Ramalho, sê bem-vindo a este espaço. É um gosto poder conhecer-te melhor e apresentar-te aos seguidores deste espaço, para começar: Como é que te iniciaste na escrita?
Desde muito cedo, quando ingressei nos primeiros anos escolares, que passei a ter contatos com cadernos, lápis e livros, e descobri que a leitura tem a capacidade de nos transportar para outro mundo, passei também a querer recriar o meu mundo através da escrita. Certo é que não tinha ainda a concepção de recriação de mundo, mas, sim, uma vontade de rabiscar palavras nas linhas de meu caderno para formar frases que falassem das pessoas que me eram próximas (mãe, irmãs e irmão, tios e tias e amigos e amigas). Éramos de família pobre, com poucos recursos, mas sempre conseguimos comprar alguns gibis – A turma da Mônica, O Tio Patinhas e outros – que depois de lidos eram trocados com colegas da escola. Mais tarde, por influência de um tio marteno que até hoje é colecionador, passei a ler as sagas de Tex Willer e de Zagor, histórias em quadrinhos na forma de gibi de origem italiana, mas que retratam o faroeste amaricano. Depois, já na adolescência, passei a ler histórias como Sabrina, Bianca, Romance com coração e outras que minha irmã mais velha lia. Na escola passei a ter contato com os poemas de Cecília Meireles e de Carlos Drummond de Andrade. Também tive contato, através da escola, com a série Vagalume, uma coleção de livros infanto-juvenis de diversos autores, que retratavam avanturas variadas. Foi nesse contexto que peguei o gosto pela escrita. Foi a partir daí que comecei a me apaixonar pelos versos e pelos poemas. De certo que, por volta dos meus oito anos foi que comecei a rabiscar meus primeiros acrósticos, mesmo sem saber o que era realmente um acróstico; apenas rabiscava o nome de minha mãe ou de alguma pessoa que me era próxima numa folha de papel, de forma vertical, e ficava tentando encontrar palavras com aquelas letras para formar meus versos. Que pena que aqueles poemas simples não resistiram ao tempo, se perderam nos anos de minha vida. Como aconteceram com outros poemas, compostos bem mais tarde, de forma bem mais elaborada, mas que também não resistiram aos anos que foram passando, perdendo-se pelos caminhos de minha vida.

Qual o sentimento que te domina quando escreves?
Quando estou a escrever penso numa forma de tornar meu escrito em algo que seja capaz de ser lido pelas pessoas; mas, muito mais do que uma simples leitura, desejo que aquilo que estou produzindo possa impactar as pessoas que lerem. Escrever poema é trabalhar a poesia que existe em nossa volta. Para tanto, exige-se de quem se dispõe a tal ofício muita percepção. Observação, percepção, moderação e equilíbrio mental são qualidades que precisam estar atreladas ao sentimento do poeta na hora que ele está escrevendo. Assim, o sentimento que me domina quando escrevo é a calma, a tranquilidade, a paciência. Na verdade, sou calmo por natureza; e procuro agir dessa forma quando estou a escrever.

O que é que a escrita mudou em ti, enquanto pessoa?
Sou um apaixonado pela leitura. Sempre estou lendo sobre diversos temas e muitos autores. E sempre procurei incentivar as pessoas que me cercam para o gosto pela leitura. Acredito que este hábito tem transformado a minha vida. A leitura tem feito que eu me torne uma pessoa melhor. E, através da leitura, também passei a escrever melhor, com mais qualidade. Mas, escrevendo é possível fazer uma reflexão da vida. Na minha forma de olhar o ato de escrever, penso que quando colocamos sentimentos no papel – seja através de um diário, de um poema ou de um texto em prosa – estamos nos expondo para determinado público, mas também para nós mesmos. E essa reflexão faz que nos tornemos seres melhores. Eu aprendo também relendo os meus escritos.

E enquanto escritor, o que tens aprendido?
A vida é um aprendizado diário. Estamos sempre aprendendo com os outros, e nos aprendendo, nos renovando. Partindo desse ponto de vista e comparando o que eu escrevia no passado com o que escrevo agora, verifico que passei por um processo de evolução. Ainda tenho muito a melhorar, mas estou bem melhor que antes. 

Como definirias a escrita na tua vida: um passatempo, uma necessidade ou um acaso?
Escrevo por necessidade. Muitas vezes já pensei em desistir de escrever, mas logo vem aquele desejo impulsivo que faz com que eu volte a escrever. Não é a necessidade de estar todo dia a escrever e depender da escrita para a minha sobrevivência; isso, não. Olhando por esse foco, a escrita em minha vida passa a ser um passatempo. Sim, escrevo com objetivo principal de agradar a mim mesmo, aos familiares e aos amigos e amigas; escrevendo sempre as horas vagas, sem aquele compromisso de ter que aprontar este ou aquele texto para ser avaliado.

Ainda jovem ingressaste na Polícia Militar. Este trabalho teve algum impacto na tua escrita?
Acredito que estamos sempre em formação, nos transformando por meio das pessoas que passam em nossas vidas. E nos vinte e cinco anos que trabalhei na Polícia Militar do Paraná tive o privilégio de conviver com muitas pessoas dentro e fora da caserna; muitas amizades que são conservadas até hoje. A Polícia Militar me deu a oportunidade de conhecer boa parte do território do Estado do Paraná. Tudo isso, mesmo que de forma imperceptível, ajudou na formação da pessoa que sou agora. Com isso, ajudou também na minha escrita, na minha forma de pensar, na minha maneira de olhar para o horizonte. Escrevi poucos textos relacionando a minha vida com a Polícia Militar; apenas dois poemas póstumos: o primeiro com o título de “ROGO”, escrito em 1995, que fala da morte em serviço de um amigo policial, este poema sendo publicado no livro “SONHOS E INSPIRAÇÕES DE UM POETA”, e o segundo, com o título de “O NOSSO DEVER”, também falando da morte de um amigo policial que faleceu em serviço, escrito em 2011. Este segundo é um acróstico. Tanto o primeiro como o segundo foram escritos no dia exato do falecimento dos policiais e foram distribuídos, em cópia, para as pessoas que participaram das cerimônias fúnebres.
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Publicaste o teu primeiro livro em 1995. Podes falar-nos um pouco sobre essa experiência?
Em 1995, trabalhava na capital do Estado do Paraná, Curitiba, e quando estava de folga, por gostar de arte, andava pela Boca Maldita a apreciar os quadros que pintores diversos ali iam para expor. (A Boca Maldita é um local na capital paranaense onde todo tipo de artista, artesãos de um modo geral, expõe seus trabalhos). Ali fiz amizade com um dos pintores, CARLOS ALFREDO BRITO, com o qual conversamos muito sobre poesia e tive a oportunidade de lhe apresentar alguns dos meus textos. Ele se interessou muito pelos meus poemas e se encarregou de organizar os poemas para o livro. Foi ele também o responsável pela ilustração. O livro foi publicado pela gráfica Quetão de Opinião, órgão que fazia parte do movimento artístico chamado Beco da Arte. Na época, escrevia sem pretensão alguma de publicar algo, mas foi uma experiência inusitada. Ver alguém folheando o seu trabalho reunido em um livro é algo de uma emoção sem conta. Na época, o Carlos organizou também uma noite de autógrafo que foi muito emocionante. 

Este mês publicas a tua terceira obra, A musa pede um soneto. O que te levou a esta nova publicação?
Então, depois da primeira publicação, voltei a trabalhar na cidade de Foz do Iguaçu. Em Foz, mantive contato com escritores locais e criamos um movimento literário na cidade – criamos a UNIÃO DOS POETAS E ESCRITORES DE FOZ DO IGUAÇU, UPEFI – Dentro desse movimento fizemos várias publicações, dentre elas, o livreto NÃO TE ESQUECEREI, de minha autoria. Isso, no ano de 1997. Em 1999, o movimento literário se desfez, e os participantes se dispersaram. Continuei a escrever; porém, sem pretensões de publicação. Mas, à medida que você vai mostrando aos familiares, amigos e amigas os seus textos, cresce o clamor para que saia uma nova publicação. Partindo desse ponto, em 2015, aproveitando o incentivo da Fundação Cultural da cidade de Foz do Iguaçu, cheguei a organizar um grupo de poemas para formar um livro que teria o título de INSTANTES SEM FIM. Nesse livreto teria sonetos, trovas, acrósticos, poemas de formas livres e um poemeto. Durante o processo para a publicação desisti de realizá-la por uma questão pessoal e de foro intimo. Enfim, chegamos à publicação dos sonetos. Sou um apaixonado por soneto. Sou apreciador da obra de Florbela Espanca – inclusive faço uma brincadeira, neste meu livro, com um de seus sonetos –, da obra de Camões, da obra de Bocage, dos brasileiros Cruz e Sousa, Bilac, Vinícius. E tento, dia após dia, a aprender escrever soneto. Com isso, pela insistência, resolvi reunir alguns dos meus sonetos para transformar em realidade o caderno A MUSA PEDE UM SONETO.

Como nasceu a ideia para este livro?
Na verdade, quis reunir alguns de meus sonetos. Como o próprio subtítulo diz: SONETOS QUE NASCERAM COM O TEMPO, eles não nasceram em um mesmo contexto, nem na mesma época. Dentro dos 85 poemas que compõem o livro, alguns foram compostos a mais de vinte anos; outros, agora recentemente. Eles foram nascendo aos poucos. O título surgiu da ideia de que o construir soneto nos remete para a poesia tradicional, a poesia inspirada pelas Musas; aquela poesia que nos remete ao passado.

Qual tem sido a reação dos leitores face a este trabalho?
As amigas e amigos, bem como os familiares, estão bastante ansiosos para ter nas mãos o livro em si. Muitas dessas pessoas já leram a maioria dos poemas. De minha parte vou organizar, juntamente com a equipe da CHIADO BOOKS, o lançamento do livro aqui na cidade de Foz do Iguaçu, no restaurante de uma amiga, que provavelmente acontecerá no dia 7 de dezembro deste ano. Quanto ao público externo, minha expectativa é a melhor possível. Acredito que vai ter uma boa aceitação, pois são poemas de leitura fácil. São poemas que falam de amor, de beleza, de sentimento.

Se só pudesses ler apenas um único livro para o resto da tua vida, qual seria o privilegiado?
A Bíblia. Para além do contexto religioso, a Bíblia é um livro histórico que narra a saga de um povo, contando suas vitórias e suas derrotas. Ela é escrita por vários autores num período de tempo de mais de 1800 anos. É uma mescla de livros poéticos, alegóricos, proféticos e narrativos. Dela é possível tirarmos uma série de ensinamentos.

Se tivesses de escrever num género literário diferente, a qual desafio te proporias?
A narrativa curta; o conto propriamente dito. Já escrevi alguns, não com a mesma determinação que escrevo poemas. Mas teria coragem de me aventurar por esses caminhos.

O que é que os leitores podem esperar de ti para o futuro?
Tenho outros poemas a serem publicados. Além de soneto, gosto de escrever trovas, acrósticos e poemas de versos livres. Também, às vezes, me aventuro na escrita de alguns contos. Quem sabe tudo isso pode ser publicado algum dia. Ah, pretendo ainda republicar o livro SONHOS E INSPIRAÇÕES DE UM POETA.

Descreve-te numa palavra:
PACIENCIOSO.