Luís Vilas Espinheira
Nasceu a 21 de janeiro de 1995 no Porto. Orgulhoso minhoto da freguesia de Lanhelas, em Caminha, Viana do Castelo, desde cedo teve paixão por ouvir e contar histórias.
As letras e os livros sempre o fascinaram e por isso licenciou-se em Linguística na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, em 2017, onde viveu os anos mais intensos da sua vida.
Homem da noite, trabalha desde 2014 em discotecas e bares, ao fim de semana.
Depois da licenciatura, ingressou no curso de Apresentação de Televisão e Rádio na World Academy para aprofundar os seus conhecimentos noutra área de seu grande interesse: a televisão.


Olá Luís é um gosto poder conhecer-te melhor e apresentar-te aos seguidores deste espaço, para começar: Como que é que te iniciaste na escrita? 
Não é fácil localizar no tempo o início, porque, na realidade, eu sempre escrevi, de todas as formas que se possa imaginar e sobre tudo o que se possa imaginar. Desde que conheci o teclado do computador, ainda em pequeno, que sempre me fascinou o mundo da escrita. Escrevia para mim. Depois, vieram as redes sociais e foi lá que sempre publiquei textos a dar a minha opinião sobre tudo. Opinião essa que mudou consoante amadureci. E a escrita amadureceu comigo. Aprendo muito a escrever e conheço-me ainda melhor todos os dias porque tenho escrito todos os dias.

Qual o sentimento que te domina quando escreves? 
Depende. Adoro começar histórias. Paro muitas vezes durante o desenvolvimento delas. E acabá-las é um turbilhão de emoções. "Matar personagens" é a minha maior responsabilidade enquanto autor, porque já aconteceu "zangar-me" comigo mesmo por tomar determinadas decisões em prol do impacto e qualidade da história que estou a escrever. A escolha é sempre minha, claro, mas às vezes, por querer passar alguma mensagem, tomo decisões que chegam a emocionar-me, como autor e como ser humano.
Mas se pudesse escolher uma palavra, diria "intimidade". Porque sou eu comigo mesmo, num mundo em que eu mando e onde decido o futuro das minhas personagens. E transponho os meus ideais nelas e nas suas atitudes, tal como coisas que me irritam ou que eu abomino.

O que é que a escrita mudou em ti, enquanto pessoa? 
Sempre fui muito observador, mas agora sou mais ainda. Gestos, atitudes, expressões, aponto tudo na minha cabeça e fica lá a marinar para construir personagens. E às vezes, por ser aluado, nem sei de onde veio a construção daquela personagem. Enquanto pessoa, acho que me tornou mais transparente perante as pessoas que me conheciam. Porque há uma partilha para um público de um mundo só nosso. E aí, as pessoas já nos conhecem melhor, muitas vezes sem sequer se relacionarem connosco.

E enquanto escritor, o que tens aprendido? 
Acima de tudo, e cada vez mais, que não há uma linha tão rígida que separe pessoas boas e pessoas más. A realidade é que há perspetivas e todos nós temos muitos anjos e demónios dentro de nós e a definição de bem e de mal muda de pessoa para pessoa. E mesmo dentro de cada pessoa, muda de contexto para contexto. Aprende-se muito a construir personagens, porque nós sabemos os segredos delas e o que elas pensam interiormente e sabemos também aquilo que elas demonstram e aquilo que elas são perante a "sociedade". Aprendo muito também a lidar com a crítica. 

Tens algum ritual de escrita? 
Podia dizer que mergulho a minha pena em tinta, bebo um portinho, reflito a olhar para uma paisagem e a sentir o cheiro da terra molhada (risos). Era lindo dizer isso, mas a realidade é que pôr-me em frente a um teclado e a um ecrã, com a cabeça a trabalhar e os dedos a fazerem-lhe a vontade é o meu ritual. É aí que as coisas fluem. Não tenho hábitos muito clássicos, sou o mais simples possível nesse sentido.

A escrita é para ti, uma necessidade ou um passatempo? 
É essencialmente um passatempo, mas às vezes é terapêutico, porque até as insónias se tornam produtivas. O "não ter nada para fazer" torna-se um momento de criação constante: automaticamente penso nas minhas personagens e no rumo que lhes vou dar. E aí, tenho de ir a correr para o computador.

Licenciaste-te em Linguística e logo depois ingressaste num curso de Apresentação de Televisão e Rádio. És um homem das artes. Gostas de comunicar? 
Eu sou um comunicador por defeito e qualidade. Aliás, sou o único neto dos meus avós (tanto do lado paterno como materno), que se virou para as letras. Os meus primos e o meu irmão são todos das ciências, dos números e das contas. Gosto muito de falar, ouvir e aconselhar. E essencialmente gosto de pessoas e tenho muita paciência para toda a gente. No fundo, nem é paciência, acaba por ser interesse, porque em cada pessoa há um mundo por descobrir. E é a falar que o descobrimos. 

Esta formação teve impacto no teu trabalho enquanto escritor?
Licenciar-me em Linguística era inevitável. Não foi a minha primeira escolha, mas parece que foi destinado, apesar de eu não acreditar nada nessas coisas. Aumentou ainda mais o meu amor pelas letras e pela comunicação e na importância da partilha de mensagens. Enquanto houver textos a correr, uma cultura constrói-se todos os dias e eu sinto-me muito orgulhoso em já ter dado o meu pequeno contributo para isso. No entanto, apesar de já ter dado uns toques no mundo da literatura, o título de "escritor", para mim, ainda é um bocado pesado. Em primeiro lugar porque sou muito novo e tenho outros interesses e em segundo lugar porque não sou uma pessoa assim tão séria como esse título exige socialmente. Sou extremamente brincalhão e despreocupado. Escrever é apenas uma faceta. Prefiro o título de autor, porque, para já, é isso que sou efetivamente.
Quanto ao curso de apresentador de TV e rádio, esse já tem mais a ver com a minha personalidade brincalhona e conversadora. Acho que, antes de ser escritor, prefiro ser "aquele jovem simpático e brincalhão que fala sobre qualquer assunto, com qualquer pessoa". É isso que eu quero, para já. Depois, venha o título de "escritor" e eu assumo-o com toda a minha responsabilidade. Tenho tempo.

Prenúncio de Morte, 2018

O teu primeiro livro publicado chama-se “Prenúncio de Morte”, e chegou aos leitores em junho de 2018. Podes falar-nos um pouco sobre ele? 
Comecei a escrevê-lo quando tinha 19 anos. Às escondidas, de mim para mim. Retrata uma família classe alta da Foz do Douro, no Porto, que tem uma imagem de fachada e muitos fantasmas atrás do dinheiro, dos saltos altos e dos discursos. O patriarca, Aníbal Galhardo, é dono de uma fábrica de vinho do Porto e é um tanto conservador. Tem uma filha, Helena, de 50 anos do primeiro casamento, em que ficou viúvo, e dois, Francisco e Vera, de um segundo casamento (com uma mulher da idade da filha mais velha) que ainda não têm 30. Ou seja, os filhos mais novos têm quase idade para ser netos dele. E são consequentemente mais rebeldes e mais contemporâneos, havendo assim um choque de gerações, com uma mistura de drama e comédia. Durante a trama, há uma figura que ameaça aquela família e a história constrói-se à volta de descobrir quem ela é.

Como surgiram as ideias para compor o teu primeiro livro?
Elas estão todas aqui. O que falta é montar o puzzle. Ou seja, encadeá-las, torná-las coerentes de forma a contar uma história que transmita mensagens. Depois claro que, no processo criativo, há situações, pessoas (fictícias ou não) e vivências que me vão inspirando e eu decido se quero retratá-las ali ou não.

E como tem sido a reação dos leitores face a este trabalho?
Este primeiro trabalho fez-me aprender a lidar com a crítica, como já disse. Porque é impossível agradar a gregos e a troianos. No geral, as pessoas gostam da história e identificam-se sempre com personagens diferentes, o que me dá um grande orgulho, porque não há a tomada de partidos do público pelo bonzinho típico. As pessoas tomam partido de pessoas como elas, com uma história e personalidade com as quais se identificaram. E isso é o mais positivo disto tudo.

Apesar de ser o primeiro livro que publicas, é também o primeiro livro que escreves?
Não é porque escrevi alguns antes deste. O problema é já tê-los perdido no tempo, em disquetes e pens. É pena, tinha histórias engraçadas. Mas, a sério, a sério, acho que posso considerá-lo o meu primogénito. Vamos assumir os outros como sendo ensaios. Depois deste, já escrevi mais dois e já comecei o quarto. E esses estão guardadinhos.

Que outras obras já escreveste?
Depois deste livro, que comecei a escrever em 2014, já escrevi mais dois e vou agora no quarto. São todos romances que, em pequenos detalhes, estão todos relacionados. É o meu mundo, a minha pequena sociedade. 

Sobre que temas te debruças para criares os teus romances?
Tenho muitas cenas eróticas que desconstroem mitos sobre o prazer e a forma como os nossos desejos são manipulados pela sociedade. Drogas leves e o álcool (tenho muitas personagens orgulhosamente boémias). Prostituição. Descoberta da sexualidade. O feminismo e, por outro lado, o conservadorismo. A riqueza e a pobreza. O egocentrismo. As crianças índigo, que são crianças extremamente inteligentes com um grande senso crítico e intuitivo que lidam muito mal com algumas imposições sociais, nomeadamente a escola. A caridade e a corrupção. A traição. O choque de gerações. A religião (até tenho uma freira carmelita neste meu quarto livro).

Já realizaste outros trabalhos no âmbito da escrita? Quais?
Às vezes escrevo umas crónicas no Facebook e no LinkedIn por conta própria que o pessoal partilha, mas para além dos romances, a coisa mais séria que fiz na escrita foi o meu projeto de final de licenciatura (risos).

Tens uma página de autor no Facebook. Consideras importante o contato com o público?
O público é o nosso soro. E quanto maior, mais precisamos dele. Escrevemos para nós e só depois para ele. Mas a opinião deles é fulcral e constrói a nossa imagem enquanto autor. Recebo algumas mensagens muito queridas e com críticas honestas e construtivas. Há de tudo. Mas eu agradeço genuinamente cada uma delas.

Gostas de ler? É preciso ler para escrever bem? 
A escrita funciona de forma simples: gostar de ler é a base de tudo. É a terra. Ter o bichinho é a semente. Ter imaginação é a água. E o sol é mantermo-nos constantemente atentos ao que se passa. E depois, a obra floresce. E cresce.

Como encaras o processo de edição em Portugal? 
No meu caso foi fácil. A Capital Books foi uma boa editora, apesar de poder ter sido melhor em alguns aspetos. Foram rápidos, atenciosos, pacientes e ajudaram no que eu precisei. Apenas acho injusta a percentagem que um autor recebe, em Portugal, por ter a sua obra à venda numa loja. É demasiado ingrata. Claro que as editoras e as lojas projetam o nosso trabalho para as mãos das pessoas. Mas se não existissem os autores, eles não projetavam nada. Acho que a parte que recebíamos devia ser muito maior. Não sei se será muito ético falar de valores mas, no meu caso, recebo 12,5% do valor total da minha obra. 

Se só pudesses ler apenas um único livro para o resto da tua vida, qual seria o privilegiado?
Escolha difícil. Mas acho que fechava os olhos e escolhia aleatoriamente algum policial da Agatha Christie que tivesse o Poirot como protagonista. 

Pensas em publicar novamente? 
Parar é morrer. Vou publicar até gastar as teclas. Acho que tenho mais e melhor para mostrar, até porque entretanto cresci, amadureci e ganhei mais experiência. E cada história que escrevo é um pedaço de mim que vai sendo revelado.

Se tivesses de escrever noutro género literário, a qual desafio te proporias?
Sou um pouco esquisito nesse sentido. A minha queda é mesmo para os romances. Histórias fictícias em que eu possa criar o meu próprio mundo. Mas se um dia se proporcionar e tiver motivos suficientes, porque não uma biografia? Ou uma compilação de crónicas sociais…

O que é que os leitores podem esperar de ti para o futuro?
Mais drama, mais seriedade, mais lágrimas, mas, acima de tudo, muito humor e muitas gargalhadas. Mais assuntos polémicos e mais discussão. Mais juventude e mais variedade. Pessoas que existem, sem querer enganar ninguém nem florear a realidade. Gosto de equilibrar estes fatores todos e é isso que eu pretendo. Porque a realidade está à nossa frente, o mundo não pára e eu quero que as pessoas tenham consciência disso, tanto se me lerem hoje, como se me lerem amanhã.

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