T. M. Grace, é com muita satisfação que a recebo nesta rubrica para nos dar a conhecer um pouco do seu percurso literário. Antes de mais, como surgiu o gosto pela escrita? O gosto é todo meu. Desde a edição do meu primeiro romance, Atrevo-me a Amar-te, tem sido um percurso consistente, talvez demore um pouco a escrever e a lançar os meus livros porque tenho uma vida profissional bastante preenchida mas ainda assim penso que está num bom ritmo.

O ano de 2020/2021 fugiu um pouco ao padrão já é o terceiro livro que edito neste espaço de tempo. O gosto pela escrita surgiu mais como uma forma de catarse, ainda na adolescência. Curiosamente comecei pela poesia, no entanto, um livro de poesia só saiu para o público este ano, depois de três livros de romance e um infantil, talvez porque acho a poesia uma abordagem mais intima e só agora me senti preparada para mostrar essa minha faceta poética com uma abordagem mais pessoal. Porque num romance, por vezes o autor foge um pouco à realidade e muitas vezes «esconde-se» atrás de uma ou várias personagens para passar um ponto de vista de forma a não ficar tão exposto, enquanto a poesia é uma abordagem mais pessoal e sem muito por onde fugir.

Agora prepara o lançamento do seu primeiro livro de poesia O Meu Canto. Pode falar-nos um pouco sobre este novo título? Como estava a dizer, a poesia é algo mais intimista, é a nossa voz interior, uma voz que surge do recôndito mais profundo da alma, precisamente como um canto, pode ser de alegria ou tristeza, mas não deixa de ser um canto lindo e melodioso, quando pensei no título O Meu Canto foi precisamente para dar um duplo sentido a este livro, como referência a essa voz e também ao cantinho mais intrínseco do meu ser, daí o design da capa também ir ao encontro dessa ideia.

A poesia esteve sempre presente ou é uma paixão recente? Sim, sempre presente, embora no meu ponto de vista a poesia para ser escrita com toda a emoção que ela merece, o escritor tem de estar verdadeiramente mergulhado no sentimento certo, para fazer surgir das palavras algo que desperte muitas emoções, só assim a poesia faz sentido. Acredito que só algo escrito com alma e coração, despertará outras almas e outros corações. Precisamos disso, ainda mais nos tempos que correm e a poesia tem esse poder.



Pode partilhar connosco o processo de escrita desta obra? Para mim a poesia surge de forma diferente do romance. Enquanto num romance, quando normalmente me surge uma ideia eu já idealizo mais ou menos o princípio, o meio e como irá terminar, geralmente o título surge-me logo de início, é incrível, na poesia não. Este livro além de quase todos os poemas serem inéditos, tem alguns com os quais participei em algumas antologias de várias editoras e estão devidamente identificados, mas foi um processo que foi surgindo ao sabor do vento. A poesia surge-me na sequência de uma emoção, ou de algo que me desperta para um determinado tema ou quando estou numa fase mais meditativa [no meu canto, lá está,]… Por exemplo o poema Mixórdia que é um conjunto de versos virados para o humor, [mais ou menos, depende do ponto de vista] surgiu na sequência de um comentário que vi na rede social e em cinco minutos escrevi-o e coloquei-o para quebrar um pouco a sequência de poemas um pouco mais sérios e profundos.

Como têm reagido os leitores perante o seu trabalho? O feedback que tenho recebido no romance e literatura infantil tem sido bastante positivo,  vamos ver como os leitores que estão habituados a ler-me em outras vertentes, irão reagir a esta minha faceta poética, porém as poucas pessoas que já leram O Meu Canto adoraram e fizeram críticas bastante construtivas.

Se tivesse de escrever num género diferente, a qual desafio se proporia? Gostaria de me aventurar na literatura fantástica, e penso que é algo que poderá ser viável. Porque não?

Com o que é que os leitores podem contar para o futuro? No que depender de mim e daquilo que eu posso controlar, podem esperar mais livros interessantes, até ao final do ano ou princípio de 2022 sairá um novo romance, com uma vertente que pode ferir um pouco suscetibilidades por tocar em temas um pouco mais melindrosos. Porém, penso que o meu dever enquanto escritora, além de fazer sonhar é também colocar o dedo na ferida para que todos tenhamos a perceção de que há coisas que têm de mudar e que são inconcebíveis que aconteçam em pleno século XXI.

Quer deixar uma mensagem a quem a lê? Gostaria de dizer que nunca devem deixar os seus créditos por mãos alheias, se têm um sonho, devem traçar uma trajetória e seguir caminho. Não deixar nas mãos do acaso porque como diz o coelho de Alice no País das Maravilhas, «quem não sabe para onde quer ir, qualquer caminho serve». E claro, ter foco e disciplina porque embora não possamos controlar tudo o que acontece, há muita coisa que podemos controlar, basta querer e ter confiança em si. E já agora, que façam da leitura um hábito. Um bom livro traz sempre, conhecimento, sabedoria, informação e tantas outras coisas que podemos levar como ensinamentos… E nunca se sabe quando esses ensinamentos nos poderão ser úteis na nossa vida, mesmo que à partida pareça que não.

O meu bem haja à oficina da escrita por esta entrevista e a todos quantos me leem, muito obrigada.

Cuidem-se.

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