Fernando, sê bem-vindo a este espaço. É um gosto poder conhecer-te melhor e apresentar-te aos seguidores deste espaço, para começar: Como é que te iniciaste na escrita?Para mim, a beleza da escrita chegou suspirosa, espontânea.  Devo ter escrito o meu primeiro conto numa antiga máquina de escrever de meu pai.  Na escola, nos cursos de inglês, minha orientação foi ganhando corpo, inclusive de uma forma experimental que me acompanha até o presente.  Mas iniciar na revelação que é a escrita foi como um suspiro – puro e inocente.

São inúmeros os sentimentos que nascem no âmago do escritor.  Quais aqueles com que mais te identificas?            Bem, eu acredito fundamentalmente na minha Voz de Escritor.  Achar essa voz demorou um tanto na fase adulta.  Urgia em mim, nos meus primeiros livros, uma necessidade de significar.  Este para mim foi o “x” da questão inicial.  Mas a minha produção ganhou corpo e, hoje em dia sou um Artesão mesmo, alguém que pensa e faz.

O que é que a escrita mudou em ti, enquanto pessoa?                                                                          À medida que me tornei mais profissional, passei a atinar mais a questão da Arte em si, respeitando mais o seu valor de Existência em si.  Advoga-se também a leitura de Nietzsche em “O Nascimento da Tragédia”.  Seu retrato interno é de um poderio avassalador.

E enquanto escritor, o que tens aprendido?                                                                                    Tenho aprendido um certo sentido de responsabilidade.  Não se pode escrever qualquer coisa.  Ao mesmo tempo, é preciso imprimir nossa marca, o que é para poucos mesmo.

Como definirias a escrita na tua vida:  um passatempo, uma necessidade ou um acaso?        Escrever, e escrever justamente em Portugal, é sem dúvida um privilégio.  Mas acima de tudo é uma necessidade, uma carência e uma profissão.  Em tempos tão fortuitos, é sim, uma válvula de escape, um meio de sobrevivência intelectual.  Vem, é bom que se diga, de uma ordem de valor.  A leitura já não era suficiente.  Era preciso por “as mãos na massa”.

Formaste-te em Comunicação Social.  Esta área teve alguma influência na tua escrita?             Sem dúvida constituiu e constitui parte da minha mundivisão. O padrão de ensino era mesmo muito bom.  Sou grato a professores como Maria Cláudia e Bernardo pelos ensinamentos.  Inconscientemente, o karatê também foi bastante responsável pela formatação da minha escrita.

COMPRAR LIVROS

Entre 2018 e 2019, publicaste três livros; dois de ficção e uma bio.  Podes falar-nos dessas publicações e de como correram essas experiências?                                                                      Olha, meus escritos permanecem atuais.No caso, foi uma primeira mexida no caldeirão de informações que eu tinha acumulado.  Ser um escritor freelancer é algo venturoso e isto está registrado em meus livros.

Agora trabalhas na edição de uma nova obra “A máscara”.  O que te inspirou a escrevê-la?     Veja bem, uma coisa eu aprendi:  Não se pode ficar parado.  É a morte.  Agora,  “A máscara” vem de observações profundas da natureza das coisas.  É uma resposta a essa Pandemia, claro, e é uma extrapolação de minhas leituras.

Como têm reagido os leitores face ao teu trabalho?                                                                        Acho que com um grande respeito pela natureza do ofício, em primeiro lugar.  Há os que não compreendem.  Há os que amam e há os que veneram.  O jogo é assim.  Respeito meus leitores e a sua inteligência e meu foco principal é aquele leitor maravilhoso, distante de meus olhos e até de minha análise.  Esses observadores da vida são os que mais me interessam.

Adaptas-te com facilidade aos diversos géneros literários ou requer muita pesquisa e esforço?        Adapto-me relativamente bem.  Mas a minha respiração literária é bem autoral e não vejo como ser diferente.  Após muitos anos de tratamento da esquizofrenia publiquei pela Chiado Books o livro “Psicologia para líderes de visão”.  Requereu muito esforço e pesquisa e é algo mais científico, portanto, menos autoral nos sentido lato.  Além de ficção e da psicologia, circundo nas margens da filosofia e do Marketing, como se vê em “A MÁSCARA”.  Adapto-me bem às redes sociais também.

Se só pudesses ler apenas um único livro para o resto da tua vida, qual seria o privilegiado?     Pois bem, capciosa questão.  Em nome da minha adolescência, levaria os volumes de “Príncipe Valente”, coisa que me deu muita alegria e prazer.  Sem dúvida uma obra ainda  um pouco subestimada.  Na fase mais adulta, consideraria “Zen e a Arte da Manutenção das Motocicletas” uma bela apresentação à filosofia. Entretanto, como cinéfilo, ficaria com “Limite” – de Mário Peixoto e “O Encouraçado Potenkim”, de Eisenstein.

Se tivesses de escrever um gênero diferente, a qual desafio te proporias?                                      Não sei, realmente.  Não planejo minha carreira literária assim.  Dizer qualquer coisa a respeito não me cairia bem.  Lembram-se? Sou um escritor autoral e é a isso o que me proponho.

O que é que os leitores podem esperar de ti no futuro?                                                                          Mais escrita, mais pensamento, propostas e uma Revolução Copernicana em que os brasileiros pouco a pouco estão percebendo.

Descreve-te numa palavra:                                                                                                              Amém.