Por recomendação da Carolina Cruz do blogue Gesto, Olhar e Sorriso, resolvi procurar o tão aclamado romance de Inês Pedrosa, que já tem alguns aninhos e oferecer-lhe um cantinho especial no meu coração. 
Comprei a obra através do Olx e devo dizer-vos que foi o melhor negócio de sempre, paguei cerca de 1,35€ pelo livro, que em livraria ainda se encontra sob o valor de 15€ (mais ou menos), o livro chegou em ótimo estado e foi devorado no mesmo dia - ou melhor, na mesma madrugada - em que chegou. 
Comecei a leitura do mesmo eram 18 da noite, pelas 19 parei e recomecei às 22 terminando o livro às 2 da manhã. 
Deliciei-me com a escrita da autora, e este é o primeiro que lhe li, mas tenciono procurar os restantes. Uma escrita rica em metáforas, expressões grandiosas, adjetivos, e tudo o que de melhor há na nossa língua. 
Li diversas criticas a respeito da obra, creio que Fazes-me Falta é aquele livro que não se contenta com «mais ou menos», as pessoas ou amam ou odeiam. - Eu amei!
É uma história contada a duas vozes, uma jovem acima dos 30 anos, aparentemente envolvida na politica, que morre e introduz os temas, um senhor acima dos 50 que vê a sua amiga partir e que «lhe vai dando as respostas», percebe-se que num passado, um tanto longínquo terá existido uma relação amorosa entre ambos, e apesar do tempo, a amizade permanece - e o amor, também - embora seja apenas dado valor ao primeiro, ficando o segundo estagnado e voltando com toda a força à vida com a morte desta mulher. 
A escrita é arrebatadora, é daquele género que me faz ler em voz alta, tal é a soberba da narrativa. 
Um misto de sentimentos e emoções, uma grande reflexão sobre a vida e a morte, e aquilo que fica por dizer quando alguém parte, um livro que nos faz pensar sobre a importância de falarmos com quem nos é querido em vida.

É um livro que ganhou um espaço especial no meu peito e na minha vida e que certamente me marcará sempre. 

Letícia Brito

Algumas frases que me marcaram

"Quando o pior acontecia, aquele sorriso descia às minhas trevas com um soluço de baloiço, um gingar de gonzos arrancado às cordas da infância. Eu sentava-me nele e subia, balouçando, até à luz."


"Ninguém mais vai estar à minha espera, não terei de me disfarçar de desculpas, não voltarei a iludir ou desiludir ninguém."



"(...) essa gargalhada póstuma destoaria do meu belo arquivo de gargalhadas tuas. Estragava-lhe a estética, entendes?"

"De repente, estava quase velho – como toda a vida me apetecera ser. Com direito a resmungar, a jorrar sentenças e lançar ralhetes, a ter razão respeitada de quem já não espera ter mais nada. E vi-me esvaziado, sem perceber porquê. Com vontade de resmungar sem razão, de sentenciar sem sentido. De experimentar de novo a arrogância aflita da juventude."

"Há tantas coisas que nunca te disse – e dizias tu que eu falava demais. Flutuo por este noante em busca dessas palavras a menos, atravessadas entre nós como um longo corredor de prisão. (...) não te perdoo o que não soubeste saber de mim. (...) não me perdoo o que não soube verter-te de mim."

"É verdade que não paravas de falar. Mesmo ou sobretudo sem palavras, com o movimento do teu corpo, a força dos teus abraços em carne viva."

"Fazes-me falta, merda – já te disse?"

"Tanto que eu queria agora dar-te o amor total e infantil que tinha para te dar. Racionei-o a vida inteira como a porra de um chocolate de leite – por que vivemos como se o tempo nos pertencesse infinitamente, como se pudéssemos repetir tudo de novo, como se pudéssemos alguma coisa?"

"Eu usava a música como banda sonora, canções feitas à medida de cada estado de alma (...)."

"Há uma energia ética nos funerais. Um desespero pelo bem que lança pó de estrelas nos olhos e apaga os pequenos ressentimentos quotidianos. Amanhã voltaremos a invejar-nos uns aos outros. A maldizer o próximo pela calada. A trair grandes amigos em pequenos cafés de negócios. A ser bonzinhos só de vez em quando."

"Quando as coisas deixam de durar, alteram-se. O simples facto de deixarem de ser altera-se, por mais que procuremos fazê-las estancar."