Amar-te foi a aposta mais errada que fiz. Paguei-a com lágrimas e sangue.
Cada noite que desesperei na cama fria que tu deverias ocupar comigo. Cada manhã que esperei pelo bom dia a sorrir que deverias ser tu a dizer-me.
É que no amor, tal como num jogo, por cada um que ganha, há sempre alguém que perde. E na nossa história – que nunca foi uma história de amor – eu sabia, desde o inicio, que estava fadada à desilusão.
Podia simplesmente, ter seguido para o outro lado da rua, ter evitado cruzar o meu passo com o teu, ter evitado que os meus olhos desesperados por ti, pousassem nos teus, tão vazios.
Podia simplesmente, ter feito outras escolhas, ter seguido outros caminhos, ter feito outros planos. Mas foste tu, desde sempre. Ainda és.
Ninguém sabe exatamente no que se está a meter quando se apaixona. 
Sabemos, parcialmente. Sabemos que em algum momento vamos chorar, gritar, e com certeza, desejar morrer. Sabemos que alguém irá escavar o mais fundo de nós, e trazer à tona, pedaços que julgávamos perdidos. Sabemos que as probabilidades de nos perdermos de nós mesmos, e ficarmos com uma ferida, são muito maiores, do que se continuarmos a nossa vida, a amar somente a pessoa que vemos no espelho, essa que devemos amar acima de todas as coisas. Mas eu nunca fui grande fã de mim mesma, e isso influenciou as minhas decisões.
Então, embora não tenhamos certezas de nada, e acabemos por entrar num jogo às cegas, a verdade é que em nós, sentimos quando é para ser e quando não é. E eu tinha um bichinho no meu peito, que me corroía a cada gesto teu, a cada palavra tua. Não é que me magoasses sempre, mas havia algo em ti que despertava o pior em mim. E quando não somos capazes de nos amar primeiramente, é difícil acreditar que os outros possam fazê-lo. Tu nunca o fizeste. E não foi por falta de amor-próprio. Eu tinha-o de sobra quando chegaste, mas tu levaste-o com uma facilidade que eu desconhecia.
Anulei-me para poder ser a melhor versão para ti. Tornei-me, afinal, a pior versão de mim. Uma versão com incertezas e um tanto masoquista.
Hoje, deixo-te ir, porque carregar o peso de ti dentro de mim, nunca foi saudável para nenhum de nós, e eu fui a única apaixonada. Nós, mulheres, deixamos sempre iludir-nos um pouco, cientes da ilusão, ainda assim, até que ponto isso nos torna mais inteligentes? Somente quando deixamos ir, e trancamos a porta, porque há portas que nunca, sequer, deveriam ter sido abertas.
“Amanhã, talvez”, dizias-me sempre antes de partires. 
Sempre foste uma pessoa de “talvez” e não há nada mais doloroso do que termos alguém assim nas nossas vidas. Fiquei nesse talvez para sempre. Muitos “amanhãs” já se passaram, e por cada novo amanhã, aumentam as minhas certezas: amar-te foi a aposta mais errada que fiz. Benditos sejam aqueles que não guardam o amor só para o dia seguinte. 

Letícia Brito