Susana, sê bem-vinda a este espaço. É um gosto poder conhecer-te melhor e apresentar-te aos seguidores deste espaço, para começar: a escrita é parte de ti e isso denota-se no teu trabalho, como é que a escrita surgiu na tua vida?

Foi sempre uma maneira natural de me expressar, sempre gostei de escrever na escola desde pequena, mas só agora senti que tinha, dentro de mim, algo que necessitava muito de passar cá para fora.



E como é que surgiu o Yoga?
Comecei a minha prática de yoga aos 19 anos de idade, e no início procurava bem-estar, boa forma, tranquilidade. Na altura estava a estudar música clássica e canto, e o yoga ajudou-me muito a melhorar a minha respiração e a sintonizar-me comigo própria, a controlar melhor o nervosismo antes da entrada em palco. Na altura era apenas o que queria, mas encontrei muito mais, uma prática que transformou toda a minha vida.



A tua formação e prática do Yoga teve um grande impacto na tua vida e na tua escrita. O que te levou a conciliar estas duas vertentes tão distintas?
O bem que o yoga me fez e o facto de me ter tornado mãe. O yoga aumento a minha sensibilidade e capacidade de conexão comigo própria e com os outros, deu-me uma visão mais global da minha própria influência e interação com o meio ambiente. Especificamente, durante a gravidez, a mulher sobre uma grande transformação ao nível físico, emocional, mental, e energético, a mulher fica ainda mais sensível no seu todo, hipersensível mesmo, e isso afecta as diversas dimensões da sua vida, começando pela relação com o seu bebé dentro de si, a adaptação à sua nova condição de mãe, e depois ao nível familiar, do trabalho, de relação com as suas amizades. É também um período em que as suas experiências, emoções e reações tornam-se informação que o bebé organiza tendo em vista o seu próprio desenvolvimento físico e psíquico, e essa informação fica registada em cada uma das suas células. O útero torna-se assim a primeira escola do seu bebé.
O yoga é uma das práticas disponíveis mais antigas e eficazes para melhorar a saúde, consciência e conexão do ser humano. E a mãe praticante de yoga torna-se mais consciente da sua transformação interior, harmoniza-se com o seu bebé, aprende a aceitar-se e a compreende a grande influência que os 9, quase 10 meses de gestação, têm no desenvolvimento do seu bebé, ajudando-a naturalmente a tomar decisões mais saudáveis, tranquilas e benéficas para si e para o seu bebé.



O que é que a escrita trouxe à tua vida?
A capacidade de informar, de ajudar e apoiar as mães que se encontrar em situações de ansiedade, stress, muitas vezes de confusão sobre os seus próprios processos físicos e psicológicos. De lhes dar ferramentas simples e eficazes para que possam ultrapassar os seus desafios. E também a capacidade de ser uma voz para os bebés que ainda estão por nascer, tão pequenos e frágeis, mas já com tanta consciência de tudo o que se passa dentro da barriga da mãe e fora,  no ambiente que a envolve.



E o que é que o Yoga mudou em ti enquanto pessoa?
O yoga ajudou-me a voltar-me para dentro, para mim, para o meu corpo, a consciencializar-me e a equilibrar as minhas emoções, a não me envolver tanto nos problemas e situações que não eram minhas. A praticar a arte de não escutar mais os outros do que a mim própria, e a ser mais saudável por mim e pelo planeta. Estamos todos conectados e o primeiro trabalho que devemos fazer é o trabalho interior, de autoconhecimento, isso influência tudo à nossa volta. Durante as minhas gravidezes o yoga ajudou-me a aumentar a minha energia disponível quando estava mais cansada, a recuperar de forma mais rápida e eficaz, e também a aceitar a transformação do meu corpo e da minha mente.
Quando passava por situações de maior tensão, que são normais na nossa vida, pude fazê-lo de forma mais serena, tranquila e, comunicando sempre com o meu bebé dentro de mim, sabendo que era mais um participante da minha vida diária, e que o devia respeitar, amar e acarinhar sempre, em todas as situações. E depois, na relação com os meus filhos, foi muito interessante observar como todo o trabalho de conexão que tinha feito principalmente na segunda e terceira gravidezes, se mantinha após o nascimento, e facilitara a minha relação com os meus bebés.
O yoga harmonizou as diversas facetas da minha vida, como mãe, filha, esposa, trabalhadora, amiga, e trouxe-me mais felicidade e alegria de viver.



Como definirias estas duas áreas na tua vida?
Para mim é apenas uma área, o yoga e a escrita são agora a minha vida, fazem parte de mim, é o meu exercício da maternidade.

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É impossível falar da tua escrita sem a associar à prática do Yoga, assim nasceu Yoga e Maternidade. Podes falar-nos um pouco sobre este projeto?
A minha primeira gravidez aconteceu em 2009, na altura já era professora de yoga e achei que tinha tudo controlado, tive os desconfortos comuns, enjoos diários, fadiga, mas continuei a fazer a minha rotina diária, em casa e no trabalho, a fazer as minhas aulas de yoga como normalmente, muito embora tivesse mudado de trabalho recentemente e sentisse alguma pressão em mostrar o meu valor. Só mesmo no final da minha primeira gravidez é que eu comecei a tirar algum tempo só para mim e para o meu bebé, a levar as coisas com mais calma. Então percebi que essa tranquilidade devia ter sido a minha prioridade durante toda a minha gravidez e eu deveria ter ouvido mais os meus próprios instintos maternos que me diziam para desacelerar, conectar e comunicar mais com o meu bebé dentro de mim. Depois veio o parto e a vida após o parto e senti que realmente não me tinha preparado convenientemente, tinha ouvido mais os outros do que a mim própria e ao meu bebé.
Devido a essa experiência prometi a mim mesma que, se voltasse a ter outra gravidez, a minha maneira de estar teria de ser diferente. Então comecei a adaptar as técnicas clássicas do yoga ao período da gravidez, e não a tentar fazer tudo como fazia anteriormente. Também percebi que a comunicação com o bebé acontece de mim para o bebé e do bebé para mim, e as necessidades do meu bebé deveriam estar em harmonia com a minha maneira de praticar o yoga. O resultado foi que na minha segunda gravidez tudo mudou, a experiência foi totalmente diferente, estava mais tranquila, mais confiante em todo o processo e na minha nova viagem enquanto mãe. Amamentei o Martim até aos 3 anos de idade, foi super tranquilo, uma viagem completamente feita a dois. E quando a terceira gravidez veio, percebi que, depois de dar tantas aulas de yoga para grávidas e ter tão bons resultados e feedback por partes de todas as mães, estava na altura de colocar todo esse conhecimento e experiência acumulados num livro prático e inspirador.



O que te motivou a publicar este livro?
Sem dúvida o nascimento da minha terceira filha e a mudança de país, hoje estou a viver na Noruega. Veio tudo reforçar o que eu já estava a sentir e a dar-me o espaço físico e psicológico que tanto precisava para a escrita. Existe também, na Noruega, um maior contato com a Natureza, uma preocupação pela harmonia entre nós e o que nos envolve, e uma proteção maior à Mulher e à Criança. Comecei a ouvir-me mais, a sair do stress das grandes cidades, para a tranquilidade, e consegui uma maior conexão comigo e com o meu bebé. Ouvi e senti mais o que se passava dentro de mim, e quando fiquei grávida pela terceira vez, achei que toda esta mudança na minha vida tinha uma razão de ser e segui o apelo para a escrita deste livro.



Falar da mulher, da gestação e do Yoga, apontando os seus benefícios quer para a mulher quer para o bebé é certamente resultado de uma grande pesquisa e de, sobretudo, muito trabalho interior. É verdade?
Acho que as mães sempre souberam da sua importância e da influência que têm na vida e no desenvolvimento do seu bebé dentro de si. É uma sabedoria antiga que passava de geração em geração. Mas nos últimos séculos passámos de famílias alargadas em que a mãe convivia com a sua mãe, tias e irmãs, para famílias mononucleares, constituídas apenas pela mãe, pai e filhos, e isso fez com que muito desse conhecimento deixasse de ser passado. As mães passaram a sentir-se mais sós, fragilizadas e com falta de capacidade para ultrapassar desafios quando eles aparecem, não só durante a gravidez mas também no parto e pós-parto, amamentação, etc.
Hoje é a ciência que avança com diversas investigações que confirmam a influência que os ambientes físicos, emocionais, mentais e energéticos têm sobre a mãe e o seu bebé, podendo fazer a diferença em como ambos irão viver a sua vida durante a gravidez, o trabalho de parto e a sua predisposição para a vida após o parto. Na conceção, os programas genéticos do ADN da mãe e do pai são transmitidos para a primeira célula do seu bebé mas, durante a gravidez, esses programas podem ser ativados ou não, ou até mesmo modificados, de acordo com a qualidade das emoções e reações que a mãe vive, bem como a qualidade do meio ambiente que a envolve.
Agora entendemos que a responsabilidade de uma mãe vai muito para além do vínculo físico (o que deve comer, beber, não fumar, etc.) e estende-se para a qualidade do que sua mente experiência, os seus pensamentos, emoções, e a sua própria visão do mundo exterior.
No meu caso, este foi sem dúvida um trabalho de investigação e consciência interior, feito comigo e com cada um dos meus filhos, um acumular também da minha experiência e vivência como mãe e professora de yoga. Adaptei as técnicas clássicas do yoga ao período da gestação, e reconheci que durante a gestação a mãe humana é também uma imitação da mãe cósmica universal, que cria, nutre e inspira este universo.

Como tem sido a reação dos teus leitores face a este trabalho?
Adoram o livro, as fotos e o seu conteúdo, os casais ficam inspirados, muita da informação nele contida não faziam ideia, e os professores estão imensamente felizes que exista um livro onde possam entender o que fazer numa aula com gestantes.



Se só pudesses ler apenas um único livro para o resto da tua vida, qual seria o privilegiado?
Fernão Capelo Gaivota de Richard Bach, marcou-me para a vida.



Se tivesses de escrever noutro género literário, a qual desafio te proporias?
Contos para crianças, sem dúvida.



O que é que os leitores podem esperar de ti para o futuro?
Já estou a trabalhar no meu segundo livro onde abordo a recuperação física e psíquica da mãe após a gravidez, sempre em harmonia com o bebé, e através do yoga claro!



Descreve-te numa palavra:
Coragem.