Jorge, sê bem-vindo a este espaço. É um gosto poder conhecer-te melhor e apresentar-te aos seguidores deste espaço, para começar: Como é que te iniciaste na escrita?
A paixão pela escrita foi despoletada pela minha paixão pelo cinema. Foi a vontade de materializar os filmes que queria realizar que me fez começar a escrever, tinha 13 anos. Escrevi o meu primeiro livro algum tempo depois, uma história que nunca irei mostrar a ninguém. O escritor tem um percurso evolutivo e faz parte desse mesmo processo sabermos separar o trigo do joio. Com o tempo fui amadurecendo, tanto a nível pessoal como na escrita. Uma coisa leva forçosamente à outra, desde que não desistamos pelo caminho. O que ficou foi uma escrita muito visual, por força dessa paixão pelo cinema.
São inúmeros os sentimentos que nascem no âmago do escritor. Quais aqueles com que mais te identificas?
O principal sentimento é o da vontade de provocar. As minhas histórias escondem sempre segundos sentidos e o final é sempre inesperado, como convém numa linguagem cinematográfica.
O que é que a escrita mudou em ti, enquanto pessoa?
Vejo a escrita como uma forma de conseguir exprimir o meu lado criativo. Tenho uma imaginação fértil, talvez excessivamente fértil. Tudo pode ser motivo para uma história. A escrita permite saciar essa necessidade – completa-me.
E enquanto escritor, o que tens aprendido?
Não me posso, para já, considerar um escritor. Sou, apenas, um contador de histórias que por vezes publica livros. Este é um percurso relativamente recente na minha vida, ainda estou a aprender a lidar com esta realidade. A primeira lição, aquela que mais custou, foi ter perdido todas as ilusões e considerar a escrita como um trabalho.
Como definirias a escrita na tua vida: um passatempo, uma necessidade ou um acaso?
A escrita é uma necessidade absoluta. Mesmo quando não estou a escrever, estou a delinear novos projectos.
Em 2012 frequentaste o curso de escrita criativa dinamizado pelo Pedro Chagas Freitas, e participaste em cinco campeonatos de escrita. Como correram essas experiências?
Foram experiências decisivas e enriquecedoras. A escrita é uma actividade onde nos isolamos muito e tendemos sempre a não ter a clara noção daquilo que somos, para onde queremos ir e o real valor do que escrevemos. Temos de ter a coragem de assumir os nossos defeitos, de tentarmos progredir e, mais importante ainda, de mostrar aos outros o nosso trabalho. Só assim conseguimos evoluir. Adquirindo técnicas, partilhando o nosso trabalho e tendo a humildade para aceitar críticas. Tive críticas demolidoras e rasgados elogios – ambos foram assimilados da mesma forma.
De que forma a participação nestes desafios influenciaram as obras que publicarias mais tarde?
Os desafios deram-me confiança. No primeiro desafio estive em primeiro lugar até ao último texto, onde perdi por um ponto. Não desisti. No segundo desafio estive novamente em primeiro lugar durante nove semanas até que voltei a perder na última semana, novamente por um ponto. Não me deixei afectar – fiz bons amigos nesses campeonatos e isso é melhor do que qualquer prémio.
Foi em 2014 que te aventuraste pela publicação com o livro “DEZ” e um ano depois fizeste uma edição de autor com uma antologia de textos dos campeonatos acompanhados pela fotografia, uma área que também te apaixona. Como surgiu a ideia para publicar algo desse género?
O DEZ foi a materialização do meu sonho de publicar um livro. Teve origem num exercício de escrita criativa. Uma pequena frase no meio do quadro que foi crescendo na minha cabeça, germinando uma história que continua a ser considerada, ainda hoje, o meu melhor trabalho. Talvez tenha sido uma maldição: todos os livros seguintes são sempre comparados com esse, e é difícil voltar a repetir uma primeira paixão. Com cada novo projecto tenho a sensação estranha de estar a competir comigo próprio.
“Fragmentos” foi uma experiência de uma edição de autor. Queria sentir o trabalho envolvido na publicação. Aliei a minha paixão pela fotografia aos meus conhecimentos de artes gráficas. Escolhi alguns dos textos que levei aos campeonatos. Foi uma experiência enriquecedora a todos os níveis. Permitiu, por exemplo, fazer das apresentações exposições fotográficas e mudar a lógica das mesmas, aumentando a interactividade entre o autor e o público com a leitura de passagens do livro.
Em 2017 publicaste também o romance “Gente Aparentemente Normal” e agora lanças pela Amazon “Mesmo que a morte nos separe”. Podes falar-nos um pouco sobre este título mais recente?
Quando escrevi o DEZ, em 2013, escrevi em paralelo Mesmo que a morte nos separe. Ambos são viagens no tempo: em DEZ conto a história de um homem centenário cuja vida coincide com o século XX. Em Mesmo que a morte nos separe fazemos uma viagem aos anos sessenta, pela diáspora da emigração portuguesa. O livro tem por cenário Angola, França e o Brasil. Foi idealizado como sendo um complemento do DEZ, o segundo volume de uma trilogia cujo terceiro volume já está a ser idealizado.
Como têm reagido os leitores face ao teu trabalho?
A reacção tem sido bastante positiva, mas tenho a noção de que tenho muito ainda para aprender e muito para melhorar. É um sentimento que espero nunca perder.
Para além da publicação, também dinamizas “A velha escrita”, uma tertúlia mensal que decorre em Braga desde 2012. O que te levou a enveredar por este caminho?
Sou apenas um dos membros fundadores. O projecto nasceu a partir de alguns participantes do curso de escrita criativa do Pedro Chagas Freitas. Tinha ficado a vontade de continuarmos a escrever juntos, para contrariar aquele sentimento de isolamento que é tradicional em quem escreve. Cada sessão é, precisamente, o contrário. Escolhemos um tema no momento e escrevemos sobre esse tema durante a hora seguinte. A pressão é enriquecedora e o sentimento de partilha ainda mais. O evento é aberto, pode ser seguido pelo facebook e ficam todos convidados a participar.
És também membro do coletivo Pentautores e participas ativamente em antologias e grupos de escrita de contos. Como concilias esta paixão pela escrita com a tua vida pessoal e profissional?
Excelente pergunta. Estou tentado a responder com outra pergunta: “que vida pessoal”? Tenho a sorte de ter uma família fora de série e tento sempre o equilíbrio. O tempo que lhes roubo tem de ser compensado. Mas não é simples. A vida profissional é essencial, porque a actividade da escrita não consegue pagar as despesas.
Se só pudesses ler apenas um único livro para o resto da tua vida, qual seria o privilegiado?
Seria “O livro em branco”. Assim podia escrever as minhas histórias e não ficaria em branco por muito tempo.
Se tivesses de escrever num género diferente, a qual desafio te proporias?
É uma questão complicada. Já escrevi contos de terror, livros de ficção científica, o DEZ pode ser considerado erótico, já escrevi argumentos para filmes e para banda desenhada, textos humorísticos, notícias e artigos técnicos. Como não tenho grande jeito para a Culinária, o maior desafio talvez fosse a poesia.
O que é que os leitores podem esperar de ti para o futuro?
Os leitores podem esperar o inesperado. Em termos de livros, os projectos já estão idealizados, guardados numa pasta no computador à espera da altura certa para serem iniciados.
Descreve-te numa palavra:
Provocador
0 Comentários