Olá, Fabien! É um gosto poder conhecer-te melhor e apresentar-te aos seguidores deste espaço, para começar: Como que é que te iniciaste na escrita?
Olá! O gosto é todo meu e, desde já, muito obrigado pela oportunidade.
Para ser sincero, sempre escrevi, desde muito novo. Pequenos textos, comentários, até cheguei a escrever um livro de 10 páginas, tinha os meus 11 anos, uma coisa muito pessoal, mas para mim já era uma ideia do que poderia ser um livro de verdade. Depois, tudo começou a sério quando tive um blogue onde publicava histórias de ficção. E aí, sim, percebi que a escrita era o começo.

Qual o sentimento que te domina quando escreves?
Domina a paixão. Quando abro o computador e sei que vou escrever fico completamente derretido a olhar para as teclas, para as frases, para as personagens… sou eu que vou criar história, então apaixono-me a cada instante e isso faz-me escrever sem medos, com total confiança.

O que é que a escrita mudou em ti, enquanto pessoa?
Não gosto muito de falar do que já passou. Gosto de falar aqui, agora, no presente. A escrita muda-me todos os dias. Torna-me mais atento ao mundo exterior, com mais capacidade para ouvir os outros, mais opinativo, mas, por outro lado, mais criativo, com vontade para me sentir completamente focado no que quero. E, por incrível que pareça, a escrita trouxe-me a verdade. E quando falo em verdade, falo nisso mesmo, em não mentir, ser sempre sincero. Isso foi o ponto-chave.

E enquanto escritor, o que tens aprendido?
Tenho aprendido tanta coisa e sinto que há um oceano gigantesco por descobrir. Mas isso é o desafiante nisto tudo. A descoberta, todos os dias. E vou aprendendo a aperfeiçoar a minha escrita, interessar-me cada vez mais por escrever bem português, mas acima de tudo valorizar imenso as opiniões dos leitores. É o mais importante, sem dúvida alguma.

A escrita é para ti, uma necessidade ou um passatempo?
Uma necessidade, mas uma necessidade gigante, mesmo. Sinto que tenho de expulsar o que me sufoca aqui dentro. E só a escrita mo permite fazer. Porque é minha e é de mim para o público.

Nasceste em França. Este país e esta cultura teve algum impacto na tua escrita? Ou é apenas um pormenor técnico?
Tenho grande parte da minha família lá, mas diria que um pormenor técnico, apesar de ir buscar a sensibilidade e o amor, tão caracteristicamente franceses, quer para a minha vida pessoal como profissional. 


Começaste por publicar “Poder Canibal”. Podes falar-nos um pouco sobre este título?
Demorou a escolher, é verdade, mas acho que faz todo o sentido. Quis mostrar às pessoas que não há só violência física, há também a violência psicológica e essa pode ser um perigo quando usada de forma extrema. Aqui é a mesma coisa, todos sabemos o que é o canibalismo, palavra por palavra. Agora, sabemos mesmo o que é o canibalismo psicológico? Consumirmos a energia e o poder do outro? O título foi por aí.

É um livro que aborda temas fortes e controversos. Como surgiu a ideia para este livro?
Através de um blogue que tive há 3 anos. Já ia para o seu 3º ano de existência e eu ia publicar mais uma história, mas sentia que era forte demais para uma meia dúzia de páginas. Pensei, não, isto é um livro. Tem de ser um livro. Tenho de o marcar assim. E depois fala de tudo aquilo que eu tinha de falar para o arranque da minha carreira: o tráfico, a corrupção, o sexo, o terrorismo, a guerra… tudo isso. Eu tinha de o fazer, porque me prendia a respiração e só me pude sentir liberto depois de o ter escrito.

Quais os trabalhos que já realizaste no âmbito da escrita, para além desta obra?
Poucos, mas ótimos até agora. Escrevi peças de teatro para a Academia de Teatro do meu antigo colégio e fiz, ainda, parte de dois projetos coletivos recentes da Chiado Books.

A tua escrita é ficcional ou tem conotação pessoal?
Ficcional. No entanto, faço questão de meter um pedaço de mim em cada personagem. A Frederica, por exemplo, a personagem principal de “Poder Canibal”, é um monstro de pessoa e, lá está, tem um pouco o meu lado mais prepotente, atenção que não estou a dizer que sou maléfico (risos), mas tem esse lado de justiça dura. O facto de inserir casais LGBT nas minhas histórias não é por acaso, também faz parte de mim... e tudo isso contribui para uma mistura entre o pessoal e a ficção muito harmoniosa, sem nunca se perceber exatamente que o é. 

Como encaras o processo de edição em Portugal?
Caro. Não há muitos apoios, ou nenhuns mesmo, para assumir novos talentos. As editoras deviam abrir concursos, passatempos, apostar em talentos novos, fazê-los florir e apoiá-los com unhas e dentes para que possam construir carreiras de luxo. Claro que Portugal é um universo muito pequeno, então é difícil encarar o processo de edição com leveza. Acima de tudo, tem de haver uma grande cooperação com a editora e com todos os envolvidos, sem nunca desistirmos daquilo que é o objetivo final: o livro.

Além da escrita, que outras paixões, nutres que te completam enquanto pessoa?
O mundo do espetáculo, sem dúvida. E quando falo disto falo de tudo, englobando a representação, produção, realização, encenação… é tudo tão fascinante e tão aberto à nossa liberdade de criação que me apaixono todos os dias por isso.

Quais os temas que gostas de abordar quando escreves?
Temas que provocam comichão, temas polémicos, que nos fazem pensar. Gosto de escrever e de saber que do outro lado possam saltar da cadeira, pensar, remexer, voltar atrás. É agitar o leitor. Isso é muito estimulante para mim. Falar de coisas que são tabus e conspirar nesse sentido. Será que isto é assim? E se uníssemos esta pessoa com aquela, que explosão daria? Adoro entrar em mundos desconhecidos e que os outros entrem comigo também.

Se só pudesses ler apenas um único livro para o resto da tua vida, qual seria o “privilegiado”?
Os Segredos que nunca nos contaram, Albert Espinosa. Por tudo.

Para quando, os teus leitores, poderão esperar um novo livro?
Apesar de ter objetivos muito vincados, não gosto de marcar prazos, quando for, foi. O novo livro é isso mesmo, quando for, foi. Mas já está escrito e gostava muito que saísse este ano. Vamos ver…

Se tivesses de escrever outro género literário, a qual desafio te proporias?
Biografias. Ouvir o outro e saber que histórias tem para me contar. Gosto muito de ouvir, de conversar, de sentir… e o género biográfico ia trazer-me isso.

Imagina a tua vida sem a escrita, como seria?
Neste momento? Vazia. Preciso muito da escrita para me sentir vivo e um completo fascinado pelo mundo.

Apenas numa palavra, descreve-te: Informal.



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