Nascido em 84, na madrugada de 12 de fevereiro, em Faro, trouxe consigo uma vontade de criar sem saber ao certo o quê. Uma alma inquieta desde sempre, encontrou na escrita o veículo para a sua inquietude. Pensar histórias e personagens é o seu estado natural e construiu ao longo dos seus 33 anos, uma longa família desde vampiros, piratas a seres de outros planetas. Tentou por várias fases da sua vida, negar a sua agitação com o mundo, mas sempre falhando, acabou por aceitá-la como parte de si.
Hoje cria histórias, tanto para o cinema, como televisão e futuramente em livros. É o orgulho da mãe, embora ele a ache altamente subjetiva.
Fonte: Fábio Santos

Bom dia Fábio, é um gosto enorme poder conhecê-lo melhor e apresentá-lo aos seguidores deste espaço, para começar, coloco-lhe esta questão: Como é que a escrita entrou na sua vida? Olá Letícia, obrigado por esta oportunidade em dar a conhecer o meu trabalho. A escrita entrou na minha vida sob a forma de uma máquina de escrever, daquelas bem clássicas, do meu avô, quando tinha onze anos. E entrou na minha vida como forma de arquivar e filtrar todas as histórias que criava na cabeça.  

O que é que a escrita mudou em si, enquanto pessoa? Não consigo dizer o que mudou em mim, dado que a escrita me acompanha desde cedo. Ainda antes da fase em que nos apercebemos de quem somos e o que defendemos. Posso dizer que me manteve em vez de me mudar. Sempre tive alguma dificuldade com a realidade e a escrita ajudou-me a escapar para sítios onde eu podia ser livre e viver tudo o que não podia na vida real. A escrita deu-me algo que ainda hoje guardo e mantenho: a capacidade de sonhar acordado.

E enquanto escritor, o que mudou? Com o tempo, ganhei a minha identidade enquanto contador de histórias, não me sinto escritor, embora escreva palavras num papel. Conto a história da minha forma singular, sem medo. Ganhei confiança nas minhas palavras e no que quero escrever. Mas esta mudança é recente, acontece ao fazer este primeiro livro, dado que dantes escrevia contos e histórias curtas, sem nunca ter batalhado a folha em branco a meio de uma história. A vitória trouxe-me maturidade, capaz de contar as lutas de uma personagem encaixando-me nos seus sapatos e conseguindo trazer para o papel as suas emoções cruas e nuas, sem dogmas da escrita ou estruturas batidas e mastigadas.

Há um ano publicou o seu primeiro livro dentro do género fantástico “Amael – A Guerra Sagrada – Vol. I”, pode falar-nos um pouco sobre ele? É um mistério que envolve seres do fantástico bíblico e de mitos antigos. Segue um anjo que embarca tudo o que somos enquanto humanos, na questão das nossas incertezas, vontades e desejos. Ainda na forma como somos largados neste planeta e nos é dito que comportamentos seguir e que entidades acreditar, ainda que por vezes tenhamos aquele sentimento que há mais que isso a fazer e a viver. O livro fala então, por meio de um mistério do qual terá vingança, de uma guerra ancestral entre anjos e demónios, sagrada por ter a permissão do céu onde ficamos a conhecer a história de três personagens que acabarão por se cruzar, graças aos desejos e falhas de cada um. Quis com esta história trazer seres do mitológico para a esfera humana e cada um deles têm comportamentos que nos conseguimos identificar facilmente. Fala de solidão, perda e justiça.

Segundo a sinopse do seu primeiro livro, a história que nos apresenta é muito diferente do que vemos habitualmente no género fantástico, o que a distingue da maioria? Acho que o autor. Vivo entre existencialismos e niilismo e creio que o nosso mais profundo ser passa pelos dedos até ao papel. Este livro ainda que seja do género fantástico é para mim, um livro que fala sobre nós e o que nos move e comigo, tem dentro de si algumas incertezas e filosofias minhas face ao desconhecido. Em segundo, talvez seja diferente pela junção de personagens de diversas esferas do mitológico, como vampiros e anjos, eles lutam entre si uma batalha antiga e não me lembro de ver outra história assim, embora o tema vampírico seja já muito comum na literatura. Tentei também, já que vivemos numa era de séries fantásticas de renome, dar um ambiente mais sério e profundo aos temas que podem muito facilmente cair no ridículo. E hoje essas séries têm esse tratamento, presenteando-nos com histórias que nos fazem sonhar, sem receio do preconceito alheio já que se tenta ser mais que dragões que cospem fogo ou feiticeiros que jogam bolas de magia contra inimigos.

Que dificuldades encontrou no processo de escrita? Neste livro, em particular, a dificuldade maior foi sentir um preconceito enraizado sobre os temas e o próprio género do fantástico. Em Portugal, não se respeita histórias deste tipo, pelo menos não na geração na qual fui criado. Hoje creio que se respeitem as séries e livros do género fantástico, porque chegam cá já com uma legião de fãs e a força dos números obriga ao respeito e quem dá uma oportunidade a essas histórias acaba por ficar fã também, sem medo de sofrer preconceito ao dizer que gosta de histórias de dragões.  Em segundo, a desmotivação. Hoje temos plataformas para publicar as nossas histórias e a capacidade de chegar às pessoas, na altura que comecei a escrever este livro não havia nada disso, então a desmotivação travava-me imenso o processo de escrever uma história que fervia na minha cabeça.

Fábio, falemos um pouco da escrita a nível emocional, o que sente quando escreve? Escrevo porque me faz sentir. Em plano de fundo, sinto uma certa libertação do corpo e um desligamento do mundo em meu redor, a música ajuda-me imenso nesse ponto. No processo de passar a história para o papel, sinto as emoções do personagem e se é uma cena de ação ou de justiça, sinto esse propósito de justiça, é catártico. Quando acabo de escrever sinto-me esgotado emocionalmente, mas limpo. Creio que seja uma forma de meditação para mim.

O que é mais prazeroso na escrita? Viver ou reviver a história que tenho na cabeça, como se de um filme se tratasse, olhando as imagens que se formam na minha mente. Uso a música para dar o ambiente pretendido e sigo no processo da escrita.

Tem algum ritual de escrita? Andar pela cidade com a música certa para a cena ou capítulo que quero escrever. Ou então durante o ginásio, na passadeira ou elíptica com a música certa para o efeito de explorar a inspiração. Antes de começar a escrita propriamente dita, sento-me e escolho a playlist certa e fico uns minutos a absorver o estado emocional que determinada música me dá e então começo a passar as imagens, conseguidas nos meus passeios ou exercício, para o papel.

Como definiria esta arte na sua vida? A escrita/criação de conteúdos é a minha identidade. Está presente na minha forma de ser e é também a partir da minha forma de ser que escrevo o que escrevo. Não conseguiria viver sem criar histórias, é-me indissociável, talvez pela forma como me liguei à escrita desde criança.

Tem hábitos de leitura? Considera importante ler para escrever bem? Conhecimento/ informação é importante, ponto. Até um romance de príncipes e princesas no meio de piratas do séc. XVI, pode se tornar mais rico, se recolhermos informações sobre os preceitos da época e a cultura juntamente com a História da altura. Com isto dito, sim, ler o que se gosta e ler muito para ganhar uma base do que gostamos e afinarmos a nossa própria identidade enquanto criadores ao conhecermos a forma de outros autores. E fazer um esforço para ler o que já se fez, ainda que não seja dentro dos nossos gostos.

Se só pudesse ler um único livro para o resto da sua, qual seria o privilegiado? Tenho uns quantos que me definiram enquanto pessoa e contador de histórias, mas um que levaria e levo para a vida é O Principezinho. Tem ensinamentos importantes sobre a simplicidade da vida e relações interpessoais, que por vezes esqueçamos e é sempre bom relembrar. “Ser responsável pelo que cativas” deveria ser um ensinamento geral passado de pessoa para pessoa.

Além da escrita, que outras paixões, nutre que o completam enquanto pessoa? Sou uma pessoa bastante comum, gosto do que os outros gostam. Gosto de ir ao cinema, tanto o comercial como o artístico, gosto de me sentar com um copo de vinho, com amigos e explorar temas ou sozinho explorando filosofias. Sou um nerd, desde da altura em que ser nerd ainda era insulto, então leio bd’s e sigo desenhadores, caminho as lojas de action figures e bd’s na cidade e faço exercício. Talvez consiga salvar este parágrafo, falando que tenho paixão pela cozinha também, gosto de fazer pratos típicos, mas com um twist. Ainda mais, desde que me tornei vegetariano, o desafio em fazer pratos saborosos e nutritivos alimentam-me esse gosto por cozinhar.

Que outros trabalhos, já realizou, no âmbito da escrita? Há uns três anos decidi levar o meu gosto pela escrita a uma carreira, então fiz um curso de argumento para televisão e cinema e desde então tenho já alguns filmes produzidos (curtas) e outros trabalhos esporádicos. Ainda espero a big break, mas creio estar num caminho sólido para encontrar o meu lugar nessa indústria.

A escrita é para si, uma necessidade ou um passatempo? É uma forma de subsistência, mas antes disso foi de porto de abrigo e hoje ainda continua como forma de escape. Não quero rebaixar o que a escrita me dá à categoria de passatempo, mas também não é uma necessidade. É uma forma de estar na vida.

Como vive o contato com o público? Pensei que sendo escritor, não teria de sair do meu quarto, mas contato com o público é uma parte importante na carreira e para quem quer fazer carreia. Sou tímido, por natureza, o que choca imenso com presenças que tenho de fazer, mas uma vez nos sítios e falando com as pessoas que me foram ver, é ótimo ver o carinho que os leitores partilham das personagens que criaste.

Como encara o processo de edição em Portugal? Poderia haver mais editoras dispostas a dar oportunidades a autores que ainda são desconhecidos. E também não limitarem o interesse às biografias; Poemas e livros técnicos. Tive a sorte de encontrar uma editora que gostou do que escrevi e quis dar o salto comigo, mas vejo que não há muita aposta, nem no privado nem no público, em ficção, o que é uma pena se olharmos para o que se passa lá fora e um livro não precisa ficar só no país de origem, pode ser traduzido e exportado levando o talento português além-fronteiras. 

Quais as suas perspetivas para o futuro? Chegar ao dia em que possa viver desta arte. Fazer outras histórias que andam na minha mente, seja em filme ou livros. Talvez ser autor convidado de um painel da Comic Con Portugal.

Tendo em conta que estamos perante um primeiro volume, quantos volumes tenciona escrever? A ideia sempre foi fazer três volumes, mas gosto da liberdade que escrever fantástico dá, então tenho em mente mais histórias dentro do universo criado no primeiro livro.

E para quando o próximo? Penso que na primavera de 2019 chegue o próximo.

Enquanto escritor, quais os objetivos que mantém? Gosto de poder contribuir, enquanto autor, para conteúdos alternativos em português. Quero fazer histórias de ficção, seja fantástico ou Sci-Fi em português e em Portugal, nas mais variadas plataformas, como BD.
Num aspeto mais pessoal, quero crescer enquanto autor, solidar a minha identidade enquanto criador e espero chegar ao nível de me poder considerar escritor.

Se tivesse de escrever noutro género literário, qual o desafio ao qual se proporia? Ando com muita vontade de escrever erotismo, com o desafio de conseguir fazer algo sem rebaixar o sexo a um ato sujo e ordinário.

E para finalizar, que mensagem gostaria de passar aos seus leitores e seguidores deste espaço? Levei mais de metade da minha vida para descobrir o que gosto de fazer, para me aperceber que sempre soube. E hoje custa-me o tempo que deixei passar. Hoje vivemos numa era que nos permite um pouco mais de liberdade para refletirmos no que nos faz feliz. Então que procurem o que gostam de fazer e vão atrás, até que os sonhos não desistem de nós, basta fechar os olhos e eles estão lá.
Obrigado pelo voto de confiança em mim e no meu livro.  E obrigado a quem perder tempo a conhecer um pouco de mim neste espaço. 

Agradeço a sua disponibilidade, fazendo votos de muitos sucessos para a sua carreira e vida pessoal. Obrigado Letícia, desejo-lhe o mesmo.



Sinopse
Um arcanjo negro chega a Lisboa no encalce do assassino da sua protegida. Uma vingança que segue há mais de duas décadas, perseguindo pistas ao longo dos anos, caminhando pelos quatro cantos do mundo como um demónio. Regressa à cidade onde a perdeu para a vingar, mas a Lisboa dos tempos modernos tem umas quantas surpresas reservadas para ele. Ele, que foi em tempos, um orgulhoso soldado do Criador na eterna Guerra Sagrada, hoje é um ser dividido entre o Bem e o Mal, a dor da perda e o prazer da vingança.
Um mistério que se estende por entre os séculos da história humana, desde do primeiro som da criação do universo à Lisboa de hoje. Três seres, um arcanjo, um vampiro e uma humana vão conhecer os dissabores da Guerra Sagrada."





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