A INCRÍVEL VIAGEM DO FAQUIR QUE
FICOU FECHADO NUM ARMÁRIO IKEA foi
um dos títulos escolhidos para me acompanhar nas férias. Recentemente adaptado
para o cinema, este romance de Romain Puértolas foi uma verdadeira surpresa.
Traduzido já para 36 países é um dos maiores fenómenos da
literatura francesa, as opiniões são imensas e dividem-se, cá no blogue, este fenómeno
juntou-se à lista dos livros lidos em 2018 com 5 estrelas. Como já sabem, só os livros que me cativam profundamente, conseguem
este estatuto, e este título – publicado em Portugal pela Porto Editora – superou-se.
Neste romance acompanhamos a história de Ajatashatru Patel, indiano e faquir de profissão, que vive de truques
baratos e burlescos, e que num determinado momento, após ver as novidades da
marca gigantesca Ikea, decide viajar a Paris
para adquirir uma cama de pregos, pela módica quantia de 99,99€,
imagine-se!
Para conseguir fazer a viagem, engana a sua aldeia, que
acreditando que está a ajudá-lo a procurar uma cura para o seu problema de
saúde, lhe oferece todas as suas economias.
Como este momento pede que se traje de gala, Lá-Estás-Tu-Na-Laracha,
veste um fato de seda brilhante e um turbante, aterrando em pleno de Charles de
Gaulle. Após uma viagem de táxi tranquila, em que burla o taxista cigano,
recorrendo a um truque da nota de cem euros impressa somente de um lado – o
mesmo taxista que também o enganara, levando-o ao Ikea mais longe afim de lucrar
mais dinheiro – Ajatashatru chega finalmente
à Ikea.
No entanto, a
cama de pregos está esgotada e a promoção findou, o que significa que
Ajatashatru precisará usar dos seus truques para obter o pouco dinheiro que lhe
falta e esperar até à manhã seguinte para levar a cama de pregos para a Índia.
Depois do fecho da loja e sem ter onde pernoitar, o faquir decide ficar
na loja, aproveitando para a conhecer melhor, mas um imprevisto, leva a que se esconda dentro de um armário, e seja
levado para a Grã-Bretanha, seguem-se países como Roma e Líbia.
A sua paixão Marie permanece em Paris, e dentre todas as
peripécias em que se viu envolvido, à viagem de avião dentro de uma mala Louis
Vuitton, à sua decisão de se tornar um escritor respeitado e deixar os truques
de faquir no passado, começando até a sua aventura nesta nova profissão,
escrevendo um conto numa camisa, Ajatashatru, divide-se entre a vontade de ser
uma pessoa melhor, conhecer o amor e regressar ao seu país para recompensar
todos os que o haviam ajudado e que, no entanto, foram por ele enganados.
Os capítulos
por serem curtos, tornam a leitura muito agradável e fluída, um dos pontos
positivos deste livro.
A narrativa
bem construída, com personagens hilariantes, diálogos inteligentes e uma
linguagem sarcástica, direta e com laivos de humor, são também pontos que ressalto.
Apesar do tom irónico com que assuntos mais importantes são
abordados, tal como os emigrantes ilegais, esta obra é na mesma medida, uma excelente reflexão – muito divertida –
que nos faz refletir enquanto lemos descontraidamente.
Parabenizo a Porto Editora por apostarem neste título, por
agraciarem os leitores com este género literário, que tanto nos ensina como nos
diverte, tal como acredito, que deva ser.
É extremamente importante falar de assuntos sérios sem que nos
sintamos mal, que nos permitam refletir sem repudiarmos a humanidade, porque os
noticiários já fazem isso diariamente, então quando lemos, procuramos estar informados do mundo e simultaneamente,
procuramos momentos de pura diversão e descontração.
Letícia
Brito
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