Olá Litas! É um gosto poder conhecer-te melhor e
apresentar-te aos seguidores deste espaço, para começar:
Como que é que te iniciaste na escrita?
O meu
início, foi através de sentimentos tristes, decorrentes da dor do falecimento
do meu pai. Três anos após esta situação, tinha eu 9 anos, comecei a colocar em
papel as minhas dores de alma. Em 1981, não havia a ajuda médica que existe
neste momento, e as crianças ficavam de imediato assinaladas caso fossem a um psicólogo.
Assim, para mim, sempre que pegava num papel e em canetas, considerava estar
num mundo onde só eu entrava, e considerava esse como o meu momento
terapêutico. Com o tempo tornei-me uma leitora de tudo o que aparecia à frente,
o que levou a que a tristeza começasse a dar lugar a pequenos contos. Ou seja,
os textos poéticos, e já alguns publicados, deram lugar a pequenas histórias.
Só em 2014, e após a insistência de uma amiga, é que mostrei o que escrevia.
Foi a partir daqui que surgiu o primeiro livro e todo desenrolar nesta aventura
até ao dia de hoje.
Qual o sentimento que te domina quando escreves?
Quando
escrevo, sinto-me fora de mim própria. Não vejo horas, não ouço nada à minha
volta, não sinto fome, nada. No momento em que estou a escrever, há apenas um
mundo meu, onde sou totalmente livre, onde não há dor, onde voo, onde posso
tudo. E é nesse mundo que escrevo, ora histórias de ficção com base em
histórias de vida real; ora textos poéticos, os quais muitas vezes nem consigo
perceber o que escrevo. Com o tempo tenho vindo a perceber que a minha escrita
pretende dar força a muita gente que a lê, e isso, o público partilha comigo,
quer presencialmente quando vou a eventos, quer por mensagem privada.
Resumindo: escrever é liberdade e vivência.
Tens algum ritual de escrita?
Não sei
se é um ritual, mas privilegio escrever à noite. Sinto mais o meu interior.
Confesso que já dei por mim a chorar e a rir, sem perceber como tinha ido parar
a esse estado. Isso para mim quer dizer que sinto com mais ênfase a minha alma
e o meu coração. A acompanhar, uma boa música, sem preferências. A música
depende do meu estado de espírito no momento, ou então, do que estou a
escrever.
Como definirias esta arte na tua
vida? Se
inicialmente a escrita era a minha forma de exprimir dor e lágrimas, hoje, tudo
mudou. Mantendo a minha sensibilidade e humildade e não deixando de ser quem
era antes enquanto ser humano, continuando com os mesmos valores, reconheço que
a minha vida está muito mais feliz. A escrita embelezou e enriqueceu mais a
minha vida. Não me considero a melhor escritora do mundo, mas acredito no que
escrevo. Acredito que nas minhas histórias e nos meus textos poéticos, há
mensagens de força, de coragem, de amor e tantos outros sentimentos tão necessários
à construção de uma pessoa. Por isso, só
posso dizer que esta arte enriqueceu-me a vida. Percebi que qualquer
manifestação de um leitor ou de outro autor é algo que mereço, e que devo viver
na sua plenitude.
O teu segundo livro publicado
chama-se “Valor da Vida”. Podes falar-nos um pouco dele?
É uma história que relata a vida de uma menina que por força de uma
gravidez precoce, em plenos anos 70, se torna mulher. Com receio da opinião dos
seus pais, pois naquele tempo era muito recorrente o aborto nas jovens, por
vergonha por parte dos seus progenitores, contou com o inquebrável apoio do seu
amado e ambos assumiram a gravidez. Desde a constituição da sua vida independente, uma vez que
inicialmente ambos viveram perto dos seus pais, aos estudos, passando pelo
flagelo do desemprego, e por consequência uma nova atividade profissional, que
culminou com o bater do coração por outra pessoa, a um destino impensável,
todos os seus dias ela procurou viver o que considerou ser para si o “Valor da
vida”, sentimento que definiu em uma única palavra, a última desta história
envolvente.
Como surgiram as ideias para compor este livro?
A ideia
inicial tem por base as histórias de dois casais que conheci na escola, que ao
contrário de muitos naquela época – reporto-me para o final dos anos 80, em
jovens entre os 16 e 17 anos, assumiram uma gravidez e construíram uma vida. No
decorrer da história, falei sobre uma situação real que conheci no meu local de
trabalho, aquando das funções de atendimento ao público, a pessoas em situação
de desemprego. À medida que ia descrevendo as situações, as ideias simplesmente
iam surgindo. Passei por fases de pesquisa, pois senti esse chamado, visto que
considerei a necessidade de obter informação adicional e mais completa e
verídica para algumas passagens dos personagens. E a última palavra, é a que
considero que resume todo o percurso das personagens, e que não vou dizer qual
é. As pessoas têm que ler o livro.
Como é que este livro foi recebido pelos leitores?
Este
livro foi lançado em 2015, e já percorri imensos lugares tendo participado em
feiras do livro. A receção, foi muito boa. Afirmo que melhor do que eu
esperava, não que esteja a ser injusta para comigo própria pela surpresa, mas
porque a história entrou em muitos lares cujas vidas passaram pelo mesmo, ou
então há o conhecimento de alguém que passou pela mesma vivência – gravidez na
adolescência. Recordo de mais que uma Senhora que choraram à minha frente, por
não terem conseguido ter a força suficiente para que os seus bebés nascessem. E
também as que quiseram ofertar às filhas, por considerarem que a mensagem do
livro era importante para elas. Este livro foi apresentado na escola, nas aulas
de língua portuguesa, quer no 9º como no 11º ano, e foi muito bem recebido
pelos professores. Enfim, até à data, só uma Senhora me disse que não lhe
interessou o livro, porque na vida, não há ninguém com tanta força. Recebi a
crítica sem qualquer problema, contudo, acredito que cada pessoa tem a sua
própria força, em determinação do seu caminho e da forma como o encara.
Quais os trabalhos que já realizaste no âmbito da escrita,
para além deste livro?
O meu
primeiro livro - “Era uma vez… a minha vida!”, foi lançado em 2014; o segundo
livro - “O valor da vida”, foi lançado em 2015, e até à data, participei com um
conto na antologia “Dê coração de Natal”, pela Edições Vieira da Silva; e com
textos poéticos, nas seguintes antologias: “Livro Aberto 2017” e “Livro Aberto
2018”, através do programa Livro Aberto da da Rádio Voz de Alenquer;
“Eternamente”, “Danados Para Escrever” e “Poem’Art”, pela Edições O Declamador;
“Tempo de Magia”, pela Edições Sui Generis; “Palavras que contam muito”, pela
Gerábriga – Associação Cultural; “… Do Nada...”, pelo grupo Autor Publica; e
“Conexões Atlânticas, antologia II”, pela In-Finita Portugal. Está para breve:
o lançamento do meu primeiro livro de poesia e ainda o lançamento de mais
quatro antologias com textos poéticos da minha autoria.
Como encaras o processo de edição em Portugal?
Talvez
a minha resposta seja um tanto dura, mas considero que, desde que o autor tenha
dinheiro, publica sem qualquer problema em Portugal. Existem editoras que são
muito criteriosas pois gostam de publicar livros com escrita de qualidade, mas
também há editoras que são fábricas de fazer livros. Existem ainda plataformas
informáticas que seguem os mesmos conceitos. Independentemente desta questão,
considero que o maior problema são os custos inerentes à publicação. Publiquei
dois livros com recurso a uma plataforma de crowdfunding, em que vendi livros
antes mesmo de haver uma capa. Primeiramente as editoras aprovaram (no primeiro
livro recorri a seis editoras); os leitores foram lendo pequenos trechos das
histórias que eu ia publicando nas redes sociais, por forma a dar conhecimento
e proporcionar o interesse para a compra antecipada dos livros; e assim
consegui obter o financiamento para lançar. Não conseguiria se não recorresse a
este meio. Em Portugal, é muito caro publicar. Para mim, este é o maior
problema. De seguida, é a distribuição e a promoção. E finalmente, a aceitação
do público. Mas esta, é outra questão, mais complexa.
Quais os temas que gostas de abordar quando escreves?
Qualquer
texto da minha autoria aborda a vida na sua completude. Gosto de escrever sobre
esperança, amor, amizade, luta e garra pela vida, perseverança no encarar dos
obstáculos e a sua superação, construção e reconstrução de vidas. Gosto de
deixar em cada texto, uma mensagem positiva. Cresci com uma comunidade
maioritariamente de idade, e estes foram os valores que eles me transmitiam.
Tempos difíceis a todos os níveis. Tanto sofrimento e uma vida recheada de
superação, cujas raízes estavam na esperança. O amor ou desamor, a amizade e
até as lutas, alimentavam mais que a comida que se tinha em casa para encher os
seus estômagos. Enfim, o que escrevo é resumidamente, ou não, o que ouvia
atenta e muitas vezes a questionar como seria possível ter tanta resistência
num corpo físico. Tenho neste momento um livro preparado à espera de melhores
dias para ser publicado, que aborda os cuidados que o cuidador deve ter, porque
este – o cuidador, é tão esquecido.
Se tivesses de escrever noutro género literário, a qual
desafio te proporias?
Uma vez
que já escrevi ficção, contos e poesia, o teatro seria um excelente desafio.
Confesso que já tive esta experiência, mas com pequenos textos. Há uns anos
atrás ensaiei um grupo de crianças com as quais se fizeram umas representações
públicas em palco, e foi uma experiência muito honrosa que me ofertou imensa
alegria. Naquela época baseei-me em anedotas e houve algum sucesso. Ver as
pessoas a gargalharem com o que escrevi, sem dúvida que me encheu de satisfação
e ficou o gosto pela aventura.
Imagina a tua vida sem a escrita, como seria?
Apenas numa palavra, descreve-te:
GRATIDÃO
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