Houve uma altura – às vezes
parece que aconteceu noutra vida – que gostei tanto de alguém que
isso quase me matou.
Dito em voz alta, soa estranho, se tiver em consideração que essa dor me levou a onde estou hoje e que o meu coração está ocupado, parece que estou romantizar demasiado e a tentar transformar uma
ilusão numa história bonita de amor, mas não estou, é a verdade.
Não o escrevo para voltar as
atenções para mim, não o escrevo para mostrar ao mundo o meu lado
frágil, mas porque sei que há momentos ao longo das nossas vidas,
que a própria vida nos esbofeteia de tal forma que nos faz crer que
jamais conseguiremos nos reerguer. E eu já me senti assim.
Aprendi a chorar sozinha desde
muito pequena, porque tal como o amor, também a dor deve ser
privada, porque haveria de fazer os que me rodeiam carregar as minhas
mágoas? Porque é isso que acontece quando nos expomos, aqueles que
nos amam, perante a impotência, sentem-se na obrigação de segurar
as nossas dores nas mãos para nos tentarem aliviar, e quem dera que
fosse tão simples assim curar uma ferida.
Então de repente, dei por mim, a
dançar com a alma despida à frente do mundo, perdi o controlo de
mim e das minhas lágrimas, fiquei tão exposta que quase pensei que
jamais conseguiria recompor-me.
Perdi a conta às noites em que
caí na cama e encolhi-me como um bebé enquanto encarava o teto do
quarto, só porque sim, e escutava a minha própria respiração para
certificar-me de que ainda estava viva e então, desejava morrer.
Encarar o espelho tornou-se
impossível, não havia maquilhagem nem roupas caras que ocultassem
aquilo em que me havia tornado, um amontoado de memórias, promessas
e despedidas.
Sair com as amigas era um
verdadeiro desafio que eu nunca conseguia superar, por mais sorrisos
que desse e por mais que cansasse os meus pés a dançar numa pista,
eu estava sozinha. No meio de tanta gente, e sozinha. Como se vive
depois do amor?
E o mais doloroso nesta confusão
toda, eram as mentiras que contava a mim mesma.
Que tudo ficaria bem no tempo
certo.
Que o buraco no meu peito seria
eventualmente preenchido por outra pessoa.
Que é preciso passar pela
tempestade para descobrir o sol.
E que com o tempo aprenderia a
amar de novo, e mais do que antes.
Quando dei por mim, nem sabia se estava no meio de uma tempestade, ou se me teria tornado eu, a própria tempestade.
Quando dei por mim, nem sabia se estava no meio de uma tempestade, ou se me teria tornado eu, a própria tempestade.
E os conselhos são sempre
os mesmos, só muda o interlocutor.
Vai passar. Sair com as
amigas pode ajudar. O tempo vai curar. Precisas ser paciente.
É como um parque de
diversões, que percorres com uma perna partida, enquanto tropeças
vezes e vezes consecutivas nos teus próprios pés, até que aceitas
que está na hora de deitar fora o bilhete e dar a diversão por
terminada.
É um processo complicado
compreender que embarcaste numa viagem quando não era suposto, que
haveriam outras alturas mais apropriadas para embarcar, mas por conta
e risco, entraste sem hesitar e agora não sobra nada, percebes que
partes de ti foram perdidas no percurso e possivelmente nunca as irás
recuperar.
E a ironia disto tudo, é
que eu sabia desde o primeiro momento.
Nós sabemos sempre, quando
algo não foi feito para resultar, quando as probabilidades nem
sequer podem ser equacionadas, porque simplesmente não existem. E
mesmo assim continuamos.
Eu sabia desde sempre que
embora eu quisesse, nunca poderia querer por ambas as partes, ou
talvez podia, mas isso acabaria por destruir-me mais tarde ou mais
cedo.
Assim, os dias mais feios e
tristes da tua vida, com o passar do tempo, transformam-se nas tuas
lições mais bonitas e eventualmente aceitas que está na hora de
pegar nos teus pedaços e juntá-los outra vez, porque ninguém
poderá recompor-te além de ti mesmo.
Mesmo perdendo tanto de ti no meio
da tempestade, tornas-te mais forte, e é aqui que eu queria chegar,
ganhas uma espécie de imunidade a tudo o que vem depois. E dessa
forma, encontras a positividade em toda a porcaria que te aconteceu,
com a certeza de que irás amar de novo, mas melhor, e que as
promessas foram feitas para serem cumpridas e o amor acontece para te
dar vida e não para te a roubar.
E o mais incrível em tudo isto, é que embora acredites que um coração partido nunca se pode consertar, a verdade é que ele cura-se sozinho, no momento devido.
E cura-se de uma forma tão doce e
bonita, que num dia qualquer, passas em frente ao espelho que te
mostrava o quanto eras medonha e percebes que afinal te esqueceste de
todas as mágoas que te atormentavam.
A tua cabeça apaga o que foi menos bom, os dias, as palavras como facas, o coração partido, as fotografias rasgadas e a banda sonora da tua não-história-de-amor. E aqui tens a tua oportunidade de seres feliz, e amares novamente, desta vez, de verdade.
Não que nunca tenhas amado antes, apenas te atropelaste na tua própria confusão. É isso que as relações fazem quando menos esperamos, atropelam-nos, se forem erradas.
Neste caminho que não escolheste percorrer, acabas por descobrir conforto e amor, e outra pessoa que a mil léguas, encara o teto e olha o espelho sem esperança, irá descobrir conforto também, quiçá, no teu próprio caminho.
Os caminhos cruzam-se com um
propósito, e o tempo, se lhe deres tempo, cura tudo.
Letícia Brito
Letícia Brito
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