Inês, sê bem-vinda a este espaço. É um gosto poder conhecer-te melhor e apresentar-te aos seguidores deste espaço, para começar: Como é que te iniciaste na escrita?                              Eu ingressei na Faculdade de Comunicação de Santos, vinda da capital, São Paulo, em 1979, início do processo de redemocratização brasileiro e encontrei um cenário cultural acadêmico efervescente. Os estudantes e professores se espalhavam pelos corredores e bares próximos da faculdade para falar de livros, política e artes...  Logo depois, veio o movimento Diretas já! E foi dentro desse rico cenário cultural e pela influência de dois amigos Raul Christiano ( ex-secretário da Cultura de Santos) e do jornalista Rafael Marques , que fui levada a escrever meus primeiros versos... Fiz parte do Movimento Picaré de poesia Independente que teve muita repercussão, assim como toda a “poesia marginal” da época, no Brasil. Fiz meu primeiro livro de poesias “Sol da Noite” Edição Picaré em  ‘82 e, para nossa surpresa, fomos convidados a participar da Bienal de São Paulo em ‘84... Não tínhamos stands, obviamente, era tudo improvisado, como queríamos que fosse. Esse era o sentido, o formato não acadêmico e a independência do movimento. Comecei assim...   

São inúmeros os sentimentos que nascem no âmago do escritor. Quais aqueles com que mais te identificas?                                                                                                                                            Meu material é o sentimento humano. O amor. A dor. A alegria. O sonho. O encantamento.  A conexão com a natureza e o divino.... A vida cotidiana me inspira, com toda sua rica simplicidade. 

O que é que a escrita mudou em ti, enquanto pessoa?                                                                        Ela me conecta com algo maior, que não sei completamente entender....

E enquanto escritora, o que tens aprendido?                                                                                         A disciplina. O esforço e a atenção com o que pedem as palavras. Elas, às vezes,  tem de ser colocadas como peças de xadrez... Às vezes, fluem do nada e saltam  na nossa frente. Apenas ajeitamos docemente. Cada escrita traz um aprendizado.

Como definirias a escrita na tua vida: um passatempo, uma necessidade ou um acaso?                    De início, acaso e passatempo. Hoje, necessidade e prazer.

Cursaste a Faculdade de Comunicação e trabalhaste nessa área por mais de 25 anos. Qual a influência que esta área tem na tua vida e na tua escrita?                                                          Enorme e fundamental influência. O rádio foi meu grande palco e cenário de aprendizado. Durante os 28 anos que atuei apaixonadamente na área, passando pela redação de textos, coordenação artística e musical e, principalmente, gerenciando pessoas, fui somando experiências, aprendendo com erros e acertos e conhecendo um pouco, ao menos, do complexo comportamento humano e lapidando as emoções que hoje, transformo em crônicas.

Apostaste, entretanto, na tua carreira de escritora e já publicaste até livros para o público infantil. O que te levou a seguir este caminho?                                                                                      O Universo já me pedia algo diferente. O meu trabalho de tantos anos no rádio já  se repetia e veio , então, a aposentadoria. Foi natural essa volta às raizes literárias... Aconteceu! Ou, tinha de acontecer...  Primeiro fiz um livro infantil “ Era Uma vez Uma coisinha” que estava escrito e engavetado há mais de vinte anos... Foi uma experiência importante.  Mas, neste período, a Web já crescia muito e a idéia de fazer um blog de crônicas foi tomando conta de mim, de uma forma avassaladora. As crônicas me chamavam e eu fui conquistando muito público. Era palpável.

Complementando essa paixão pela escrita surgiu o blogue “Inesplicando” que dá nome a dois livros de crónicas. Podes falar-nos sobre essa experiência?                                                                Na verdade, o “ Blog Inesplicando” foi o ponto de partida de tudo. Dele surgiu o primeiro livro Inesplicando e agora, este segundo volume, com mais 60 crônicas e alguns textos inéditos. No Inesplicando cabem todos os formatos e as maneiras de tentar explicar ou Inesplicar as coisas e a vida... Acho que é o meu... “portal”!

O Inesplicando está a caminho das 200 mil visitas. O que o tornou tão especial para os seguidores?                                                                                                                                                Acredito que o formato se encaixou nos anseios dos leitores da Web.  As crônicas não são longas. São, até mesmo, rápidas..  Trazem uma foto, geralmente feita por mim. Sem nenhuma transformação.  É tudo real. As crônicas procuram trazer uma reflexão breve do cotidiano ou de um fato ou personagem, de forma poética e, às vezes, bem humorada. O ritmo do texto vem em mim, de forma natural... 

Inesplicando Vol.2 é o segundo livro que surgiu no seguimento do blogue e está agora a ser lançado. Quais as expetativas para este novo projeto?                                                                          As melhores possíveis. Os leitores já aguardam o livro e esse retorno carinhoso é o grande presente e incentivo para o escritor. A Chiado Books é minha grande parceira. E quando o trabalho é acrescido de boas e vibrantes energias, tudo caminha para dar certo.

O que te inspirou a escrevê-lo?                                                                                                                A oportunidade! Já havia material suficiente para o segundo livro. Veio a provocação da Chiado Books... -Vamos fazer o livro durante a pandemia?  Eu disse... vamos!

Como têm reagido os leitores face ao teu trabalho?                                                              Maravilhosamente. Só tenho a agradecer tanto carinho, participação nas redes e envolvimento com a obra. É o meu combustível.

Se só pudesses ler apenas um único livro para o resto da tua vida, qual seria o privilegiado?Antologia Poética, de Carlos Drummond de Andrade.

Se tivesses de escrever num género diferente, a qual desafio te proporias?                                Romance. Pretendo fazê-lo, ainda!

O que é que os leitores podem esperar de ti para o futuro?                                                              Nem mesma sei.. São tantas portas que se abrem, sem eu ao menos esperar...  O futuro, hoje, nos escapa à compreensão. Mas se as portas forem boas, claras e tiverem um propósito maior... Acreditem.... eu vou entrar! 

Descreve-te numa palavra:                                                                                                            Ines...plicável