Elizabeth e Betsy foram colegas de escola. Nascidas em 1948, impreparadas para o vendaval dos anos 60, ambas alimentavam grandes esperanças quanto ao futuro. Quando retomam o contacto, trinta anos depois, Elizabeth está casada com um homem mais velho, e compensa o tédio de um casamento sem filhos e sem paixão com uma relação extra-conjugal. Betsy, a mais livre e emotiva das duas, fora viver para Paris apaixonando-se por um jovem contestatário que leva consigo para Inglaterra. Agora que voltam a estar juntas, irão as vidas das duas amigar tomar um novo rumo, ou será que ambas vão testar a resistência da sua amizade com a disputa de um homem que parece trazer consigo uma promessa de libertação?



Opinião Terminei ontem a leitura de um livro obrigatório. Um clássico da literatura contemporâneaAs regras do compromisso, da autora recentemente falecida, Anita Brookner.

Este livro foi-me cedido pela editora Babel, em troca de uma opinião sincera e a quem endereço os meus agradecimentos. 

Ora, inicialmente, quando o folheei, o meu descontentamento foi grande e visível, eu queria de facto, -lo, mas comecei a primeira página e achei-o aborrecido. Não achei, pode-se dizer que de facto, ele é aborrecido, no primeiro capítulo.

Narrado em primeira pessoa, fez-me questionar inicialmente, que tipo de interesse teria afinal aquela história. Mas não sou pessoa de deixar uma leitura a meio, e persisti. Revelou-se surpreendente! Não é o tipo de leitura à qual estou habituada, de facto, mas é um livro muito bom.

Cá entre nós, gosto bastante de sublinhar os livros que leio, quando acho uma palavra ou uma frase interessante, quando desconheço o significado de algum termo, e a quantidade de palavras que esta história me levou a querer descodificar, foi gigante. Não brinco, gigante mesmo.

A escrita da autora é bastante complexa. A narrativa é corrente e as descrições são minuciosas. Anita Brookner apresenta-nos a história de duas amigas da juventude, Elizabeth e Betsy. Duas jovens com personalidades muito distintas, e que no entanto buscam exactamente o mesmo, a concretização pessoal.

Mas as suas vidas tomam rumos diferentes. Elizabeth acaba por casar com um homem negócios ligeiramente mais velho, Digby, um esposo bondoso, com quem tem uma vida estável e confortável, que no entanto, não a satisfaz enquanto mulher. Betsy por sua vez embarca numa aventura por Paris onde conhece Daniel e se apaixona, vivendo assim um tórrido romance digno dos grandes clássicos da literatura do século XIX. Daniel é um homem um tanto imaturo e a relação que deveria ser um sonho, acaba por tornar-se monótona e fadada à destruição, não fosse o facto, deste morrer atropelado, fazendo com que Betsy voltasse a Londres e à sua vida, novamente.

Quando Betsy regressa, desconhece que a amiga Elizabeth mantém um caso extraconjugal com um amigo da sua família, Edmund, um homem que a cativa pela sua beleza, mas que deixa muito a desejar, pela sua personalidade. Elizabeth apaixona-se, mas vendo a impossibilidade de viver um romance e construir uma vida doméstica, não insiste tampouco nessa relação, sendo esta meramente carnal.

Mas Digby morre deixando-a sozinha e Elizabeth perde duas pessoas, o marido e o amante, este segundo, não perde, exactamente, mas decide que o melhor é afastar-se por não ver qualquer plano futuro naquele homem. Já Betsy, no funeral de Digby acaba por cruzar com Edmund e ganhar uma ligação grande a este e à sua família.

Órfã e criada pela tia,  na família de Edmund o que sempre desejou para si e acaba por criar uma ligação não apenas com ele, mas com Constance, a esposa deste e os filhos de ambos, David e as gémeas, Julia e Isabella.

Mas o tempo passa e o que poderia ser bom, torna-se perigoso quando Betsy se apaixona pelo homem errado e este por si, mesmo indo, Betsy, contra tudo o que ele imaginava. Edmund, no entanto, não pretende viver mais do que uma aventura e isso perturba a jovem, que ligada àquela família não  qualquer forma de afastar-se.

Toda a história gira em torno dos sentimentos, das manobras do coração, das atitudes que tomámos, da nossa consciência, que pode ou não, acusar-nos, embora narrada por Elizabeth, conseguimos ter o ponto de vista das duas personagens principais da história.

Poderá este homem trazer a promessa de libertação que as duas amigas procuram para a sua vida? Poderá este homem prejudicar a amizade que as une? Irá separá-las? Aproximá-las? Eis a grande questão na qual a história gira em torno.

Depois que me decidi a ler, não consegui mais parar, porque a curiosidade devorou-me. Não é um género ao qual estou habituada, mas cativou-me, porque faz-nos pensar sobretudo em nós mesmos, na forma como lidámos com a vida e os nossos ideais, sentimentos, atitudes. É uma obra para reflexão e que recomendo, sem qualquer sombra de dúvidas.  


Sobre a autora


Anita Brookner nasceu em Londres e licenciou-se em História da Arte, tendo-se especializado na pintura dos séculos XVIII e XIX. Foi a primeira mulher distinguida com o cargo de slade professor na Universidade de Cambridge. Crítica de arte conceituada, é autora de vários trabalhos publicados sobre o tema.
A partir dos anos 80 enveredou pela literatura tendo rapidamente sido considerada uma das maiores escritoras contemporâneas do Reino Unido. O seu romance "Hotel du Lac" foi galardoado, em 1984, com um dos mais prestigiantes prémios literários, o Booker Prize. Comparada frequentemente a Jane Austen ou Virginia Woolf, as personagens dos seus romances são quase exclusivamente femininas: são, em geral, mulheres que, após terem recebido uma educação tradicional, se vêem confrontadas com um mundo em perfeita mudança que lhes atribui um papel para o qual, nem sempre estão psicologicamente preparadas para assumir.

"A Baía dos Anjos" é a sua vigésima obra. Da sua bibliografia merece referência "Hotel du Lac", "Providence", "Fraude e Visitas", este último editado em Portugal pela Notícias. 

Morreu em março de 2016.