Fátima, sê bem-vinda a este espaço. É um gosto poder conhecer-te melhor e apresentar-te aos seguidores deste espaço, para começar: Como é que te iniciaste na escrita? Desde muito cedo que comecei a ler muito e ficava fascinada pelas histórias incríveis que lia, e não era esquisita, eu lia de tudo um pouco, mas romances históricos e fantasia eram a minha perdição. Quando entrei na adolescência comecei a ser ousada e passei a imaginar e a criar as minhas próprias histórias, mas foi já na fase adulta que me aventurei a escrever obras que iam além da simples de histórias.

São inúmeros os sentimentos que nascem no âmago do escritor. Quais aqueles com que mais te identificas? Quando estou a escrever eu passo por todos os sentimentos, eu rio, eu choro, eu irrito-me e por vezes chego a ficar embaraçada. Mas aquele sentimento de quando te sentas e começas a escrever uma ideia que já tens na cabeça e, quando dás por ti, já vais na página 100 e por vezes sabes que tens de fazer uma pausa, mas não consegues parar, sentes aquela adrenalina de chegar à última página e escrever «fim»… isso é indescritível… identifico-me muito com a adrenalina que se sente por concretizar uma coisa assim.

O que é que a escrita mudou em ti enquanto pessoa? Eu não sinto que mudei, porque para mim escrever é uma coisa natural, fazer outra coisa qualquer é que não é natural. A escrita sou eu, mas no início não sabia lidar com isso e tive de aprender.

E enquanto escritora, o que tens aprendido? Escrever é um trabalho solitário e com isso aprendi a estar sozinha comigo mesma, eu já gostava de o fazer, mas agora faço-o de uma forma mais disciplinada e calma e adoro estar sozinha comigo, mesmo estando rodeada de pessoas, por isso consigo escrever onde quer que esteja, independentemente do barulho e das pessoas que me rodeiam. 

Como definirias a escrita na tua vida: um passatempo, uma necessidade ou um acaso?É uma necessidade tremenda, não imaginas o estado de frustração em que fico quando quero sentar-me a escrever e não consigo, fico com a neura, possessa. Escrever é a minha forma de estar na vida.

Nasceste na ilha da Madeira, mas foi no seio do continente, em Lisboa, que cresceste. Estes lugares tiveram alguma influência na tua escrita? Não são propriamente esses lugares, mas sim o facto de ser portuguesa é que é a maior influência, eu adoro história, qualquer história, mas a história do nosso país é completamente fascinante. O meu primeiro livro passa-se no fim da idade média em Portugal e tenho mais um livro que está a meio e ideias para outro, que focam épocas históricas do nosso país. Mas isso não quer dizer que não goste de explorar outros géneros.

Apesar de a escrita ser parte de ti desde a adolescência, começaste por trabalhar na área administrativa. O que te levou a enveredar por esta área no campo profissional? Foi por acaso, o meu primeiro trabalho foi nessa área e percebi que tinha muito jeito para isso, gosto de trabalhar com o computador e com papeis, acho que isso tem a ver com o meu lado compulsivo de que tenho de ter tudo sempre organizado e controlado.

Mais tarde, aceitaste o «chamamento» para a edição. Que obras já publicaste? Publiquei o meu livro “Glória da Humildade”, pela Chiado Editora, foi o primeiro livro, o primeiro contacto com uma editora, não estava por dentro dos meandros, mas não fiquei satisfeita com o resultado e penso reeditar esse livro, pois como falei anteriormente passa-se no final da idade média em Portugal.

Em dezembro transato lançaste Veludo com a Emporium Editora. Podes falar-nos um pouco sobre este título? O título Veludo é baseado na personagem principal, que é um médico alemão que vive na 1ª metade do séc. XX, ele tem imenso carisma e uma forma de falar hipnotizante, transmite calor humano e é doce, tem uma voz aveludada e por consequência ficou conhecido no III Reich por Capitão Veludo.

O que te inspirou a escrevê-lo? Uma vez li um texto na internet sobre uma entidade de uma religião, no meio desse texto, havia um parágrafo de 5 linhas, em que falava de um médico nazi nada simpático e da sua história com uma judia, em Auschwitz. Esta história era horripilante, mas fiquei com ela na cabeça. Poucos dias depois escrevi o capítulo 8, depois disso construí o livro em redor desse capítulo.

Podes partilhar connosco um pouco do processo de escrita dos teus livros? Quando eu começo a escrever, já tenho a história toda construída na minha cabeça, com princípio, meio e fim, depois escrevo à mão um rascunho com todas as ideias mais importantes e depois começo a escrever no computador. Para mim a parte mais importante é escrever à mão, o Veludo escrevi quase todo à mão, parece que sinto mais a história assim. E as ideias surgem-me do nada, pode ser de uma conversa, de algo que li ou se penso numa determinada situação sobre a qual gostaria de escrever, o desenvolvimento vai surgindo.

Como têm reagido os leitores face ao teu trabalho? De uma forma surpreendente, o Veludo é um livro que podemos dizer que é um pouco grande e há pessoas que me deixam mensagens a dizer que leram em dois dias, eu tenho amigos meus que adoram ler e que me ligaram a dizer que lhes tirei a noite de sono porque não pararam de ler, porque queriam saber como é que aquele personagem ia acabar.

Se só pudesses ler apenas um único livro para o resto da tua vida, qual seria o privilegiado? A Bíblia, não por motivos de religião, nada disso, mas como um livro e por curiosidade, nunca li e sempre quis ler, é daqueles livros que coloquei na lista das coisas que pretendo fazer quando um dia me reformar, se é que isso vai acontecer algum dia.

Se tivesses de escrever num género literário diferente, a qual desafio te proporias? Fantasia… aliás já me aventurei e em breve haverá novidades.

O que é que os leitores podem esperar de ti para o futuro? Muitos livros.

Descreve-te numa palavra: Persistente.