Vanda, seja bem-vinda à nossa rubrica A Ponta dos Dedos.

Nesta rubrica promovemos entrevistas inéditas com autores

nacionais, e cujo propósito primordial é fazer com que as

suas palavras alcancem novos leitores.


1. Para começarmos, eis a pergunta que se impõem, como é que nasceu o gosto pela

escrita?

«A minha mãe tinha o hábito de ler os sinais e placas quando em viagem para

manter a conexão comigo enquanto guiava. Esse despertar pelas palavras, letras e

línguas fez com que aprendesse inglês aos três anos e que chegasse à escola já a

saber escrever. A partir daí, aconteceu aquela época em que era moda ter amigas da

escrita em todo o mundo e percebi logo aí que me apaziguava colocar em palavras

o que vivia dentro de mim. Mais tarde, tive a minha primeira consciência do nosso

aspeto multidimensional, ao pensar na magia que acontece quando algo que vem de

dentro ter a capacidade de se materializar numa folha de papel. Aos dezassete anos

o meu irmão morreu e foi nessa altura que me lancei para os poemas, no intuito de

aliviar o que sentia, adicionando beleza ao meu estado. Ajudou muito.

Sobretudo desde 2003, tornou-se uma prática diária no sentido de me clarificar e de

me firmar como adulta consciente - das minhas emoções, sonhos e impacto no

mundo.»


2. Como surgiu o ímpeto de escrever esta obra e de a partilhar com o público?

«Tinha acabado de publicar o meu segundo livro «Poder Intuitivo» e, depois de um

período tão intenso de escrita, senti que as rotinas criadas e a criatividade infinita

precisavam de um novo leito por onde fluir. Nessa altura, estava com vontade de

abraçar uma nova relação íntima e o ímpeto consolidou-se quando entrámos em

pandemia e, de repente, fiquei confinada em casa com os meus pais. Falámos de

temas que nunca antes tínhamos tocado. Foi surpreendentemente revelador. Foi

uma confirmação de que seria a altura ideal para escrever sobre este tema que me

apaixona. Uma das razões desta paixão é a minha auto-observação a nível profundo

e achei interessante agarrar este tema com essa componente. Sobretudo desde 2011

que estudo e pratico a cura e gestão das emoções, comigo e com outras pessoas,

também em grupos. Fiz trabalho regular nesta área até 2016, o que também me deu

a oportunidade e privilégio de conhecer e descobrir as pérolas de ser-se humano.

Outra motivação que descobri ser inconsciente, ao longo do processo, foi ter um

manual para mim e outras pessoas, para permanecer em amor, em qualquer relação

das nossas vidas.»


3. Como correu o processo de escrita desta obra? Partilhe connosco um pouco sobre

essa experiência.

«Escrevi-o entre Janeiro de 2020 e Dezembro de 2021 e foi uma viagem incrível

porque decidi fazer vários workshops online com este tema e consegui ajudar

muitas pessoas nas suas relações. Criei várias parcerias que ajudaram o projeto

formativo a manifestar-se também em retiros e vários encontros regulares online.

Um dia, sem estar à espera, pois estava aberta a que demorasse mais tempo, em

plena meditação, recebi um prazo para ter pronto o primeiro esboço deste livro.

Ainda que na altura me parecesse difícil chegar a essa data já com um primeiro

esboço, consegui. Na vida própria que pulsa em cada livro, este pediu para nascer

cedo, dando-lhe um ímpeto apaixonado, diretivo e muito fluído. Em integridade

com a proposta deste livro, dei muito foco às minhas relações e completei vários

lutos que estavam por fazer ainda, de forma inconsciente: do meu irmão, do meu

filho e, de forma consciente, da minha última relação.»


4. Relações de Sonho que se tornam realidade, é uma viagem literária para aventureiros

destemidos ao encontro de relações duradouras, íntimas e verdadeiras.

De onde vem a necessidade de falar sobre as relações que precisam de ser cuidadas

e entendidas?


«A maioria das pessoas procura um laço estável e profundo com o seu parceiro e

amigos. Mas a infância perfeitamente imperfeita deixa-nos alguns traumas e padrões

que precisam ser olhados e, com muito amor, compromisso e experimentação,

transformados. Dizer sim a uma relação e a um Amor profundo, requer coragem

para abraçar os mares interiores da intimidade e vulnerabilidade. Este livro foi

escrito para quem quer navegar esses mares.»


5. Quais são os seus projetos para o futuro? Os leitores poderão contar com novas

obras e dentro do mesmo registo ou prepara algum desafio?

«Em Janeiro de 2023 aconteceu algo que mudou a minha vida. Realizei e dirigi um

sonho lúcido e a minha consciência voltou a expandir, de forma inesperada e

exponencial. Isso alterou alguns projetos e terminou outros para dar espaço ao

novo. Já há vários anos que tenho a vontade de escrever um livro para crianças e,

para além de sonhar mais lúcida também aprendi a gerar ainda mais criatividade a

partir do mundo onírico. Nesse mundo sem limites, de criatividade fresca e vívida,

nesse lugar sem máscaras e filtros, dediquei um mês a recolher informação sobre a

minha próxima aventura escrita. Conto rever todas as ideias em Maio e fluir no

sentido de dar um bom porto a este projeto bebé muito acarinhado por mim. No

Verão de 2022 revi velhas amizades e fiz novas. Uma dessas novas amizades

aconteceu com um ilustrador e é bem possível ser ele a pessoa responsável pelos

desenhos da obra. Ou seja, a magia das obras anteriores vai estar presente -

mensagens do coração, da intuição e relações de sonho que se tornam realidade.»


6. Qual a mensagem que gostaria de partilhar com quem nos está a ler?

«Em 2010 o meu filho morreu e, desde essa altura, o caminho tornou-se leve e

solto. Quem é pai ou mãe sabe do que estou «a falar». Sabe como nos dedicamos

aos nossos filhos. Depois do João Mateus ter entrado na minha vida, uma parte de

mim desapareceu: ofereci-lhe a minha criança interior. Queria dar-lhe o mundo e

esqueci-me de mim. A ida dele, ainda que profundamente dolorosa, devolveu-me a

mim e revelou-se como uma grande bênção na minha vida. Ele devolveu-me a

humanidade ao ensinar-me a amar, primeiro a ele e, depois da sua partida, a mim e

ao mundo.»