Helga, sê bem-vinda a este espaço. É um gosto poder conhecer-te melhor e apresentar-te aos seguidores deste espaço, para começar: Como é que te iniciaste na escrita?
Antes de mais, agradeço o convite para esta entrevista.  
Comecei a escrever desde que aprendi a escrever corretamente. Por volta dos 7 ou 8 anos, comecei a compor poesia, ainda com um caráter bastante pueril. Apenas escrevia quadras e pouco mais. No entanto, um poema que escrevi, dedicado à minha professora primária, foi exposto na escola, ficando na parede da entrada por vários anos. Na adolescência continuei a escrever, ao ponto de tornar-se uma adição. Escrevia poesia, mas também, a toda a hora, uma espécie de vida paralela à que eu vivia – eram narrativas e diálogos ínfimos, que me fizeram perder a noção da realidade. Na época, durante os anos do liceu, os professores pensavam que eu tirava apontamentos, quando na realidade eu estava a escrever o que eu apelidei de “a minha outra vida”. No fundo era uma vida que eu fantasiava ter. Escrevia em qualquer papel que apanhasse, em cadernos, a ponto de ter junto caixas pesadas, carregadas com a “minha outra vida”. Nunca ninguém viu ou verá esses escritos. Destruí-os, anos mais tarde, já quando eu tinha cerca de 30 anos de idade.

Qual o sentimento que te domina quando escreves?
Depende muito do estado de espírito, já que tenho alterações de humor, como muitas pessoas. Mas tenho tendência para escrever nos meus momentos de maior melancolia, tristeza, raiva e desolação. O inconformismo também é um sentimento bem presente na minha escrita, assim como a morte.

O que é que a escrita mudou em ti, enquanto pessoa?
Não consigo ter a perceção de mudança em mim, enquanto produtora de escrita, já que escrevo desde que o sei fazer. No imediato, a escrita é, basicamente, terapêutica. É uma necessidade, tal como respirar o é – de isso estou segura.

E enquanto escritora, o que tens aprendido?
Enquanto escritora, tenho aprendido que existe um público bastante restrito para o meu tipo de escrita. Não é de fácil compreensão - não porque recorra a vocabulário demasiado erudito, pelo contrário, mas sim porque sinto que o que escrevo é bastante ambíguo.  Enquanto leitora, aprendi muito mais além disso, mas isso já se trata de adquirir conhecimento e viagens mentais que, por vezes, são apenas viagens só de ida. 

Como definirias a escrita na tua vida: um passatempo, uma necessidade ou um acaso?
Como já referi, a escrita é, realmente, uma necessidade. É com as palavras e sons que exorcizo os meus demónios. Para eu ter o mínimo de sanidade mental, sou obrigada a escrever. E como dizia Rainer Maria Rilke, um dos meus poetas de eleição, “Basta sentir que se poderia viver sem escrever, para já não ter o direito de o fazer”.

Estudaste Línguas e Literaturas Europeias. Esta formação teve algum impacto na tua escrita?Definitivamente, sim. Na Licenciatura de Línguas e Literaturas Europeias, tive acesso a escritores e obras que, provavelmente, nunca iria conhecer se não frequentasse o curso. E, com este, veio a paixão pela linguística, pela fonética, pelas ciências da linguagem – coisa que originou uma outra musicalidade à minha escrita. E claro, estudando aprofundadamente certos autores, fez com que a minha escrita recebesse algumas influências, o que considero normal.

Contudo, a par da escrita também fazes traduções e legendagens, além de outros projetos pessoais de áreas dispares, segundo a tua biografia. Como relacionas estas áreas entre si?
As traduções, as legendagens, a produção de música, as aulas que já dei… – tudo está relacionado com a escrita e com o conhecimento. Neste momento, por exemplo, trabalho com um canal de TV, de desportos radicais. Até isso me pode inspirar para contar uma história, elaborar um poema ou, simplesmente, divagações noturnas, como eu gosto de chamar. Resumindo, todos os meus projetos e trabalhos estão relacionados com a escrita, com a linguagem. Aliás, o ser humano não vive sem a linguagem, seja ela na escrita ou outros códigos de linguagem, como os gestos, o vestir, sinais de trânsito, música… tudo é linguagem!

COMPRAR

Este mês é publicado o teu primeiro livro de poesia com um título bastante sugestivo,
Não Há Luz Neste Quarto. Podes falar-nos um pouco sobre ele?

O “Não há Luz neste Quarto” foi escrito em muitos quartos, onde eu já não via a chamada “luz ao fundo túnel”. É um livro misto, onde se pode encontrar poesias, crónicas e prosa poética. São gritos meus, em busca de respostas que não existirão nunca. São contemplações do mundano, da decadência, dos meus estados de ansiedade e depressão, e da forma como lido com o amor e com a sexualidade. É um livro carregado de sentimentos obscuros, ainda que contenha homenagens, de caráter mais límpido e alegre, aos lugares onde vivi – nomeadamente, em Andaluzia. Irei considerar, sempre, o Sul de Espanha como minha segunda casa. Mas, maioritariamente, é um livro sobre os meus estados mais decadentes, com uma originalidade e musicalidade diferentes do habitual.

O que te motivou a seguir este registo literário?
Este registo literário é parte de mim. Não poderia tê-lo feito de outra forma, pois esta mesma forma é que tomou controlo sobre mim, e não ao contrário. A poesia, seja ela em prosa, em sonetos, em desenhos até, é intrínseca à minha pessoa. Os sons, os fonemas, a estrutura de uma obra literária… tudo isso me atraí e gosto de compor baseada nesses conceitos. É algo incontrolável e autómato. 

Como achas que será a reação dos teus leitores face a este trabalho?
A reação das pessoas, face a esta obra, pode ser uma surpresa ou não. Há pessoas que irão adorar, outras que irão odiar, como com todo o tipo de produção artística. Quando escrevo não o faço para outros, senão para mim mesma. Assim que, esperemos para ver.

Se só pudesses ler apenas um único livro para o resto da tua vida, qual seria o privilegiado?
Essa hipótese é quase dolorosa! Consigo desfazer-me de tudo, menos de livros! Mas, a ter que ser, e nesta fase da minha vida, escolheria um clássico – “O Monte dos Vendavais” de Emily Brontë -  por razões pessoais, porque considero ser uma das mais belas histórias da época vitoriana, e por interesse académico na vida das irmãs Brontë.

Se tivesses de escrever num género literário diferente, a qual desafio te proporias?
Gostaria muito de escrever peças de teatro, já que também é um género literário ao qual recorro, muitas vezes, para leitura e deleite. 

O que é que os leitores podem esperar de ti para o futuro?
Os meus leitores poderão esperar muitas mais publicações minhas, enquanto eu puder. Tenho já um conto escrito, ainda em fase de avaliação de uma editora. É um conto realista, que aborda a promiscuidade, a realidade de bastantes mulheres que se escondem na sombra de um ser que não querem ser. O conto tem um fim surpreendente e cáustico. A par disso, tenho também um conto de Natal a ser publicado numa Antologia de Natal, ainda este ano. 

Descreve-te numa palavra:
Sensível.