houver um encontro marcado, faço questão de vencer o relógio e chegar antes da hora marcada.

Formaste-te em Gestão e é na área dos seguros que desenvolves a tua atividade profissional, no entanto, já publicaste três romances de sucesso. Estas áreas tão distintas têm algum impacto na tua escrita?
Têm, sim. A minha atividade profissional dá-me a grande honra de lidar com pessoas. Tanto em público interno, como externo. Ou seja, muito para além de falar com um conjunto de pessoas diferentes que procuram os meus serviços profissionais, com problemas diferentes, vidas diferentes e recursos diferentes, tenho também a sorte de lidar com uma equipa de trabalho fantástica. Em 1998 fundei a Visar, em conjunto com o Fernando, amigo de infância e uma das melhores pessoas que conheci na vida. Em conjunto, temos tido a sorte de manter uma equipa extraordinária de seres humanos, que nos rodeia e acompanha. Trabalhamos, mas também vivemos e vamos partilhando dias bons e maus, cruzamos as nossas vidas e, muito para além de lutarmos pelo sucesso profissional, enriquecemo-nos interiormente e vamos crescendo juntos.

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Já publicaste “O rio de Esmeralda”, “Voltar a Ti” e recentemente, “O tempo nos teus olhos”. Obras de emoções fortes, onde os sentimentos afloram e são o foco principal. O que te fez enveredar por este género literário?
Não escolhi este género literário. Acho que foi este género literário que me escolheu. De facto, o que realmente importa são as pessoas. Tenho para mim que o mundo seria bem melhor se fosse governado por poetas, em vez de economistas. Passamos demasiado tempo com preocupações materiais e vamos deixando para trás os sentimentos. O verbo ter toma-nos sem darmos conta e aos poucos, como um glutão, vai absorvendo aquela parte dominada pelo verbo ser. O tempo vai passando de forma astronómica e pensamos que somos, mas afinal temos. Depois, olhamos para o relógio da vida e para as memórias que construímos e lembramo-nos que ainda queremos ser, mas passámos tanto tempo a ter que deixámos de conjugar o verbo ser e queremos reaprender. E é possível, porque a felicidade ensina-nos que não há limites de idade, nem tabelas, nem distâncias…

Podes falar-nos um pouco da tua última obra, “O tempo nos teus olhos”? É interessante que tenhas escolhido um tema tão pouco abordado quanto a solidão na terceira idade, e mais interessante ainda que fales do amor entre pessoas mais velhas, uma vez que não é comum encontrarmos protagonistas desta geração em particular nas obras que por aí circulam. Porquê a solidão nos idosos? Porquê escrever sobre este tema?
Tenho muito medo da solidão, em todas as suas múltiplas formas. A forma de solidão do isolamento e também a forma de solidão acompanhada, aquela que acontece no meio da multidão. No prefácio Sara Augusto lembra-nos o De Senectute (Tratado sobre a velhice) onde Cícero revela «Assim como gosto do jovem que tem dentro de si algo do velho, gosto do velho que tem dentro de si algo do jovem: quem segue essa norma poderá ser velho no corpo, mas na alma não o será jamais.» Num tempo, que já é o último, seria lastimável que o homem velho não se tivesse colocado acima da morte e dos seus medos, sendo capaz de vê-la como um porto de abrigo depois de tão longa travessia. Na verdade, não há outra alternativa. Contentemo-nos com o tempo que nos é dado, seja ele qual for, porque não temos outro. A solidão nos idosos é algo demasiadamente sério para passarmos a vista sem nos debruçarmos sobre isso. Entendo que solidão mata. E, para que não mate, é preciso uma enorme força interior de quem se sente só, mas não chega. É preciso que todos assumam a responsabilidade para que isso não aconteça. Além disso, entendo que é preciso combater um padrão mental que sugere, de forma coletiva, que a felicidade tem uma idade limite. Ao longo da vida fui-me deparando com algumas situações em que parece transmitir-se aos idosos a ideia de que já não podem ser felizes, ou antes, que a essa oportunidade de felicidade deve ser entregue a alguém que deles cuida ou vigia. Será que é mesmo assim?
Manuel, protagonista da história, fica viúvo uns dias antes de comemorar as bodas de ouro. As suas filhas pretendem tomar o seu destino. Surpreendentemente, aquilo que supostamente seria o fim, transforma-se no início de uma grande etapa na sua vida, entre novos sentimentos, novas pessoas e novos lugares. Uma jornada de redescoberta da felicidade.
Afinal, o coração é maior que a perda, porque a vida é maior que a dor, e a saudade e a felicidade não têm limites, nem tabelas, nem distâncias…

Como tem sido a reação dos leitores face a este trabalho?
Superou, em muito, as minhas expectativas. Fico absolutamente encantado e feliz com as reações que se sucedem. Tenho tido oportunidade de visitar muitas universidades seniores e delicio-me em momentos de conversa, em revisões de vida, em histórias de abandono e desapego, em memórias de afetos repletas de sensibilidade.

E a tua reação? Afinal, as tuas obras têm feito sucesso, será, certamente, motivo de orgulho.
É muito bom saber que as nossas palavras vão chegando e ficando. A grande quantidade de partilhas nas redes sociais e as mensagens constantes que recebo, deixam-me feliz. As magnificas fotos da Sara Augusto, que acompanham todos os meus romances, combinam com cada frase, cada parágrafo, cada capítulo. Como se houvesse um discurso fotográfico e outro literário e os dois formassem um casal perfeito. A minha felicidade é também a da Sara, de quem me orgulho imenso, não só pela amizade antiga, como também pela sua enorme sensibilidade e talento.

Já realizaste outros trabalhos no âmbito da escrita? Quais?
Sim, há muito que escrevo textos soltos, sobre aquilo que me vai dando na cabeça. Neste momento, além de ter a Coolbooks como Editora dos meus romances e que trabalha de forma excelente, escrevo para o Elefante de Papel, da Rita Ferro Rodrigues.

Gostas de ler? Se só pudesses ler apenas um único livro para o resto da tua vida, qual seria o privilegiado?
Gosto muito de ler, mas nem sempre tenho possibilidade de ler aquilo que gostaria. A leitura técnica, profissional e atualidade vai-me prendendo. O livro que mais me marcou foi “Inteligência Emocional” de Daniel Goleman. Já percorri milhares de quilómetros para assistir ao vivo às suas palestras.

Pensas em publicar novamente?
Sim, se tudo correr bem, talvez para o final do ano.

Podes desvendar-nos um pouco do que estás a preparar para os teus leitores?
Um romance, mantendo a importância da memória da nossa vida, sobretudo a dos afetos. Entrando na problemática da adolescência e da importância das relações familiares e a eterna busca da felicidade, independentemente do espaço e do tempo…

Se tivesses de escrever noutro género literário, a qual desafio te proporias?
Gestão. Algo sobre a importância das pessoas nas organizações.

O que é que os leitores podem esperar de ti para o futuro?
Os meus leitores podem esperar sempre algo onde as emoções sejam uma das coisas mais importantes da vida. Quando deixar de achar isso, deixo de escrever.

Agora, uma série de perguntas curtas e rápidas.

Livro preferido?
A inteligência emocional – Daniel Goleman.

Autor que recomendas?
Daniel Goleman.

Filme que te marcou?
Notting Hill.

Escrever só ou acompanhado?
Só.

Sítio preferido para escrever?
Mesa da sala de estar, em frente à televisão sintonizada no National Geographic

Computador ou caderno?
Caderno, sem dúvida.

Dos teus livros, qual o preferido?
O tempo nos teus olhos.

E a personagem que mais gostaste de criar?
Manuel. Pela sua coragem.

Maior sonho enquanto escritor?
Fazer deste mundo, ainda que apenas um pouco, melhor.

Obrigada por aceitares este desafio, eu e todos os demais leitores ficamos muito satisfeitos por podermos partilhar este momento contigo.