Mariana, sê bem-vinda à nossa rubrica Veia de Escritor, na qual promovemos entrevistas inéditas com autores nacionais, e cujo propósito primordial é fazer com que as suas palavras alcancem novos leitores.
Para começarmos, eis a pergunta que se impõe, como é que nasceu o gosto pela escrita?
Em primeiro lugar, quero agradecer-vos pelo convite para esta entrevista e por esta oportunidade de partilha.
Relativamente à pergunta, eu desde os tempos de escola, já gostava de escrever. Lembro-me de, na altura do secundário, ter um blogue onde partilhava textos meus. E na faculdade, nos trabalhos de grupo, as minhas colegas pediam-me sempre o retoque final na construção dos textos. Mas, o verdadeiro gosto pela escrita, numa vertente mais artística, surgiu no início de 2017. Depois de ter trabalhado durante um ano e meio rodeada de milhões de livros, em armazéns de logística, ironicamente e por força do destino ou não, comecei a escrever.
Naquela altura, a escrita funcionou como um escape para mim.
Comecei a escrever textos e poemas e, por vezes, apenas frases soltas que, no fundo, constituíam momentos de reflexão, desabafos, desejos, memórias... Um dia decidi enviar todos os meus textos e poemas para a Chiado Editora. Com o reconhecimento do potencial literário, nasceu a "Memória Perfeita do Impossível", o meu primeiro livro, publicado em 2018.
O que é a que escrita mudou na sua vida?
Na escrita foi onde eu encontrei um meio de exteriorização daquilo que sinto, que me permite fazer uma introspeção e uma análise dos meus pensamentos e da minha forma de estar na vida. Há quem vá para o ginásio para se libertar, por exemplo. Eu escrevo. Tal como também gosto de tocar guitarra, cantar, fazer caminhadas… Embora a escrita não seja a minha única forma de escape, tal como referi, talvez seja a minha preferida. E isto prende-se com o facto de eu sentir que, dos meus momentos de conflito comigo própria ou de maior suscetibilidade, nasce arte. E isso é algo de que me orgulho. A escrita veio mudar a minha vida essencialmente por isto. Descobri um talento, digamos assim, que me faz querer continuar a explorar as minhas capacidades e que funciona como fonte de motivação.
E enquanto escritora, o que tem aprendido?
Enquanto escritora, tenho aprendido a aprimorar a minha escrita e a torná-la mais atrativa, de forma a envolver mais o leitor.
Mas, acima de tudo, tenho aprendido a olhar mais para o meu interior e refletir sobre a pessoa que sou hoje. Sinto isto porque, no fundo, a escrita é a minha terapia.
Como definiria a escrita na sua vida: um passatempo, uma necessidade ou um acaso?
Eu diria que os três, honestamente. Em primeiro lugar, como referi, a escrita surge na minha vida pela necessidade que senti de exteriorizar os meus sentimentos e as minhas vivências. E isto aconteceu por um acaso, porque, na verdade, nunca foi algo que tivesse ambicionado. E acaba também por ser um passatempo, para o qual infelizmente nem sempre tenho o tempo que, idealmente, gostaria de ter para me dedicar mais a esta minha paixão.
Publicou Memória Perfeita do Impossível em 2018. Que impacto tem a escrita na sua vida?
A escrita tem um impacto positivo na minha vida. Aos vinte e cinco anos publiquei o meu primeiro livro e isso foi, com toda a certeza, dos momentos mais marcantes que tive até hoje. Na altura, os meus amigos diziam-me que eu tinha de continuar e que havia de publicar mais livros, não sabendo eu que viria a publicar o segundo livro três anos mais tarde. Isto fez crescer em mim ainda mais o gosto e a vontade de querer partilhar aquilo que escrevo.
Hoje em dia, quando me perguntam o que faço da vida, eu respondo sempre: sou assistente dentária a tempo inteiro e escritora nas horas vagas. Ou seja, assumo a escrita como uma das minhas ocupações, embora não seja a minha fonte de rendimento. Mas é algo que faz parte de mim e que eu faço sempre questão de mencionar em situações em que tenho de me apresentar. E é engraçado, porque até as pessoas que me rodeiam me definem assim: “Tenho uma amiga que é escritora.”. Isso faz-me perceber que o facto de eu escrever teve este impacto positivo na minha vida: passei a definir-me também enquanto escritora, descobrindo um novo eu, que tenho vindo a explorar com o passar do tempo.
Pode falar-nos um pouco sobre as suas obras?
A "Memória Perfeita do Impossível" foi publicada em 2018 pela Chiado Books. É um livro de textos e poemas que constitui um relato de memórias, vivências e sentimentos. Fala-nos também sobre a brevidade da passagem do tempo cronológico. Aliás, o tempo é um tema transversal a todo o livro. Até porque não se consegue viajar em memórias sem viajar no próprio tempo, não é verdade? É um livro que fala sobre o amor, sobre sonhos e sobre desejos e inquietações.
O livro “Tu és para sempre” foi publicado em 2021 pela editora Poesia Fã Clube. É um livro exclusivamente de poemas e, à semelhança do primeiro, o tema principal é o amor, a par com a nostalgia de histórias que se perderam nas entrelinhas.
Tal como já referi, depois de ter publicado o primeiro livro, os meus amigos diziam-me: “Mariana, venha o próximo!”. Quando me diziam isto, eu encolhia os ombros porque não definia a publicação de um próximo livro como meta. No entanto, a editora Poesia Fã Clube proporcionou a oportunidade de publicar um livro de poesia. E eu não podia, de todo, desperdiçá-la. Na altura, o prazo para entrega da obra era relativamente curto e eu nem sequer tinha uma obra, propriamente dita, preparada. Mas quando nós acreditamos em nós e no nosso potencial, não há prazos de entrega curtos ou qualquer outro obstáculo que nos impeça de levar a cabo o que quer que seja.
Os meus livros são compostos por textos muito pessoais, mas que, na minha opinião, são capazes de fazer reavivar vivências e sonhos dos leitores, quer do presente ou de um passado remoto.
A sua escrita é influenciada pelo mundo que a rodeia ou meramente ficcional?
Tendo em conta tudo o que já referi, penso que fica claro que a minha escrita é essencialmente influenciada pelo mundo que me rodeia. Tudo o que escrevo é muito íntimo. Os meus textos e poemas são fruto das minhas vivências.
Como têm reagido os leitores perante o seu trabalho?
O feedback que recebo, por norma, é positivo. Embora não tenha alcançado ainda um público significativamente alargado, das pessoas que me leram, recebi sempre elogios e palavras de carinho e incentivo para continuar a fazer magia com as palavras. Já cheguei a ter quem me pedisse textos por encomenda para ocasiões especiais. E isso é uma grande lisonja para mim.
Quais são os seus projetos para o futuro? Os leitores poderão contar com novas obras, prepara algum desafio?
Na fase de vida em que me encontro neste momento e por questões pessoais, infelizmente não tenho tido tempo, nem inspiração para escrever. Mas, num futuro próximo, espero voltar a dedicar-me à escrita e, quem sabe, se um dia destes não surge por aí um romance. Até já tenho algumas ideias para uma história e até mesmo um possível título para a próxima obra.
Qual a mensagem que gostaria de partilhar com quem nos está a ler?
Não posso terminar esta entrevista sem agradecer a todos os que me têm vindo a apoiar desde sempre, familiares e amigos. Quero agradecer também à Letícia e à Oficina da Escrita, pela oportunidade de divulgar o meu trabalho enquanto escritora. E quero ainda fazer um agradecimento, em particular, a uma pessoa muito especial, que tem sido o meu braço direito nesta minha caminhada pelo mundo da escrita (e não só): um grande beijinho para a minha amiga Carina, de quem já sou amiga desde que me lembro por gente; que foi quem escreveu o prefácio dos meus dois livros e que tem sido incansável em ajudar-me a fazer revisão de tudo o que escrevo e em dar-me sempre a sua crítica construtiva.
Para terminar, gostaria de deixar aqui duas passagens minhas, que surgem no início dos meus dois livros, com o intuito de poder suscitar alguma curiosidade aos leitores para lerem aquilo que escrevo.
“Sou feita de sonhos. Sou feita de memórias. Sou feita de desejos infindáveis. Sou feita de pedacinhos da gente que vive em mim. Chego a ter dúvidas se sou feita de carne e osso.”
“Escrever poesia é tornar intemporal um estado de espírito. É fazer de uma pequena conquista, um grande feito. É deixar um pouquinho de nós aos outros. É ser imortal em versos e estrofes.”
Desde já, agradecemos a sua disponibilidade para esta entrevista, esperamos que quem nos está a ler tenha gostado. Podem contactar a autora através dos contactos que iremos disponibilizar e podem adquirir a sua obra nas principais livrarias online. À autora, agradecemos pela oportunidade e por este agradável momento de partilha, fazendo votos de que o seu percurso seja marcado por sucessos em todos os planos da sua vida.
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