As Vantagens de Ser Invisível, título há muito desejado pelos leitores portugueses, chegou esta semana às livrarias, sob a chancela da Edições ASA. Este romance do autor Stephen Chbosky adaptado para o cinema em 2012 pelo próprio autor, transporta-nos para o mundo de Charlie, um jovem de 15 anos, na descoberta de si próprio, da vida e do mundo em geral.

Charlie sempre fora «invisível», mas é chegado o momento de ser mais do que um expetador e tornar-se personagem no filme da sua existência. É após conhecer Patrick e Sam, que tudo muda, ao seu redor e dentro de si, e cresce a necessidade de explorar, amadurecer, conhecer o mundo, e sentir-se infinito.

O livro é narrado através de cartas que o Charlie redige ao seu amigo especial – por amigo especial, eu depreendo que seja o próprio leitor, já que a identidade do «amigo» permanece oculta até ao final, e a leitura nos dá a sensação constante de que o Charlie conversa connosco.

Através de uma linguagem bastante acessível, correta e simples, o autor delineou um protagonista doce e puro, claro está, que o Charlie é um adolescente como tantos outros. O Charlie bebe, fuma, diz palavrões, tem atitudes parvas e envolve-se em discussões violentas – mas acima de tudo, tem um coração de ouro, ama incansavelmente, e é por isso que é tão fácil gostar do Charlie.

Acredito que, embora a narrativa não o confirme, está subentendido que o Charlie sofre de algum distúrbio, quer de personalidade ou ansiedade, isso explica algumas situações em que este jovem se envolve menos agradáveis e que culminam em crises, de choro e violência. Na verdade, temos um protagonista incompreendido, um jovenzinho que sempre se sentiu diferente, mais sensível e inteligente do que a maioria, que sofre com o suicídio do único amigo que conhecera até então e com a perda da tia Helen, a única que, segundo ele, o abraçava.

Nestas cartas, o Charlie vai narrando detalhadamente os acontecimentos do seu dia-a-dia, passado, presente e dúvidas à cerca do futuro, narra-nos os seus pensamentos, emoções e ações. Fala-nos dos seus novos amigos, das experiências novas que vai vivenciando, da relação com a família, e das asneiras, próprias da idade e próprias do Charlie.

O autor aborda temas sempre atuais – e é de ressalvar que o livro foi publicado pela primeira vez em 1999 -, nomeadamente, a violência doméstica, a saúde mental, a gravidez na adolescência, as drogas e o álcool, e até a homossexualidade.

O Charlie é um adolescente simples, a sua vida é simples também e a narrativa não poderia ser diferente, mas há que ler com a alma, retirar as lições subentendidas, refletir, acordar para conceitos que nos são tão comuns e ao mesmo tempo aos quais nunca prestamos atenção.

Este é um daqueles livros que nos marca, seja pela sua simplicidade, seja pela sua mensagem, e pelas personagens tão bem construídas. É um livro que como diria o Charlie, nos faz sentir infinitos. 

E assim, eu o descrevo também, INFINITO.

Letícia Brito