Diana, seja bem-vinda a este espaço. É um gosto poder conhecê-la melhor e apresentá-la aos seguidores deste espaço, para começar: Como é que se iniciou na escrita? É um prazer estar neste espaço e desde já agradeço o convite. 
A escrita foi sempre algo que esteve presente na minha vida. Inicialmente através da leitura, que sempre foi uma das grandes paixões, e, posteriormente, com a necessidade de ir mais além e de eu própria transformar pensamentos e sentimentos em algo que perdurasse para além do momento.

São inúmeros os sentimentos que nascem no âmago do escritor. Quais aqueles com que mais se identifica? Todos! Na verdade, acho que a escrita depende em grande medida do escritor sentir (ou pensar que sente) uma multiplicidade de sentimentos, para depois os transmitir através das letras para que cheguem a outros, dando continuidade a uma espécie de “cadeia de sentimentos”.

O que é que a escrita mudou em si enquanto pessoa? Não sei exatamente se a escrita “mudou” algo em mim. É algo que “faz parte” de mim. Sempre fez, na verdade.

E enquanto escritora, o que tem aprendido? Tenho aprendido essencialmente que a escrita também dá trabalho. Não é apenas um prazer, uma libertação, algo que flui ou não flui simplesmente consoante os dias. É algo que, se queremos fazer de forma relativamente consistente, exige dedicação, esforço, compromisso. Julgo que para isso não estava totalmente preparada, uma vez que sempre escrevi só porque sim, só porque me apetecia, porque sentia.

Como definiria a escrita na sua vida: um passatempo, uma necessidade ou um acaso? A definição é mutável consoante as circunstâncias em que se insere. Em muitos momentos foi uma necessidade, algo que me dava uma sensação de libertação, de companhia, de alívio até. Durante a maior parte do tempo era um passatempo que me dava prazer e com o qual me ocupava quando podia e me apetecia. De forma mais séria, foi um acaso. A publicação do livro foi isso mesmo, um acaso.

Formou-se em Medicina. Esta área tem alguma influência na sua escrita? Sendo uma parte importante da minha vida tem influência, sim. Não escrevo acerca de coisas relacionadas com a Medicina propriamente dita, como ciência. Mas as vivências como médica, quem e o que sou e sinto como médica, são também escrita, são também uma parte importante daquilo que tenho vindo a registar ao longo do tempo. 

Como concilia a escrita com a sua vida pessoal e profissional? Não sei! 😊 Há momentos em que gostava que o dia tivesse 48h. No geral rouba-se tempo de um lado para pôr no outro, mas é um processo cansativo, na verdade. Rouba-se muito tempo ao sono… Mas confesso que há dias em que simplesmente depois de tudo não há energia ou disponibilidade mental para fazer nada, nem sequer escrever.


Em julho de 2020 lançou « A Maria e o pai fazem uma Horta». Pode falar-nos um pouco sobre este título? Foi a primeira história infantil que escrevi. Foi escrita a nível pessoal, inicialmente pensada como um presente para que pai e filha pudessem guardar um momento da sua história. Depois cresceu, transformou-se, e, com as maravilhosas ilustrações da Maria Teresa Rangel, nasceu o livro.

O que a inspirou a escrevê-lo? “A Maria e o Pai Fazem uma Horta” nasceu da sensação de que existem poucos livros infantis dedicados a momentos exclusivos do pai, com interação exclusiva pai/filho(a) sem a presença da mãe. E, não desvalorizando o valor da mesma (até porque eu própria sou mãe), achei que era um vazio na literatura infantil histórias que retratassem momentos e vivências do dia a dia como momentos "apenas do pai". Numa sociedade em que a taxa de divórcio é tão relevante, com cada vez mais crianças em regime de guarda partilhada (e que passam assim rotinas e momentos banais do dia a dia a sós com o pai, sem a presença da mãe) pareceu-me uma boa ideia "oferecer" este presente aos pais que cuidam dos filhos sozinhos: uma história que os retrata no seu dia a dia real (ou passível de ser real).

Como correu o processo de escrita desta obra? A escrita em si foi bastante linear, até porque como já referi, não fazia parte do plano tornar-se um livro. Era uma história, só por si. Uma forma de guardar e oferecer um momento para recordar mais tarde.

Como têm reagido os leitores perante o seu trabalho? Tenho tido reações positivas ao livro, julgo que no geral tem sido bem recebida por quem a lê. 
Sendo um livro infantil, a ideia sempre foi ser uma leitura leve, sem grandes moralismos mas tentando transmitir ideias simples, despertando o interesse nos mais novos para que quisessem “imitar” a Maria. Nesse sentido, tem tido boa recetividade, principalmente por parte de professores e educadores. Ao transformar o plantar de uma horta numa espécie de brincadeira, apela à natural curiosidade das crianças acerca dos legumes, facilitando a sua introdução na alimentação. Na atualidade, em que que se fala cada vez mais em alimentação saudável e em que a obesidade infantil é cada vez mais um problema de saúde pública, o livro acaba por ser uma boa ferramenta didática.

Se só pudesse ler apenas um único livro para o resto da sua vida, qual seria o privilegiado? Esta é realmente difícil! Não sei se conseguiria escolher apenas um… Sinto demasiada necessidade ocasional de reler este ou aquele livro, dentre uma vasta coleção que me têm acompanhado o longo dos anos, para conseguir escolher um único.

Se tivesse de escrever num género literário diferente, a qual desafio se proporia? Um verdadeiro desafio seria um romance fantástico baseado em mitologia, que é um género literário que adoro ler. Seria algo que me daria imenso prazer escrever, mas que sai completamente da minha zona de conforto de escrita.

O que é que os leitores podem esperar de si para o futuro?
Gostava de editar um livro de crónicas ou pequenos contos.

Descreva-se numa palavra: Aprendiz.