Vitorino, seja bem-vindo a este espaço. É um gosto poder conhecê-lo melhor e apresentá-lo aos seguidores deste espaço, para começar: Como é que se iniciou na escrita? «Nasci com veia de poeta», como já escrevi; a prosa, chegou mais tarde. Mas, como tantos outros, passei anos a escrever para «a gaveta». Mas, em 1979, com 31 anos, o meu formato poético «simbiose», criado nesse mesmo ano, foi distinguido pelo júri, escolhido pela direção da Associação Portuguesa de Escritores, para atribuição do Prémio Revelação de Poesia. Ana Hatherly e Alberto Pimenta votaram a favor; Gastão Cruz, contra. O livro com essas 15 «Simbioses» e prefácio de Alberto Pimenta, foi publicado, no ano seguinte, pela já desaparecida editora Arcádia. Não me chegou nenhum eco de simpatia, excepto a de Alberto Pimenta que teve a gentileza de me telefonar. Esse gesto foi o início de uma amizade recheada de projetos «provocadores».

São inúmeros os sentimentos que nascem no âmago do escritor. Quais aqueles com que mais se identifica? A ironia e a frustração, neste caso motivada pelo estado em que o nosso mundo se encontra. Um dos conjuntos do livro Da Minha Musa Menina, (vídeo apresentação em https://www.youtube.com/watch?v=mixsWTO3Sas) chama-se precisamente «Para os Plantadores da Carência»!

O que é que a escrita mudou em si enquanto pessoa? A escrita permitiu-se ser surpreendido com coisas que, depois de postas no papel, me levaram a dizer «De onde é que isto veio?». Sempre considerei essas experiências fundamentais para o autoconhecimento, por não resultarem de um ato consciente de pesquisa interna.

E enquanto escritor, o que tem aprendido? Em relação ao meu mundo interior, consciencializei coisas relevantes, como referi na resposta anterior; quanto ao mundo exterior, sempre esteve omnipresente através da indiferença. 

Como definiria a escrita na sua vida: um passatempo, uma necessidade ou um acaso? Se «nasci com veia de poeta», repito aqui o tenho dito tantas vezes: O poeta (mesmo sendo um «fingidor»), tem de ser como as flores; dar perfume mesmo que ninguém apareça para cheirar! 

Entre 1978 e 2001 praticou e ensinou Astrologia. Esta área exerce alguma influência sobre a sua escrita. De que forma? Como é possível verificar? É verdade que em 2001 fiz uma pausa, mas, recentemente (2019) voltei ao tema, como se pode verificar no botão “Astrologia Arejada” (evito a bafienta) do baudasletras.com. A Astrologia é uma mina inesgotável de pepitas poéticas, desde que o mineiro seja perito no manejo da picareta. Foi o caso de Fernando Pessoa. Tanto quanto sei, ele foi único poeta português que intuiu e tirou partido desse potencial. Raphael Baldaya – o seu heterónimo para a astrologia – até calculou os mapas dos colegas poetas Álvaro de Campos, Alberto Caeiro e Ricardo Reis. A prova mais flagrante está no capítulo «Mar Português», do seu livro Mensagem. Neste conjunto de 12 poemas, Pessoa abordou as grandes figuras dos Descobrimentos portugueses mas... camuflou neles os tópicos essenciais dos 12 signos! E fê-lo tão magistralmente que só em meados do século XX, Paulo Cardoso descobriu o artifício. Isto levou-me a escrever, em 1998, um ensaio onde procuro mostrar de que forma os arquétipos zodiacais estão camuflados nesses poemas. Este trabalho está por publicar, mas está disponível um excerto em https://www.baudasletras.com/wp-content/uploads/a-astrologia-na-mensagem-amostra.pdf .

No livro Da Minha Musa Menina  há imensos exemplos desta relação da Poesia com a Astrologia. O capítulo 3, por exemplo, guarda O Nome do Jogo é Totalidade. Nesta obra de 1989, o Ego faz uma viagem através dos 12 signos e das 12 Casas astrológicas. Portanto 144 passos. Será “Ego 1” enquanto estiver no 1º Degrau/Carneiro, passará a “Ego 2” no 2º De­grau/Touro… e acabará em “Ego 12” no 12º Degrau/Peixes. Resta dizer que o meu “baudasletras.com” tem um botão específico (G A-P) para esta linha de trabalho, que continua a ser explorada. A sigla quer dizer “Gestos Astrolo-Poéticos”.

Desde 2019 que se dedica inteiramente à escrita. Quais são as principais atividades que desenvolve na área? Rever escritas antigas (sou um incorrigível «apurador de textos»), tanto em prosa como em poesia, e escrever outras, novas. Na Poesia, a corrente tem fluído bastante bem.  

Já publicou 25 obras de prosa e 3 de poesia. Pode partilhar connosco um pouco destes trabalhos? No caso da prosa, dada a quantidade de obras e a variedade de temas abordados, o melhor é consultar o botão “Prosa” do baudasletras.com. Mas gostaria de destacar a Operação Desatinos, de 2018. É uma narrativa (com a loucura sadia à rédea solta), das aventuras e desventuras de 10 Colaboradores Imprescindíveis – deuses de vários sectores da galáxia – que foram mobilizados para uma zona do sul da Europa onde, há cerca de 900 anos, surgiu um país que Eles logo chamaram País dos Taralhoucos. Página de apresentação em https://www.baudasletras.com/operacao-desatinos/ . 

Desses 25 livros em prosa, três deles têm temáticas astrológicas.

1) Os Amigos do Zodíaco a Caminho do Mar (2005), destinado às crianças pequenas: O carneiro, o touro, os gémeos, etc. empreendem uma jornada a caminho do mar (Peixes). Este texto está fora do mercado por falência da editora. Apresentação da obra completa, ilustrada em vídeo pela voz do autor em https://www.baudasletras.com/az/ 

2) Crónica da Incrível História do Patinho: (2005), destinado às crianças grandes. Trata-se de um pato que nasceu, viveu e morreu 12 vezes, sempre de acordo com as características dos signos. A história desenrola-se numa quinta onde também vivem o Cão Sarnento, o Gatinho Rom-Rom, o Peru Lingrinhas, a Gansa Pestanuda, o Pintainho Saranico, o Porquinho Gorducho, o Pónei Pimpolho e, nos arredores, o Mocho Sabichão. Claro que o Pai Pato e a Mãe Pata iam dando em doidos com os disparates dos seus Patinhos que, afinal, era sempre o mesmo, só que com manias diferentes! Está disponível em formato livro. Página de apresentação (com vídeo e um excerto) em https://www.baudasletras.com/cronica-do-patinho/ . Porventura a minha obra favorita, ternurenta, deliciosa e divertida. 

3) Dicionário e termos e símbolos astrológicos: Disponível em formato livro, com vasta informação sobre o tema e oportunidades para sorrir. Página de apresentação com vídeo em https://www.baudasletras.com/dicionario-de-astrologia/

Na prateleira da poesia, temos o livrinho com as referidas 15 Simbioses (1980); seguiu-se, em 1993, Os 12 Estados do Ser - o primeiro livro onde, usando o formato “simbiose” e uma picareta novinha em folha, exploro a mina do binómio Poesia/Astrologia. Esta obra (publicada pela Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro), contém 24 poemas: 12 sobre os signos e 12 de transição entre os signos. Embora fora do mercado, está disponível em formato PDF. Um excerto em https://www.baudasletras.com/wp-content/uploads/os-doze-estados-do-ser-amostra.pdf 

Publicou recentemente «Da Minha Musa Menina». O que o inspirou a escrever este título? O impulso da minha Musa Menina, evidentemente!

Pode falar-nos um pouco sobre o processo de escrita desta obra? A obra reúne vários conjuntos, escritos ao longo do tempo. No Capítulo 1, o destaque vai para a Musa Menina; o Capítulo 2 reúne poemas em formato “simbiose” (www.simbioses.org) com e sem Musa Menina. O Capítulo 3 guarda O Nome do Jogo é Totalidade, já acima referido, o qual, só por si, é uma obra completa e coerente com princípio, meio e fim. Resta dizer que o meu currículo detalhado está repartido pelos botões “Prosa” e “Poesia” de www.baudasletras.com 

Como têm reagido os leitores perante o seu trabalho?

Suspeito que haja quem goste, mas não tenho a certeza. As escassas pessoas que usam a sinalética facebookiana (e não mais do que isso) para denunciarem o seu apreço, são as que, pelos vistos, conseguem apreciar o “perfume” da minha poesia. A situação é tão incomodativa que me levou a escrever, em prosa, Sermões aos Peixes, nomeadamente às sardinhas, aos carapaus, aos bodiões e às fanecas. Estão no botão “Prosa”. A este propósito, e se me é permitido, gostaria de reproduzir aqui o poema “A arte de um ser português” (Da Minha Musa Menina, página 105):

A arte de um ser português

Tenho para mim que sou um sujeito da Palavra, com alma de poeta.

Dentro estou, portanto, de uma gruta. Mas a Lucidez não escureceu.

Um fardo cinza carrego, porque o Bom Lusitano, feito pateta,

serve a um deus manhoso que muitas vidas sem Arte lhe deu.

Posso sentir a Musa Menina entediada, mas o seu canto solto,

tudo fazendo para que, para sempre, na Beleza perdure envolto.

Este desabafo irrompe, é claro, do fundo de meu mar revolto.

Se só pudesse ler apenas um único livro para o resto da sua vida, qual seria o privilegiado? Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez. (Depois, para desanuviar e sem ninguém ver, a minha Crónica da Incrível História do Patinho)

Se tivesse de escrever num género diferente, a qual desafio se proporia? Contos!

O que é que os leitores podem esperar de si para o futuro? Do poema “José Vitorino de Sousa Bartolomeu”, do livro Da Minha Musa Menina:

Minha vontade continua a ser a de criar o que puder,

usando os Fios de Luz em que a Terra está envolta.

Descreva-se numa palavra: Bom-rapaz! Tive usar o hífen, se não eram duas palavras.

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