São inúmeros os sentimentos que nascem no âmago do escritor. Quais aqueles com que mais te identificas? Meu material é o sentimento humano. O amor. A dor. A alegria. O sonho. O encantamento. A conexão com a natureza e o divino.... A vida cotidiana me inspira, com toda sua rica simplicidade.
O que é que a escrita mudou em ti, enquanto pessoa? Ela me conecta com algo maior, que não sei completamente entender....
E enquanto escritora, o que tens aprendido? A disciplina. O esforço e a atenção com o que pedem as palavras. Elas, às vezes, tem de ser colocadas como peças de xadrez... Às vezes, fluem do nada e saltam na nossa frente. Apenas ajeitamos docemente. Cada escrita traz um aprendizado.
Como definirias a escrita na tua vida: um passatempo, uma necessidade ou um acaso? De início, acaso e passatempo. Hoje, necessidade e prazer.
Cursaste a Faculdade de Comunicação e trabalhaste nessa área por mais de 25 anos. Qual a influência que esta área tem na tua vida e na tua escrita? Enorme e fundamental influência. O rádio foi meu grande palco e cenário de aprendizado. Durante os 28 anos que atuei apaixonadamente na área, passando pela redação de textos, coordenação artística e musical e, principalmente, gerenciando pessoas, fui somando experiências, aprendendo com erros e acertos e conhecendo um pouco, ao menos, do complexo comportamento humano e lapidando as emoções que hoje, transformo em crônicas.
Apostaste, entretanto, na tua carreira de escritora e já publicaste até livros para o público infantil. O que te levou a seguir este caminho? O Universo já me pedia algo diferente. O meu trabalho de tantos anos no rádio já se repetia e veio , então, a aposentadoria. Foi natural essa volta às raizes literárias... Aconteceu! Ou, tinha de acontecer... Primeiro fiz um livro infantil “ Era Uma vez Uma coisinha” que estava escrito e engavetado há mais de vinte anos... Foi uma experiência importante. Mas, neste período, a Web já crescia muito e a idéia de fazer um blog de crônicas foi tomando conta de mim, de uma forma avassaladora. As crônicas me chamavam e eu fui conquistando muito público. Era palpável.
Complementando essa paixão pela escrita surgiu o blogue “Inesplicando” que dá nome a dois livros de crónicas. Podes falar-nos sobre essa experiência? Na verdade, o “ Blog Inesplicando” foi o ponto de partida de tudo. Dele surgiu o primeiro livro Inesplicando e agora, este segundo volume, com mais 60 crônicas e alguns textos inéditos. No Inesplicando cabem todos os formatos e as maneiras de tentar explicar ou Inesplicar as coisas e a vida... Acho que é o meu... “portal”!
O Inesplicando está a caminho das 200 mil visitas. O que o tornou tão especial para os seguidores? Acredito que o formato se encaixou nos anseios dos leitores da Web. As crônicas não são longas. São, até mesmo, rápidas.. Trazem uma foto, geralmente feita por mim. Sem nenhuma transformação. É tudo real. As crônicas procuram trazer uma reflexão breve do cotidiano ou de um fato ou personagem, de forma poética e, às vezes, bem humorada. O ritmo do texto vem em mim, de forma natural...
Inesplicando Vol.2 é o segundo livro que surgiu no seguimento do blogue e está agora a ser lançado. Quais as expetativas para este novo projeto? As melhores possíveis. Os leitores já aguardam o livro e esse retorno carinhoso é o grande presente e incentivo para o escritor. A Chiado Books é minha grande parceira. E quando o trabalho é acrescido de boas e vibrantes energias, tudo caminha para dar certo.
O que te inspirou a escrevê-lo? A oportunidade! Já havia material suficiente para o segundo livro. Veio a provocação da Chiado Books... -Vamos fazer o livro durante a pandemia? Eu disse... vamos!
Como têm reagido os leitores face ao teu trabalho? Maravilhosamente. Só tenho a agradecer tanto carinho, participação nas redes e envolvimento com a obra. É o meu combustível.
Se só pudesses ler apenas um único livro para o resto da tua vida, qual seria o privilegiado?Antologia Poética, de Carlos Drummond de Andrade.
Se tivesses de escrever num género diferente, a qual desafio te proporias? Romance. Pretendo fazê-lo, ainda!
O que é que os leitores podem esperar de ti para o futuro? Nem mesma sei.. São tantas portas que se abrem, sem eu ao menos esperar... O futuro, hoje, nos escapa à compreensão. Mas se as portas forem boas, claras e tiverem um propósito maior... Acreditem.... eu vou entrar!
Descreve-te numa palavra: Ines...plicável
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