Ana Filipa, sê bem-vinda a este espaço. É um gosto poder conhecer-te melhor e apresentar-te aos seguidores deste espaço, para começar: Como é que te iniciaste na escrita?

Antes de mais obrigada.

Respondendo à vossa pergunta, acho que a escrita foi sempre algo que me acompanhou. Lembro-me de já em miúda, na escola primária, ter um desejo enorme de escrever, de contar histórias. Por isso não sei bem identificar como me iniciei na escrita foi algo que sempre fez parte de mim. Talvez por isso optei por um curso (Tradução) que me possibilitaria estar perto da palavra escrita, de conhecer e estar perto de outras histórias. Mais tarde, vim a frequentar cursos de escrita criativa, o que me ajudou a desenvolver algumas capacidades e a aprender formas de explorar a minha criatividade.

São inúmeros os sentimentos que nascem no âmago do escritor. Quais aqueles com que mais te identificas?

Não acredito que um escritor tenha sentimentos diferentes de alguém que não escreva, apenas vive esses sentimentos de forma diferente, talvez de uma forma mais profunda (alguns diriam sofrida). No meu caso, não me considerando ainda uma escritora, mas sim uma aprendiz na arte da escrita, vivo muito intensamente tudo o que vejo ou sinto. Demoro-me a olhar as pessoas que se cruzam comigo na rua e a imaginar as suas histórias ou a criar uma para elas.

Penso que não consigo responder a esta pergunta de uma forma muito objetiva, até porque estamos a falar de sentimentos, e estes não são algo nada objetivo, mas diria que me identifico bastante com a solidão tão referida por muitos autores, bem como a forma arrebatadora de sentir tudo o que me rodeia.

O que é que a escrita mudou em ti, enquanto pessoa?

Essa é sem dúvida uma pergunta difícil de responder, dado que a escrita é algo que sempre tive em mim e que sempre fez parte da minha vida, logo não consigo propriamente distinguir um antes e depois da escrita. No entanto, talvez me tenha tornado mais predisposta para a observação e reflexão do mundo à minha volta. 

E enquanto escritora, o que tens aprendido?

Tenho aprendido (ou tenho tentado aprender) de que nada vale tentar escrever algo que seja perfeito e que vá ter uma reação unânime por quem lê o que escrevo. Isso nem existe, nem é possível. Todos somos falíveis, logo a nossa escrita também o é. Não podemos escrever à espera que todos leiam os nossos textos e gostem simplesmente, sem mais nem menos. Penso que isso é transversal a todos os aspetos das nossas vidas. Temos, acima de tudo, ser fiéis a nós mesmos e tentar fazer o que nos faz realmente felizes.

Como definirias a escrita na tua vida: um passatempo, uma necessidade ou um acaso?

De momento, penso que as duas primeiras hipóteses são as que mais me caracterizam. É um passatempo, porque não é fácil para alguém no nosso país fazer da escrita a sua profissão. Hoje em dia somos muitos os que tentam lançar-se e, felizmente, existem editoras que procuram promover novos escritores portugueses, mas daí até que o nosso nome seja reconhecido vai uma grande distância. 

Uma necessidade, porque não sei o que seria se não escrevesse, se não pusesse por escrito tudo o que vejo e todas as histórias que imagino no decorrer dos meus dias.

Fizeste um curso de Tradução e frequentaste o mestrado de Consultoria e Revisão Linguística. O que te levou a enveredar por esta área no campo profissional? Terá sido a paixão pela escrita?

Fiz a licenciatura e o mestrado em tradução por achar que viria a ser tradutora literária, era esse o meu grande desejo. Poder, de alguma forma, ser parte da obra escrita e do mundo das histórias. 

Sou apaixonada por livros, por histórias, por viver outros mundos e outras vidas. Ser tradutora permitir-me-ia viver tudo isso e poder ser veículo para os outros que também tanto gostam de viver outras vidas.

Esta área tem alguma influência no teu trabalho enquanto autora?

Penso que ainda seja cedo para responder a esta pergunta. Talvez me ajude no sentido de estar mais alerta para outros escritores, para outros estilos de escrita e a aprender a ser mais maleável na forma como escrevo, dada a adaptação que um tradutor tem de fazer para se aproximar do estilo do autor que traduz.

Mas como digo, ainda é cedo para saber se tem implicações reais e efetivas no meu trabalho enquanto escritora.

Em julho transato lançaste a tua primeira obra “Doze Vidas”. Podes falar-nos um pouco sobre esta obra?

É um livro de contos ou micro-contos como preferirem chamar-lhes. São doze histórias (este termo é capaz de ser mais consensual) de vida, de doze mulheres que em determinado momento viveram algo que as moldou e marcou.

O que te inspirou a escrevê-la?

Acho que ainda não tinha pensado seriamente na minha inspiração para estas doze vidas. Simplesmente são histórias que foram nascendo e crescendo nos meus cadernos de escrita. Não conheço nenhum mulher com histórias semelhantes às que escrevi, mas conheço mulheres ou imagens de mulheres que fui assimilando e que inspiraram a minha imagem mental de cada uma das mulheres protagonistas dos meus contos.

Podes partilhar connosco um pouco do processo de escrita da tua primeira obra?

É um processo que partiu muito do olhar atento. Todos nós nos cruzamos diariamente com pessoas diferentes, muitas delas nem sequer chegamos a saber o nome. Eu comecei mesmo por aí, por dar nomes ficcionais às pessoas com quem me encontrava e, a partir daí, ia criando histórias para elas. E, de repente, já não eram mulheres desconhecidas e sem nome, mas sim, mulheres com histórias que precisavam de ser contadas.

Como têm reagido os leitores face ao teu trabalho?

A verdade é que ainda não tive grandes reações. O facto de estarmos em pleno momento de mudança de vivências no nosso mundo, por exemplo, ainda não permitiu que fosse feito a sessão de lançamento do livro, o que está a dificultar esta conversa com os leitores. Dos poucos feedbacks que já estive apenas me dizem que gostariam que as histórias fossem maiores, pois ficam com vontade de saber mais sobre cada uma destas mulheres.

Se só pudesses ler apenas um único livro para o resto da tua vida, qual seria o privilegiado?

Difícil. Diria talvez (embora não seja apenas um) a trilogia do Senhor dos Anéis, de Tolkien.

Se tivesses de escrever num género literário diferente, a qual desafio te proporias?

Sem dúvida que escolheria o género do crime. Além de ter sido um género que foi alvo de objeto de estudo por mim, é um género que gosto bastante de ler.

O que é que os leitores podem esperar de ti para o futuro?

Eu espero que de futuro vejam outro lado da minha escrita. De momento os textos que tenho iniciados fogem bastante ao estilo literário dos contos publicados em Doze Vidas. De momento, estou bastante empenhada numa história infantil.

Descreve-te numa palavra:

Insegura.

MAIS SOBRE A AUTORA NA SUA PÁGINA DO FACEBOOK (AQUI)